A Europa vai nua e ninguém está a ver. Recentemente, um episódio em França envolveu uma proibição de mulheres usarem aquilo que se chama um burkini para ir à praia.
O conceito de liberdade, determina que se reconheça ao outro a possibilidade de dizer, viver e agir segundo a sua escolha. O conceito de liberdade determina e exige que se respeite quem é diferente no pensamento, no ato ou mesmo na intenção.
Liberdade é mesmo facultar aos outros o direito de não gostarem de liberdade e entenderem que devam viver no meio da obscuridade religiosa, política ou da castração intelectual.
O que a liberdade deve proteger é obviamente o direito daqueles que são livres a preservarem essa liberdade e legislar para que todos obedeçam a um conjunto de leis. A isso se chama de contrato social e é a base de qualquer organização política e social. É esse e apenas esse conceito que nos torna diferentes daqueles que atentam contra a liberdade.
Concretamente e especificamente o episódio de Nice, representa uma vergonha e um enxovalho daquilo que é a liberdade que tanto nos orgulhamos. Legislar sobre a forma que uma mulher ou um homem se deve vestir para ir à praia ou à loja na esquina, representa uma distorção daquilo que é racional, moral, civilizado e sobretudo representa um atentado vergonhoso quer à dignidade das mulheres que se procura defender como igualmente a um modo de ser e de pensar.
Proibir o uso do burkini na praia, não é o mesmo que proibir a mutilação das mulheres, o seu apedrejamento ou o casamento ente meninas. Não é o mesmo, porque essa proibição consta nas regras mais elementares da civilização ocidental. Estamos a falar de se ir a banjos tapadas e apenas isso. Dizer-se que todas as muçulmanas que andam tapadas só o andam porque são obrigadas é não conhecer o modo de vida, a cultura dessas comunidades.
Será que é mais grave usar um burkini na praia do que se estar despido frente a crianças? E se os pais dessas crianças por exemplo se sentirem incomodados pelos filhos ou eles presenciarem um estranho nu junto a si? Não terão eles o direito a não querem ver? Terão eles de ser obrigados a sair do local ou não ir ao local justamente pelo direito que o outro tem em estar nu?
São perguntas de difícil resposta, mas traduzem o estado moral a que chegámos. Nós ocidentais achamos que vivemos num mundo muito melhor do que as pobres civilizações mais antigas do que a nossa e como tal, queremos impor a nossa forma de ser e de pensar, tendo exatamente o mesmo comportamento daqueles que tanto criticamos.
Que moralismo este e sobretudo que liberdade é esta que queremos preservar?