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Os Deuses Miticos III

Afinal, o que é que é relativamente consensual e verdadeiro em todas estas teorias?

Os autores da teoria dos deuses míticos, sustentam que os 10 mandamentos são um plágio do livro dos mortos, sendo a religião egípcia, a base para a teologia Judaico-Cristã. Baptismo, vida após a morte, julgamento final, imaculada concepção, ressurreição, crucificação, a arca da aliança, circuncisão, salvadores, comunhão sagrada, o dilúvio, Páscoa, natal, a passagem, e muitas outras coisas e atributos são ideias Egípcias.

 O livro dos mortos continha principalmente preceitos mágicos e ladainhas que versavam sobre o destino dos que morreram. Orientava as pessoas quanto aos caminhos a seguir para se atingir o reino de Osíris após a morte. Encontrava-se neste livro uma relação das adversidades com as quais se deparariam ao chegar no mundo espiritual, e nele poderiam também descobrir os vários recursos necessários para triunfar sobre estes obstáculos. Embora apresente noções espirituais bem avançadas, a sua natureza era algo limitada e por isso com um carácter ainda mitológico que a faz distanciar significativamente do culto judaico. Culto esse, que é a base do cristianismo, pelo que nos parece pretensioso a afirmação de que o cristianismo bebeu muitas das suas crenças ao culto egípcio.

Os Deuses Míticos - Um fragmento do Papiro de Ani (Livro dos Mortos)

Um fragmento do Papiro de Ani (Livro dos Mortos)

O Cristianismo tem os seus fundamentos no Judaísmo e é de lá que temos que tirar respostas e não na mitologia pagã. O número 12 bíblico remete às 12 tribos de Israel e não uma representação das 12 casas do Zodíaco. O cordeiro de deus é uma analogia ao cordeiro sacrificado num ritual judeu, pois no paganismo não se sacrificavam cordeiros aos deuses. O termo pecado tem origem no povo hebreu e sendo Jesus judeu, o conceito foi naturalmente aplicado ao cristianismo.

 Osíris e Seth, são semelhantes aos irmão Abel, o bom e Caim, o irmão invejoso, que posteriormente assassina Abel; Jesus, Maria e José, é de certa forma personificada por Hórus, Osíris e Ísis; Ísis foge de Seth para proteger o Hórus, assim como Maria o fez para proteger Jesus; Osíris, depois de Ísis e Néftis cuidarem do seu corpo, ressuscita, assim como Maria Mãe de Jesus e Maria Madalena o fazem com Jesus que também ressuscita; A oração católica do “Credo” que refere que Jesus está «sentado ao lado direito de Deus Pai Todo-Poderoso», a mão direita de Deus, como símbolo da virtude e a Justiça, a divina bondade e a misericórdia, é semelhante ao olho direito de Horus, que simboliza, a luz, o bem e a justiça.

 É verdade que o elemento figurativo da vida é o Sol, isto não era uma mera representação artística ou ferramenta para seguir os movimentos do Sol. Era também um símbolo espiritual. No cristianismo, Jesus era representado com a cabeça na cruz, “Jesus é o Sol”, “Filho de Deus”, “a Luz do Mundo”, “o Salvador que se  ergue, que “renascerá””, “a Glória de Deus que defende contra as Forças das Trevas”. Mas o Sol não é apenas um símbolo do Cristianismo. Ele é de fato o objeto mais adorado de sempre e o seu culto é comum em diversas culturas espalhadas pelo globo. As primeiras civilizações não só seguiam o Sol e as estrelas, como também os personificavam através de mitos envolvendo os seus movimentos e relações. O Sol com o seu poder criador e salvador também foi personificado à semelhança de um Deus.

Os Deuses Míticos - Cabeça de Cristo

Cabeça de Cristo



A forte ligação dos povos às estrelas é facilmente explicável, dada a natureza dessas sociedades que se caraterizavam por um isolamento e em que muitas das vezes a observação dos céus, parecia a única explicação para tudo. Pode parecer rebuscado, mas a razão pela qual existiu um retrocesso no entendimento astronómico entre as épocas mais recuadas e a da idade média, não poderá residir no facto de se olhar menos as estrelas?

