Nos últimos artigos sobre este tema tenho exposto dados e factos que me levam a crer que o aquecimento global é uma verdade, apesar de haverem grupos que defendem tratar-se de um embuste – “Aquecimento global I: É verdade ou é um embuste?”. No segundo artigo, “Aquecimento global II: As calotes polares e os oceanos”, apresentei mais dados concretos sobre o descongelamento das calotes polares, a subida do nível do mar e a sua acidificação. No terceiro artigo abordei ainda a polémica controvérsia com os opositores desta teoria – “Aquecimento global III: Os opositores e as controvérsias“. Neste último artigo sobre o tema, vou abordar as perspectivas dos defensores com os modelos climáticos e o nosso futuro.
A verdade é que maioria dos cientistas defendem que estamos mesmo perante uma situação real de aquecimento global, cuja gravidade poderá ir de moderada a catastrófica, dependendo da reacção humana face à emissão de CO2.
Podemos estar em riscos de atingir um cenário tal que será impossível inverter o processo. Por exemplo, as calotes polares ajudam a reflectir parte da energia solar enquanto os oceanos, mais escuros, absorvem esta energia. Com o desaparecimento das calotes polares, será cada vez menor a área que reflecte a energia solar e, aumentando a área do mar, maior será a área que a absorve. Desta forma os oceanos irão aquecer cada vez mais, acelerando a descongelação das calotes polares até um ponto tal que o processo será tão rápido que as alterações climáticas poderão ser imediatas e catastróficas.
Modelos climáticos, a subida das temperaturas e do nível do mar:
Muitos cientistas estudam vários modelos climáticos onde são usadas várias variáveis atmosféricas e de superfície que hoje conhecemos e, através de um conjunto de algoritmos matemáticos complexos, é possível prever alterações climáticas no futuro. Claro que existe sempre uma percentagem de erro que deve ser considerada. Por isso é normal encontrarmos vários cenários possíveis, até porque muitas das variáveis podem sofrer alterações afastando-se dos valores estimados. Por exemplo, variações inesperadas nas emissões de gases de efeito de estufa, durante os anos futuros em análise, irão ter impacto nas previsões dos modelos.
O seguinte gráfico tem uma previsão do aumento médio da temperatura até ao ano 2100:

Projecções do aquecimento global até 2100.
Fonte: IPCC
Nestas previsões é possível ver resultados diferentes conforme as entidades que produziram os respectivos modelos. Contudo, todas as projecções apontam para o acréscimo da temperatura entre 2ºC e 5ºC. Mesmo no cenário mais optimista, uma subida média de 2ºC é elevada o suficiente para se tornar perigosa. No pior dos cenários, bastará lembrar-nos da onda de calor de 2003 que provocou várias mortes na Europa, especialmente em França.
Neste segundo gráfico temos um modelo climático mais abrangente, onde podemos ver as previsões das alterações das temperaturas nas várias regiões do globo:

Modelo climático do NOAA que indica as diferenças da média das temperaturas em 2050 e do período de 1971 a 2000.
Ambos os gráficos partem do princípio que não haverá alterações no comportamento humano face às emissões de CO2!
Neste outro gráfico, fonte da EPA (United States Environmental Protection Agency) / IPCC, podemos ver três cenários possíveis até 2099. Na linha B1 temos um cenário com baixas emissões de CO2, na linha A1B um cenário de médias-altas emissões e, no pior caso, a linha A2 um cenário com altas emissões.

Modelos climáticos das subidas de temperatura até 2099. Linha B1 para baixas emissões de dióxido de carbono, linha A1B para emissões médias-altas e linha A2 para altas emissões. Fonte: EPA/IPCC.
No pior cenário (A2) o máximo de subida de temperatura são de cerca de 7,4ºC.
Estando mesmo estes modelos sujeitos a erros, considero que os dados são realmente preocupantes. Já escrevi sobre o impacto do aquecimento nas calotes polares e nos mares, sendo que as projecções sobre a subida do nível médio das águas são igualmente graves, como se pode ver no seguinte gráfico:

