Muito se tem falado sobre as alterações climáticas e sobre o aquecimento global. Enquanto alguns grupos defendem estritamente que o aquecimento global é uma verdade e é provocado por acção humana, outros afirmam que tal teoria não passa de um embuste e que, apesar de haverem sinais óbvios de alterações climáticas, estas são apenas consequências de factores naturais e não por acção do homem, como por exemplo, por uma maior actividade solar.
Apesar de ser a favor da teoria de que o aquecimento global é uma verdade e de que, apesar de factores naturais e cíclicos, a poluição causada por nós tem acelerado o processo, tentarei ser o mais imparcial possível apresentando e comentando alguns factos.
Subida do valor médio da temperatura:
Apesar de haverem algumas oscilações, é indiscutível que a temperatura média do planeta tem vindo a subir nas últimas décadas, especialmente nos oceanos. Mas quem não se esquece da onda de calor de 2003? De acordo com alguns peritos, é bem possível que venhamos a ter mais ondas de calor idênticas, ou piores, e com intervalos mais próximos nas próximas décadas. Os estudos indicam que a temperatura média subiu 0,8ºC desde os inícios do século XX, mas cerca de dois terços do aumento registou-se a partir de 1980. Porém, na última década verificou-se um certo abrandamento, como se pode ver no seguinte gráfico:
Aumento da emissão de gases de efeito de estufa:
Outra variável a ter em consideração é o aumento do chamado “efeito de estufa” que ajuda a reter o calor na superfície do nosso planeta. Por um lado, o efeito de estufa é necessário para manter o calor do Sol pois, caso contrário, as temperaturas seriam muito mais baixas. Contudo, o excesso de efeito de estufa é prejudicial pois faz aumentar o calor dos oceanos e do ar à superfície da Terra. Um dos gases de efeito de estufa é o dióxido de carbono (CO2). O CO2, presente na atmosfera, tem um papel importante no processo de fotossíntese das plantas. Durante o dia, as plantas absorvem o CO2 libertando o oxigénio que nós respiramos. Por sua vez, o homem e os animais terrestres, respiram o oxigénio e libertam CO2 na expiração. As próprias plantas, durante a noite, invertem o processo foto-sintético absorvendo oxigénio e libertando dióxido de carbono. Outros processos naturais produzem CO2 como, por exemplo, vulcões, fontes termais e géiseres.
Há milhões de anos atrás, plantas e organismos que morreram deram origem a combustíveis fósseis tais como o carvão, o petróleo e o gás natural, ricos em dióxido de carbono. Hoje em dia, estes combustíveis fósseis são usados em larga escala pelo ser humano. Desde a explosão industrial, estes materiais têm vindo a ser cada vez mais usados para gerar energia através da sua combustão, o que provoca uma enorme emissão de CO2 para a atmosfera. O aumento de veículos movidos por combustão (carros, navios, aviões, …) também tem contribuíndo para um aumento elevado da emissão de CO2, provocando um aumento da espessura da camada de gases de efeito de estufa e, consequentemente, para um aumento da temperatura global. Outros factores que contribuem para estes aumentos de CO2 são o uso de fertilizantes e o desflorestamento, ambos provenientes de actividades humanas. Esta realidade tem sido defendida pelo IPCC (International Panel on Climate Change). O gráfico seguinte mostra a evolução da concentração de CO2 na atmosfera nas últimas décadas:
O gráfico mostra que, actualmente, a concentração de CO2 na atmosfera atingiu o valor de 380 ppm (parts per million), o que para muitos cientistas é um valor preocupante, principalmente para aqueles que defendem que as actividades humanas estão a ter um papel activo no aquecimento global.
Ciclo de alterações climáticas:
Por outro lado, sabemos através de estudos que estas alterações são cíclicas e ocorrem em períodos de milhares de anos, ocorrendo subidas nos níveis de CO2 e, posteriormente, descidas. O mesmo acontece com a temperatura média do ar à superfície. Alguns estudos indicam mesmo que no tempo dos dinossauros a temperatura média na Terra era mais elevada do que nos nossos tempos.
Mas será que alguma vez foram registados níveis de dióxido de carbono como os que registamos actualmente? Para obter os registos dos níveis de concentração de CO2 à milhares de anos atrás, os cientistas analisam várias camadas de gelo ou mesmo das rochas. O gráfico seguinte mostra-nos as variações de CO2 nos últimos 650 mil anos:
De acordo com este gráfico da NASA, em 650 mil anos nunca se registaram valores de CO2 superiores a 300 ppm até aos nossos dias! A partir de 1950 este valor foi ultrapassado estando agora perto dos 400 ppm.
Se cruzarmos estes dados com o aumento da poluição, gerada por nós, facilmente podemos concluir que o igual incremento destas variáveis é suficiente para não considerar este facto como uma mera coincidência. Penso que seja óbvio que exista uma ligação entre o aumento da poluição e de emissão de CO2, por actividades humanas, e os recordes de concentração de CO2 na atmosfera.
Actividade solar:
Os mais cépticos relativamente ao aquecimento global, afirmam que os registos de temperaturas elevadas nos últimos anos, estão relacionadas com um aumento de actividade solar. Muitos ainda acrescentam que o aumento da concentração de CO2 na atmosfera é uma consequência do aumento da temperatura e não o contrário.
