A batalha de Estalinegrado ocorreu ente 17 de Julho de 1942 e 2 de Fevereiro de 1943, e está muito provavelmente entre as 3 maiores batalhas da História da Humanidade, quer pelos meios envolvidos e principalmente no número de vítimas para ambas as partes. Discordo com a opinião de alguns historiadores que defendem que esta batalha nem tinha de ter ocorrido, uma vez que sob o ponto de vista estratégico a cidade nem era assim tão importante, no entanto, considero que teria sido muito imprudente deixar uma cidade da importância de Estalinegrado por conquistar, até porque a cidade era um centro de comunicações e industrial.
Ao lançar-se contra Estalinegrado, Hitler cometeu o erro de dispersar as suas tropas em vez de as concentrar numa frente coesa e comum, obrigando o Exército Vermelho a travar um combate e, com a superioridade alemã em termos de material e da qualidade dos seus soldados, destruir os exércitos soviéticos. A sua recusa em ordenar uma retirada às portas de Moscovo, evitou sem dúvida o abandono de equipamento, mas com o custo das vidas de milhares de homens. Das 162 divisões na frente oriental em Abril, apenas 1/3 podiam ser consideradas aptas para operações de ofensiva e, dessas, apenas 8 estavam totalmente prontas para o combate. Mas nos meses que antecederam o “Plano Azul”, as divisões do Sul foram reequipadas e restauradas a um estado de eficiência operacional com a adição de novos soldados transferidos de outros setores. No entanto, a mobilidade iria constituir o calcanhar de Aquiles do exército, pois ao contrário do que se pensa, este era ainda muito dependente de cavalos e estes escasseavam. Para agravar mais ainda a situação, muitos dos carros no terreno, mostraram-se ineficazes, reduzindo ainda mais essa mobilidade e muitos dos carros de combate estavam a ficar ultrapassados em qualidade e principalmente face à capacidade de produção da dos seus adversários.
Para piorar, os caças soviéticos, designadamente o Ilyushin (Il-2), mais conhecido por Shturmovik e o Yak-9, mostraram ser bastante superiores aos caças alemães, pela sua simplicidade de construção e manutenção, fortemente blindados, com o seu poder de fogo e o enorme número que foram construídos. Só do Yak-9, seriam construídos cerca de 37 000 unidades. No entanto, e apesar das evoluções técnicas evidentes, a Força Aérea Soviética, carecia de informações confiáveis sobre os planos alemães e a sua estrutura de comando permanecia inepta e os seus pilotos não dispunham nem de confiança nem de habilidade.
O Exército Vermelho em 1942 apesar de bem equipado, era ainda desorganizado e ineficiente. Muitos dos soldados tinham pouco ou nenhum treino. Entre os oficiais graduados, havia uma total falta de subtileza táctica, pouca consideração pela vida humana e uma dependência assustadora da aplicação da força bruta. Em todos os níveis do exército, a disciplina era imposta pelo terror e a moral forjada por uma propaganda barata e incessante apelo ao nacionalismo e ao amor à mãe Rússia. Na batalha que se aproximava, os soldados necessitariam de uma resistência quase sobre-humana, pois em treino e tácticas não podiam rivalizar com o adversário, mas nas ruínas de Estalinegrado, iriam alcançar, graças à sua determinação, uma das vitórias mais espectaculares dos anais da guerra.
Hitler iria cometer um erro que lhe custaria caro. Ao invés de concentrar as suas tropas, dividiu-as em 2 grupos de exércitos: O A e B . O exército A estava encarregue de prosseguir a sua marcha para sul e conquistar os campos de petróleo do Cáucaso e o exército B devia rumar a Estalinegrado. À cabeça do exército B nomeou o general von Paulus. Von Paulus era um brilhante estratega, havia servido com grande competência em França, no entanto a sua única experiência era ao comando dentro de uma sala, sob mapas do campo de batalha, não tendo jamais comandado um regimento. Esta caraterística iria ter um impato muito significativo sob o ponto de vista psicológico nos eventos que se iriam seguir.
Do lado oposto, Estaline entregou a responsabilidade de defesa da cidade ao general Zhukov, conhecido por ser um homem de enorme coragem e acção. Zhukov era o arquétipo do oficial soviético: Subiu a pulso na hierarquia e era dos poucos oficiais graduados do Exército Vermelho a sobreviver à purga da década de 30 e como resultado, era dos poucos generais restantes com experiência e treino profissional. Apesar dos terríveis reveses sofridos nas primeiras semanas do “Barbarossa”, demonstrou bastante competência durante a defesa de Leninegrado e depois Moscovo, tarefa que executou com enorme sucesso e infligido ao Exército Alemão a sua 1.ª grande derrota. Após o general Timoshenko a Sul, cair em desgraça em 1942 após a derrota em Kharkov, Zhukov foi eleito o favorito de Estaline e elevado à condição de herói da União Soviética.
Extremamente violento e cruel com os seus homens, exigia nada menos que dessem a sua vida em combate. Mas apesar da sua extrema crueldade, ganhou respeito por entre os seus soldados, pois era frequentemente visto no campo de batalha ao seu lado, contrastando com outros oficiais soviéticos que nunca pisavam o campo de batalha.
