A mitologia nórdica, germânica, viking ou escandinava enquadra um conjunto de crenças e lendas dos povos escandinavos, incluindo aqueles que se estabeleceram na Islândia. A sua influência espalhou-se por toda a Europa, especialmente Inglaterra, de onde pudemos apreciá-la em inúmeras obras cinematográficas e literárias.
No início dos tempos, existia o Nada (Ginnungagap). Um imenso vazio, que se estendia até o Norte, a Terra do Gelo (Niflheim), e ao Sul, a Terra do Fogo (Muspell). Separadas pelo Nada, essas terras estavam inertes. Até que o Criador de todas as coisas, aquele que não tem nome e que é citado apenas na Criação e no fim dos tempos, uniu o frio ao calor, formando flocos de neve que se juntaram até formar o primeiro ser: um gigante de gelo chamado Ymer e a outras criaturas que se alimentavam do leite da vaca Auðhumla que, por sua vez, se alimentava comendo o sal dos blocos de gelo. Certo dia enquanto se alimentava, formou-se uma nova criatura, conhecida como Aesir. Esse primeiro Aesir chamava-se Buri, que teve um filho, Bor, que se casou com a filha de um dos gigantes tiveram 3 filhos: Odin, Vili e Vé.
No centro do Nada está uma árvore Yggdrasil que chegava aos céus, o eixo dos 9 mundos. Yggdrasil era banhada por uma luminosa nuvem que orvalha Hidromel (a bebida favorita dos deuses, e que lhes dava a longevidade). Os ramos mais altos serviam de morada ao Galo de Ouro, que tem a responsabilidade de guardar os horizontes e denunciar aos deuses a aproximação gigantes. Logo abaixo, a águia Hraesvelg que, ao bater as asas, produz o vento que sopra por todos os mundos. Abaixo dela Asgard (Terra dos Aesir), governado por Odin e pela sua mulher Frigga. É lá que fica Valhala, local onde os guerreiros eram recebidos após terem morrido com honra. Metade das almas passam os seus dias a treinar para combater e desfrutando de grandes banquetes e orgias à noite. Elas formam o “Exército das Almas Vivas”. A outra metade segue para Folkvang, o palácio de Freyja.
Ainda nos ramos, estava o lar e os rivais Vanir (Vanaheimr), deuses, ligados à fertilidade, prosperidade, sabedoria e capacidade de ver o futuro.
Ainda no alto, temos Álfheimr, o Lar dos Elfos. É onde vivem os elfos luminosos, criaturas de beleza inenarrável. Brilhantes como o Sol, vestem-se de forma delicada e transparente. São amigos dos homens e deuses.
Odin e os irmãos, matam Ymer e com seu corpo criaram Midgard (Terra Média), o mundo dos homens, situado em volta do tronco de Yggdrasil. A carne do gigante, tornou-se na terra e com o sangue formaram-se lagos e oceanos. Dos ossos, formaram-se as montanhas. Os dentes e fragmentos de ossos são as pedras. Os cabelos formaram árvores. O crânio formou o céu, e foi sustentado no alto por 4 anões, chamados Norðri (Norte), Suðri (Sul), Austri (Leste) e Vestri (Oeste). Midgard está unida a Asgard por uma ponte em forma de arco-íris, chamada Bifröst. Construída pelos Aesir, era guardada pelo deus Heimdall, que nunca dorme.
Jötunheimr é a Terra dos gigantes. Quando Ymer morreu, o derramamento de sangue foi tão grande que acabou por afogar quase toda a raça de gigantes, salvando-se apenas Bergelmir e a sua mulher, que fugiram num barco e chegaram à montanha de Jötunheim, onde fundaram a cidade Utgard, separada da terra dos homens pelo vasto oceano protegido pela serpente Jörmungandr.
Muspelheim (Terra do fogo) é o lar dos demónios de fogo, liderados por Surtur.
Nas raízes de Yggdrasil está Svartalfheim (Lar dos elfos escuros). Eles são o contrário dos elfos luminosos, e vivem no subterrâneo, pois o Sol transforma-os em pedra. São, frequentemente, apontados como responsáveis por muitas das maldades que ocorrem à humanidade. Daí a palavra alemã para pesadelo: Albtraum (sonho de elfo).
Niflheimr (Terra das névoas) é um mundo de gelo eterno, onde vivem os anões e o reino dos Nibelungos. É dito que as raízes mais profundas da árvore Yggdrasil estão enterradas em Niflheimr. Ironicamente é nas profundezas de Niflheimr (e não na Terra do fogo) onde fica o inferno: Helheimr, governado por Hel, deusa da morte. Mergulhado na escuridão eterna, e guardado pelo gigantesco cão Garm. É para aqui que vão os que morrem sem glória, os doentes ou velhos, as crianças e as mulheres. Ao contrário do que sugere a associação com a palavra Hell (inferno) em inglês, em Helgardh não há senso de punição para os mortos. Helgardh é um mundo dentro de um mundo (de Niflheimr), o reino mais frio e baixo na ordem total do universo, abaixo da terceira raiz de Yggdrasil.