Na verdade, as actividades solares também se têm mostrado cíclicas. Uma das variáveis que têm impacto sobre a ionosfera, uma das camadas da nossa atmosfera, é a presença de manchas solares. Estas são regiões do Sol onde ocorrem reduções de temperatura e da pressão das massas gasosas, mas que envolvem grandes actividades magnéticas, influenciando a nossa ionosfera. Porém, parece-me que há um certo consenso em que estas actividades magnéticas, que afectam as comunicações rádio e satélite, pouco ou nada contribuem para o aquecimento global.
Além disso, os dados registados sobre esta actividade solar, nos últimos anos, contrariam a ideia de que possa ser responsável pelo aquecimento global. O seguinte gráfico indica-nos isso mesmo:
Repare-se que, até 1950 parece haver alguma relação entre a temperatura e o número de manchas solares. Porém, depois de um pico verificado por volta de 1960, o número de manchas solares tem estado a diminuir, em especial a partir de meados da década de 80. Contudo, outras duas linhas continuam a subir: A temperatura e a concentração de CO2!
Outras variáveis solares, como a radiação solar, têm sido observadas. Porém, o IPCC considera que, apesar de ainda se conhecer muito pouco sobre as variações solares e o seu impacto no nosso clima, os registos das amplitudes das variações da radiação solar não são significativos comparados com o aumento dos níveis de CO2.
Mas também é verdade que, a meu ver, não temos dados suficientes para tirar grandes conclusões. Apesar de haver sinais de que a temperatura esteja a aumentar com os níveis de CO2, não sabemos se o abrandamento da subida de temperatura, verificado nesta última década, seja um possível sinal de estabilização. Como veremos mais à frente, noutro tópico, há vários modelos climáticos que apontam para um aumento da temperatura do ar nas próximas décadas, mas com variações diferentes.
Muitos tentam opor-se a estas questões afirmando tratarem-se de um embuste e indicando que não existem provas científicas que comprovem a ligação entre as emissões de CO2, por actividades humanas, e o aumento do efeito de estufa e que tal esteja a provocar um aquecimento global.
Mas se viermos a concluir que, de facto, existe uma ligação entre a emissão de CO2, provocada por actividades humanas, e que esteja a contribuir para este aumento de temperatura, o que poderá condenar o nosso planeta a consequências desastrosas, também é verdade que haverá sempre lobbies interessados em querer abafar tal verdade. Verdade ou um embuste? Penso que por daqui a uns anos iremos ter uma resposta mais concreta. Mas a confirmar-se ser verdade, poderá ser tarde demais para corrigirmos as nossas acções…
Continue a ler mais sobre este tema em: “Aquecimento Global II: As calotes polares e os oceanos“.
Referências:
- Wikipedia: Global warming, Global warming controversy, entre outros artigos diversos
- BBC The truth about climate change Part I e BBC The trush about climate change Part II
Este artigo foi escrito com a antiga grafia.
Boas Carlos!
Grande texto, consegues resumir toda a informação digamos de forma imparcial. Mas o problema de gerir a informação é sempre o mesmo: será verdade ou não? Será que dados vindos da NASA, NOAA ou GISS serão sempre elaborados/divulgados de forma correcta?
O Climagate veio demonstrar que não! Deixo um excerto abaixo:
“Esta “verdade” é incompatível com o Período Quente Medieval (em que as temperaturas foram iguais ou superiores às actuais apesar de não existirem emissões de CO2eq) e a Pequena Idade do Gelo que se seguiu. É também incompatível com o não aquecimento que se verifica desde 1998. Esconder ou suprimir estas constatações foram objectivos centrais da fraude científica agora conhecida.
Em termos científicos, o que os emails revelam são os esforços concertados dos seus autores, junto de editores de revistas prestigiadas, para não acolher publicações que pusessem em causa as suas teses ou os dados utilizados pelo grupo, recorrendo mesmo a ameaças de substituição de editores ou de boicote à revista que não se submetesse aos seus desígnios.
Ler o artigo todo em: http://expresso.sapo.pt/o-escandalo-do-climategate-e-a-conferencia-de-copenhaga=f550438#ixzz381j8YsuJ
Bem pessoalmente julgo que estamos realmente a lançar muito CO2 na atmosfera relativamente ao passado, mas como a Terra é um sistema, vai decerto corrigir esse aumento de CO2, com maior crescimento do reino vegetal (velocidade de crescimento) e aumento da área de água (a tal temível subida do nível médio da água). Mas este aumento nunca será de 1 m em 5 anos, será muito mais lento. Resumindo a lei da acção-reacção já se está a dar e o planeta vai corrigir o excesso, tenho convicção.
Como dizes esperar para ver, temos sim de reduzir alguns hábitos enraizados e reduzir ao máximo os desperdícios mas sem exagerar! Até porque se realmente o aquecimento se verificar, existe um problema muito maior que é a libertação do metano (CH4) que está retido no permafrost e nos hidretos de metano, que tem um efeito de estufa 20 vezes superior ao CO2.
Se aprovarem depois posso escrever algo nesta área.
Abraço e bom trabalho!
Nuno Mira
http://archive.noc.ac.uk/IPY/background.html
É tudo muito complexo e ainda há muito estudo (sério) a ser efectuado!