 É importante frisar que “Trevas vs Luz” ou “Bem vs Mal” têm sido uma dualidade mitológica omnipresente e que ainda hoje é utilizada em muitos aspetos.

 A questão das Eras tem algum fundamento, apesar dos erros de cálculo apresentados. Os autores, sustentam que “De 4300 A.C. a 2150 A.C., foi a Era do Touro. Mas na verdade, a generalidade dos estudiosos, a Era do Touro inicia-se por volta de 3822 a.C a 1662 a.C. Os mesmos autores, argumentam que de 2150 A.C. a 1 d.C., foi a Era do carneiro, quando na realidade essa era se situou a 1662 a.C a 498 d.C. Sustentam que de 1 d.C. a 2150 d.C. é a Era de Peixes. Mas a maioria dos estudiosos sustenta que a era de peixes tem inicio por volta de 498 d.C a 2658 d.C.

 Toda esta sustentação é completamente anacrónica. A localização do equinócio entre uma ou outra constelação zodiacal, como a chamada Era de Aquário ou Era de Peixes, é algo de preocupação com a astrologia moderna, mas nunca é mencionado como importante na astrologia antiga. É simplesmente anacrônico a acreditar que o que é importante para a astrologia do século XX foi de grande importância para a astrologia antiga.

Os Deuses Míticos - Peixes

Peixes

Os Deuses Míticos - Aquário

Aquário

A história Arca de Noé é tirada directamente das tradições, pois o conceito de dilúvio é comum em todas as antigas civilizações, existindo mais de 200 diferentes citações em diferentes períodos e tempos.  Não será preciso ir muito além da fonte pré-cristã para encontrar a Epopeia de Gilgamesh, escrita em 2600 a.C. Ela fala sobre grandes inundações enviadas por Deus; uma arca com animais salvos; o libertar e o retornar da pomba, entram em concordância com a história bíblica, entre muitas outras semelhanças.

É verdade que em 325 d.C., o Imperador Constantino reuniu o Concílio Ecuménico de Niceia, e foi durante esta reunião que muitas das doutrinas políticas com motivação cristã foram estabelecidas. Temos de ser rigorosos e afirmar que não só derivado a essas doutrinas, como também a fatores sociopolíticos, começou uma longa história de derramamento de sangue e fraude espiritual, mas Constantino não era um teólogo e não foi ele pessoalmente que estabeleceu os dogmas da Igreja tal como é insinuado. No entanto, nos mais de 1600 anos que se seguiram, o Vaticano dominou politicamente com mão de ferro, toda a Europa, conduzindo-a a um período de obscurantismo através de eventos como as Cruzadas e a Santa Inquisição. Ainda hoje, o peso e influência religiosa pesa sobre o mundo político e religioso.

Os autores defendem a história plagiada de Moisés e sobre o seu nascimento, diz-se que foi colocado numa cesta e lançado ao rio para evitar um infanticídio. Foi mais tarde salvo pela filha do faraó e criado por ela como um príncipe. Esta história é comum no mito de Sargão da Acádia por volta de 2250 a.C.  Sargão nasceu, foi posto numa cesta de rede para evitar um infanticídio e lançado ao rio. Foi salvo e criado por Akki, uma esposa da realeza.  Na Índia, Manou foi o grande Legislador. Na ilha de Creta, Minos ascendeu ao Monte Ida, onde Zeus lhe deu as leis Sagradas. Enquanto que na Síria, Mises, tinha nas suas pedras tudo o que Deus lhe disse.

No entanto, os autores não fazem qualquer referência dos textos de onde retiraram estas informações.