ODIN ou Wotan
Odin ( ou Wotan) é o deus Todo-Poderoso. O nome deriva da palavra Óðr, que em norueguês arcaico significa Fúria, Excitação, mas também Poesia e Mente. Odin arrancou um de seus olhos e lançou-o ao Poço de Mimir em troca de sabedoria; também se pendurou pela cabeça na Yggdrasil durante 9 dias, apenas para obter o conhecimento do mundo dos mortos (e de lá nos trouxe as Runas), sendo ressuscitado por magia. Odin mantinha-se informado sobre os acontecimentos da Terra através dos corvos, Hugin (Pensamento) e Munin (Memória). Em batalha, usava a lança Gungnir e o um cavalo de 8 pernas Sleipnir, os corvos e 2 lobos – Geri and Freki.
FRIGG
Frigg (Dama) é a personificação do feminino no mito nórdico. É a esposa de Odin e age igualmente como mãe e conselheira. Possui o poder de profetizar. A sua história é muito semelhante à de deusa nórdica, Freyja, esposa de Odhr (Louco, Furioso), que por sua vez tem semelhanças com Odin. O nome sexta-feira, no inglês, é Friday porque é o “dia de Frijjo”, ou seja, o dia da Dama.
MIMIR
Mimir (Aquele que pensa), pertencia à raça dos gigantes, e era famoso pela sua inteligência e prudência. Foi decapitado durante a guerra entre Aesirs e Vanirs e Odin passou a carregar a sua cabeça de forma a consultá-la em momentos críticos.
THOR
Filho de Odin com Fjörgyn (Terra), e é o deus do trovão. É o mais forte dos deuses, possuindo um martelo mágico chamado Mjolnir, que nunca falha o alvo e regressa sempre à sua mão. Ele usa luvas de ferro mágicas (Járngreipr) para segurar o cabo do martelo, e o cinturão Megingjard para dobrar sua força. A sua mulher é Sif, a deusa da colheita, com quem teve uma filha, Thrud (Força); Na união com a gigante Jarnsaxa, teve os filhos Magni (Forte) e Modi (Furioso). Thor percorre os céus numa carruagem puxada por dois bodes e quando ele passa, as montanhas tremem (o que origina os trovões) e os céus ficam em chamas (os raios). O Reino de Thor em Asgard é Thrudheimr, onde ele recebe no salão Bilskirnir os pobres, depois deles morrem. Os anglo-saxões e escandinavos deram o nome de Thor ao quinto dia da semana (Thursday).
LOKI
Loki não é um Aesir – embora viva com eles – descende dos gigantes. Está ligado à magia e pode assumir várias formas, excepto de aves. Símbolo da maldade, traiçoeiro, de pouca confiança, mas a sua criatividade é muitas vezes usada para lidar com situações sem esperança, e é respeitado até mesmo por Odin. É provável que conceitos cristãos, introduzidos mais tarde na Escandinávia, acabaram por destacar apenas as suas piores características, já que ter um “vilão” com quem se relacionar (e temer) é bastante útil ao dualismo cristão. Loki é casado com Sigyn, e com ela teve 2 filhos: Nari e Narfi. Da relação com a gigante Angrboda, teve 3 criaturas monstruosas e maléficas: o lobo Fenrir, a grande serpente Jörmungandr e Hel que Odin enviou para Niflheimr, dando-lhe autoridade sobre os 9 mundos.
FENRIR
Lobo gigante, filho de Loki, tem 2 filhos: Skoll (Traição) e Hati (O que odeia), que vivem em eterna perseguição a Sól e a sua irmã Máni (Lua). Todos os deuses o temiam, por isso eles pensaram em acorrentá-lo. No entanto Fenrir era temível, e ninguém o conseguiria forçar, por isso por 3 vezes propuseram-lhe um desafio: que ele tentasse libertar-se das correntes. Fenrir acabou por se libertar facilmente das correntes Leyding e Drómi. A 3.ª corrente era macia como a seda e os deuses levaram Fenrir para uma ilha deserta e desafiaram a quebrar Gleipnir. Estranhando a delicadeza da corrente e suspeitando que se tratava de uma armadilha, Fenrir, coloca como condição que um dos deuses pusesse a mão na sua boca, como sinal de “boa fé”. Obviamente nenhum deles se ofereceu, com a excepção de Tyr.