Projecções da subida média global do mar.
Fonte: NOAA
Mais uma vez relembro que são apenas projecções e sujeitas a erros. Dos diferentes cenários observados, temos até 2100, desde uma subida de 0,2m a uma subida dramática de 2m. No cenário mais optimista, teremos sempre a continuação e agravamento de problemas de cheias e cenários como os que se verificaram este ano de 2014 em vários países da Europa, em que o mar destruiu e invadiu muitas zonas costeiras. Por outro lado, uma subida de 2m terá um impacto dramático em que muitas localidades à beira-mar ficarão submersas com o mar a avançar por terra adentro. Por exemplo, em Portugal, no concelho de Lisboa, a baixa da cidade de Lisboa, Algés, Cascais, Carcavelos, Estoril, entre tantas outras localidades costeiras, ficariam grande parte submersas e completamente inabitáveis.
Animais em vias de extinção:
O urso polar:
Não é novidade saber que o urso polar enfrenta o perigo de extinção. Num excelente documentário sobre as alterações climáticas da BBC, “BBC The truth about climate change Part I”, de onde também retirei alguma ilações neste tema, é apresentado este facto de uma forma muito clara: O urso polar enfrenta um grande risco de extinção devido ao descongelamento da calotes polares. Este facto torna cada vez mais difícil para as fêmeas caçarem alimento para as suas crias, diminuindo as possibilidades de sobrevivência destas. Os cientistas afirmam que o número de ursos polares tem estado a diminuir, assim como o estado de saúde das crias está cada vez mais frágil.
Espécies marinhas:
Com a acidificação dos oceanos, como já referi no segundo artigo deste tema, existem várias espécies marinhas ameaçadas, especialmente as que dependem do carbonato de cálcio (corais, moluscos com concha, etc…) e que estão na base da cadeia alimentar de outros animais marinhos. Esta situação virá a afectar-nos a nós, humanos, pois muitas populações dependem da pesca para sobreviver.
Existem outras espécies ameaçadas, mas estas, para já, são as mais directas. Por fim, considerando a teoria verdadeira e em caso extremo, podemos ter a nossa própria espécie humana ameaçada por um planeta cada vez mais quente e hostil.
Considerações finais:
Verdade ou um embuste, o facto é que nem uma boa parte dos cépticos negam a existência de alterações climáticas, apesar de as considerarem normais e sem consequências graves. Mas as medições da temperatura e dos níveis do mar, a observação de fenómenos meteorológicos extremos e o descongelamento das calotes polares são factores que nos devem fazer pensar e reflectir.
Se toda esta teoria não passar de uma mentira, então algo está a acontecer ao nosso planeta. Será temporário? Estaremos num pico de alguma actividade que voltará a normalizar? Será algo normal que não nos afectará mesmo? Bom, nesse caso podemos estar a ter preocupações em vão.
Mas, e se for verdade? E se continuarmos a emitir grandes quantidades de CO2 para a atmosfera? Não poderemos estar a condenar a nossa espécie humana para a sua aniquilação?
Num dos documentários que vi quando estudei este tema – Head to Head – Climate change: Fact or fiction? – na parte final, durante perguntas da audiência, um espectador fez uma excelente pergunta: “Vamos considerar as seguintes proposições que o aquecimento global é causado por fontes humanas. Algumas pessoas dirão que possivelmente esta proposição é correcta, você dirá que possivelmente esta proposição não é correcta. Se a afirmação é correcta terá um efeito catastrófico nas populações mas pobres no mundo (…) e milhares de pessoas morrerem será capaz de levar isso na sua consciência? (…)”
Honestamente, gostaria de fazer a mesma pergunta a todos os cépticos do aquecimento global. Cabe a cada um de nós acreditar ou não nesta teoria mas, não deveríamos todos levar este assunto mais a sério?
Referências:
- Wikipedia: Global warming, Global warming controversy, entre outros artigos diversos
- BBC The truth about climate change Part I e BBC The trush about climate change Part II
- Head to Head – Climate change: Fact or fiction?
Este artigo foi escrito com a antiga grafia.