Os Deuses Míticos - Moisés

Moisés

Os Deuses Míticos - Sargão

Sargão



Os autores continuam a demonstrar similaridades. Josué nasceu de um milagre, Jesus nasceu de um milagre. Josué tinha 12 irmãos, Jesus tinha 12 discípulos. Josué foi vendido por 30 peças de prata, Jesus foi vendido por 30 peças de prata. Irmão Judá sugere a venda de Josué, o discípulo Judas sugere a venda de Jesus. Josué começa  a sua missão aos 30 anos, Jesus começa aos 30 também.

 Consideram o Cristianismo apenas uma história romana, desenvolvida politicamente por Constantino para controlo social. Jesus foi a divindade solar do setor gnóstico Cristão, e tal como outros deuses pagãos, uma figura mítica. Jesus é um híbrido, um plágio. Sustentam a inexistência de algum registo não bíblico da existência de mais alguém chamado Jesus, filho de Maria, que viajou com 12 seguidores e curou pessoas. Os historiados contemporâneos, Plínio, Suetónio e Tácito referem apenas em algumas frases a Christus ou Cristo e que na realidade não é um nome mas sim um título, que significa ‘Escolhido’. Josefo, o mais antigo desses autores, nasceu, no mínimo 5 anos após a morte de Jesus e não existindo nenhum testemunho direto dos fatos documentados, essas referências já se provaram ser falsificadas.

 Finalmente, avançam para a hipótese de o próprio Jesus, nunca ter sequer existido.  Jesus seria o resultado de uma elaboração teológica com o objetivo de construir uma base concreta para assegurar a difusão de uma nova religião.

Os Deuses Míticos - Flávio Josefo

Flávio Josefo

 Estas afirmações são muito provavelmente exageradas. A grande maioria dos estudiosos acreditam que Josefo mencionou Jesus. Josefo fornece duas referências a Jesus: Uma centra-se especificamente em Jesus, identificando-o como “Jesus, o chamado Cristo”, irmão de Tiago. Embora a autenticidade da passagem dedicado estritamente à discussão de Jesus foi contestado ao longo do tempo, os estudiosos em geral concordam que a passagem preserva um registro original de Jesus. Josefo, refere Jesus como um “homem sábio”, o que se encontra de acordo com o seu estilo de escrita. No entranto e como existem outros autores que defendem que existiu uma adulteração posterior dos textos de Josefo por cristãos, esta questão não é consensual.

  A identificação de Cristo com divindades solares é manifestamente um exagero. Pode ser verdade que a escolha desse dia especial para o nascimento de Cristo foi influenciada pelas tradições sobre o solstício de inverno, mas isso não faz dele uma divindade solar

Os autores do Zeitgeist, sustentam não serem indelicados, mas tem de ser fatuais e academicamente corretos, no entanto, tentei demonstrar imprecisões em algumas dessas teorias, embora reconheça certas analogias, o que no meu entender não me parece um reconhecimento das teses dos deuses míticos. Simplesmente,  admito que dada a proximidade entre as culturas, até porque partilharam muitas vezes o mesmo espaço histórico e geográfico, possa ter existido coincidências ou aspetos fatuais relativamente à semelhança entre as crenças egípcias e a crença judaico-cristã . Em rigor, temos de ser cautelosos e não cair na tentação de fazer generalizações. A Humanidade encerra em si, inúmeros mistérios cujo véu se vai desvendado à medida que a História, a ciência e sobretudo as consciências evoluem.

Obrigado pela abertura da sua mente.

Referencias:

Eram os deuses astronautas?- Erich von Daniken

Havia gigantes na Terra – Zacharia Sitchin

Documentário, Zeitgeist, youtube

 Paula Fredriksen, Jesus of Nazareth, King of the Jews: A Jewish Life and the Emergence of Christianity (New York: Vintage Books, a Division of Random House, Inc., 1999), 249.

Acharya S, The Christ Conspiracy: The Greatest Story Ever Sold (Kempton, IL: Adventures Unlimited, 1999), 50.

About João Fernandes

Licenciado em Relações Internacionais; Business Manager da Webmind; Blogger e múltiplos interesses nas áreas das ciências, tecnologia, História e política. Trabalha como freelancer em websites e publicidade.

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