TYR
Conhecido pela sua coragem, ele encarou o desafio de Fenrir e enfiou a mão direita nas mandíbulas do lobo, enquanto os outros deuses o amarram. Fenrir inicia a tentativa de partir as correntes, só que dessa vez quanto mais força fazia, mais Gleipnir se apertava. Furioso, ele fechou vigorosamente as suas enormes mandíbulas e decepou a mão de Tyr. Tyr vingou-se, espetou com uma espada a boca do lobo aberta, para que ele não fizesse tanto barulho. E assim Fenrir ficou acorrentado até a chegada do fim dos tempos.
AS VALQUÍRIAS
Belas jovens que, montadas em cavalos alados e armadas com elmos e lanças, sobrevoam os campos de batalha, escolhendo quais os guerreiros mortos entrariam no Valhala. Alguns defendem que o conceito original de Valquíria pode ser o de demónios em forma de mulher, que rondavam os campos de batalha para devorar os corpos dos mortos, e que só depois se transformaram em belas mulheres guerreiras. De qualquer forma, as Valquírias adquiriram certa ambiguidade, pois ao mesmo tempo em que todo guerreiro aspira ir ao Valhala após a morte, nenhum quer ser o “escolhido” no campo de batalha.
OS HUMANOS
Uma criação dos deuses Odin, Vili e Vé. Enquanto percorriam Midgard, depararam-se com duas árvores – um Fresno e um Olmo – arrancadas pela raiz. Os deuses colocaram-nas de pé, e então Odin deu-lhes o alento e a vida, Vili deu-lhes um cérebro e sentimentos e Vé deu-lhes ouvidos e visão. E assim foram criados o homem e a mulher. Puseram ao homem o nome Ask, e à mulher Embla, e deles descenderam todos os seres humanos.
OS ELFOS
Eram espíritos menores que os homens, formosos e bem formados. Viviam em sociedade e tinham reis aos quais eram muito fiéis. Eram em geral serviçais, mas às vezes podiam ser malignos. Temiam a luz solar e fugiam dos homens. Dançavam à luz da lua, e se algum homem via esta dança ficava para sempre prisioneiro da beleza das elfas, incapaz de afastar a vista.
OS ANÕES
A sua inteligência e habilidade como ferreiros e artífices eram prodigiosas, sendo capazes de construir objetos mágicos, como o martelo de Thor, e belas jóias. Fisicamente não eram formosos. Viviam sempre perto dos lugares onde havia metais preciosos. Acreditava-se que possuíam importantes tesouros ocultos nas profundezas da terra, onde viviam. O tesouro mais famoso foi o anel dos Nibelungos.
OS GIGANTES
Os gigantes estavam distribuídos por todo o mundo. Podiam viver na terra, no mar, e havia também gigantes do fogo (a quem se atribuía os fenómenos vulcânicos) e do gelo. Podiam metamorfosear-se e não hesitavam em enfrentar até mesmo alguns deuses, enquanto outros eram seus amigos ou colaboradores, como Mimir. A crença entre os germânicos em anões, gigantes, trolls e demónios subsistiu e se mesclou aos símbolos cristãos. Há lendas nas quais alguns destes gigantes inclusive se converteram ao catolicismo.
A ALMA
Os germânicos acreditavam que a alma era algo material, que podia falar, mover-se, agir e inclusive tomar formas distintas. Esse “outro eu espiritual” era chamado Fylgja, e ainda que permanecesse em íntima relação com o corpo, podia separar-se dele e adotar outra forma, por exemplo animal. Mas, se alguém ferisse ou matasse esse animal, a pessoa apareceria ferida ou morta em sua casa.
OS ESPÍRITOS DOS BOSQUES
Os bosques eram povoados por numerosos espíritos. Os que viviam nas árvores eram imaginados como seres peludos, cobertos de musgo e com a cara enrugada como a casca de um tronco. Em geral eram pacíficos e serviçais, mas se fossem enganados, tomavam a forma de insetos e molestavam (ou mandavam enfermidades para) os homens.
AS NORNAS
No centro da árvore Yggdrasil há um buraco oco, onde habitam 3 sábias que passam os dias a fiar nas suas rocas o destino da humanidade. Essas deidades são as Nornas Urd, Verdandi e Skuld, responsáveis pelo passado, presente e futuro, respectivamente. São representadas pela anciã, a mãe (mulher madura) e a virgem. Urd é muito velha e vive a olhar para trás. Verdandi é uma mulher madura e olha sempre para o presente, e Skuld é a virgem que vive encapuçada e possui um pergaminho fechado que contém os segredos do futuro.
AS FADAS
Os nórdicos/germânicos acreditavam no destino individual. E este destino seria regido pelas fadas. Quando uma criança nascia, as fadas vinham à cabeceira da sua cama para a cobrir de venturas ou de desgraças, e para lhe dar um porvir de acordo com sua própria sina já traçada.
BALDUR
Deus da luz, filho de Odin. Era tão belo que a sua presença enchia tudo de luz. O mais sábio, amado e a alegria de todos. A sua mãe fez todos os seres jurarem que jamais lhe fariam mal, o que o tornou invulnerável a tudo e a todos com a excepção a uma pequena planta (visgo). Loki, utilizando um disfarce, obteve de Frigg o segredo. Assim, arrancou o visgo, e com ele fez uma flecha e aproximando-se de Hod, único dos deuses cego, animou-o a lançar a flecha. Hod lançou a flecha, que acabou por atingir Baldur. Hel (a deusa da Morte) concordou em devolver Baldur ao mundo dos vivos se todos os seres do mundo estivessem de acordo, mas se houvesse um só ser que se negasse, não poderia devolvê-lo. Todos os seres choram lágrimas por Baldur, exceto a gigante Thonkk, que na verdade era Loki disfarçado. Os deuses rogaram-lhe que concordasse, mas ela disse que nada devia a Baldur, e que Hel conservasse o que tinha e Baldur não pôde regressar.
Quando os deuses descobriram a mentira, ficaram furiosos e acorrentaram Loki com uma serpente acima dele. Dela caem gotas veneno na sua cabeça. A mulher de Loki, Sigyn, sentou-se junto ao marido e começou a colher o veneno com uma taça, mas de tempos em tempos a taça enche-se e ela tem de esvaziá-la, o que faz com que gotas do doloroso veneno caiam em cima de Loki. Isso causa tamanha dor que toda a terra treme com o seus gritos, gerando, assim, os terramotos.
RAGNARÖK (O CREPÚSCULO DOS DEUSES)
Os germânicos não acreditavam na eternidade e até os deuses tinham de morrer. O fim dos deuses começa com a sua decadência moral, o que desencadeará violência e guerras tanto para os homens como para os deuses. Irmão matará irmão, e os homens não terão nenhuma piedade. Midgard passará por 3 invernos rigorosos, que se seguirão sem nenhum verão entre eles; então, o “inverno dos invernos” (Fimbulvetr) estabelecer-se-á; isto será o começo do fim. Os lobos Skoll e Hati irão devorar Sól e a Máni (Lua). A escuridão passará a reinar; as estrelas irão desprender-se do céu e cairão; todos os mundos tremerão; as árvores serão arrancadas pela raiz e todos os materiais serão desfeitos. Assim Loki conseguirá fugir de seu cativeiro e irá buscar refúgio junto aos gigantes de gelo, convencendo-os, juntamente com os demónios de fogo e o exército de mortos de Hel, numa guerra contra os deuses. O lobo Fenrir também conseguirá fugir da mágica corrente Gleipnir, e junta-se ao pai na batalha.
Odin, será vítima de Fenrir. Furioso, o seu filho Vidar corre para vingá-lo, e mata Fenrir. O deus Feyr morre às mãos do gigante Surt, e Thor, na luta com a serpente Jörmungandr, consegue matar o monstro com o seu martelo, mas só consegue dar alguns passos, pois acaba por morrer devido ao veneno expelido pela serpente moribunda. Loki e Heimdall matam-se um ao outro no campo de batalha e cabe a Tyr a tarefa de matar Garm, o cão dos infernos, no entanto acaba igualmente por morrer na luta.
Surt, o gigante de fogo, transforma todos os 9 mundos num inferno de chamas, que consomem deuses, gigantes, anões, elfos e homens. A Terra afunda-se no oceano, e o Universo torna-se num imenso inferno.
Este é o fim de um ciclo e o começo de outro, pois dos restos do velho mundo surge um novo. As águas baixam e revelam novas montanhas, rios e planícies. Da luta irão sobreviver Aesir e Vanir, Vidar e Vali, os filhos de Odin, e os filhos de Thor que herdarão Mjolnir. Baldur e Hod regressam do Hel e uniem-se aos outros. Os filhos de Bor, Vili e Vé serão enviados aos céus para reger com os outros. Entretanto o bem e o mal não deixarão de existir, e no Hel ainda haverá uma região chamada Náströnd, a praia dos mortos, para onde irão os assassinos e adúlteros. O dragão Nidhogg, que sobreviverá à destruição, irá devorar os corpos dos mortos despedaçados. E assim tudo recomeça, até que o delicado balanço das coisas seja quebrado novamente e sobrevenha um novo Ragnarök.
Referência:
Principais deuses da mitologia nórdica;
Panteão nórdico;
Blog de mitologia;
Mitologia germânica;
Norse Mithology, by John Lindow;
Wikipedia em inglês e português;