No fim do mês de Junho, as ações da Wehrmacht na Crimeia e em Sebastopol, estavam praticamente concluídas e em consequência a taxa de mortalidade soviética era impossível de ser calculada tal a confusão e a escala dos massacres.
Ao longo de uma linha a partir de Orel no norte até ao mar de Azov, a wehrmacht havia reunido 74 divisões repartidas por 7 exércitos, enquanto as tropas soviéticas totalizavam 15 exércitos, reunidos em 3 frentes, sendo que cada divisão russa equivalia a duas ou três divisões alemãs e muitas delas depois do desastre de Kharkov, não estavam em condições de lutar.
O 1.º ataque do plano azul seria encabeçado pelo IV exército panzer, comandado pelo general Hermann Hoth e estava posicionado em Kursk e Orel. A sua tarefa consistia em iniciar um avanço em direcção a Voronezh e ao alto Don. O IV exército era composto por 11 divisões, das quais 3 eram blindadas e duas mecanizadas. Ao reforçar massivamente o IV Exército com divisões não mecanizadas de infantaria, Hitler aumentou significativamente a sua força, mas comprometeu a sua velocidade e mobilidade.
A apoiar o IV Exército Panzer, estava o agrupamento Weich, composto por uma força hungaro-germânica, sob o comando do general Maximilian von Weich. Este agrupamento era composto pelo III Exército, que incluía uma divisão de infantaria mecanizada, 4 divisões alemãs e 2 húngaras, além do II Exército húngaro, composto por 4 divisões.
A defender este sector comandado pelo general Golikov, os russos dispunham de 4 exércitos (3.º;43.º;13.º e o 40.º) e era reforçado pelo V Exército de tanques.
No setor sul, estava o I Exército Panzer, comandado pelo general Paul vom Kleist, composto por 16 divisões, sendo a maioria infantaria não mecanizada e 4 divisões romenas. No apoio, estava o XVII Exército composto por 12 divisões, sendo 4 delas romenas, comandado pelo general Richar Ruoff, que atacaria em paralelo com o I Exército.
A sul de Kursk, o VI Exército alemão estava agrupado na área entre Kharkov e Belgorod. Massivamente reforçado, dispunha de 18 divisões, das quais duas eram blindadas e uma era mecanizada. A maioria dessas divisões, eram formadas por veteranos e pelos melhores soldados do exército alemão.
O VI Exército iria enfrentar a frente sudoeste soviética, comandada pelo marechal Timoshenko que ainda não se havia recuperado da derrota em Kharkov e oferecia uma fraca perspectiva de regressar rapidamente ao combate e apesar de ser composto por 5 exércitos, estes estavam enfraquecidos, exaustos e desmoralizados.
Encarregue de defender a região do baixo Donetz e do Don, estavam as forças comandadas pelo general Radion Malinovsky, compostas por 5 exércitos, no entanto, à semelhança dos restantes exército soviéticos, havia sofrido pesadas baixas em Kharkov e permanecia num patamar abaixo do ideal em termos de material e equipamento.
O VIII Exército italiano com 6 divisões muito mal equipadas e pouco confiáveis, formaria as forças de reserva.
Apesar da desigualdade entre as forças que se iriam enfrentar, os soviéticos iriam dispor de uma preciosa vantagem, pois ao contrário de Hitler que não havia antecipado dificuldades não organizou forças de reserva, do lado soviético a leste e longe dos serviços de informação alemães, estavam a ser formadas mais 10 exércitos que se iriam juntar à batalha no momento oportuno.
Ao princípio, o “Plano Azul” decorria como previsto para os alemães, pois as estepes não ofereciam obstáculo algum ao avanço por centenas de quilómetros e o Alto Comando alemão estava obcecado com a conquista dos campos petrolíferos do Cáucaso. No entanto, começavam as primeiras dificuldades, uma vez que numerosas unidades dos exércitos alemão e romeno, que deveriam fazer parte da operação, ainda estavam envolvidas no cerco de Sevastopol e da península da Crimeia e Sevastopol não caiu até o fim de Junho.
Na manhã de 28 de Junho, os alemães iniciaram a ofensiva e em todas as frentes e os russos viram-se obrigados a recuar. Até 5 de Julho, elementos do IV Exército Panzer, alcançaram o Don perto de Veronozeh e começaram a avançar sobre os subúrbios a oeste de Estalinegrado. Entre Bryansk e a frente sudoeste, havia uma brecha de 240 km por onde as formações alemãs avançaram, mas os russos pela 1.ª vez na guerra não lutavam desesperadamente para segurar as posições expostas, agora recuavam de uma forma razoavelmente ordenada, enquanto as tropas alemãs se precipitavam sobre as tropas perdidas e da retaguarda.
Várias tentativas de restabelecer uma linha defensiva fracassaram ao serem atacadas nos flancos pelas forças alemãs. Duas bolsas de resistência se formaram e foram destruídas na semana seguinte, ao nordeste de Kharkov e na província de Rostov. Ao mesmo tempo, forças húngaras, junto com o 4º Exército Panzer, lançaram um assalto a Veronezh e apesar da luta estar condenada ao fracasso, os russos atacaram massivamente o IV Exército Panzer. A cidade acabaria por cair apenas a 5 de Jullho, no entanto esta luta desesperada daria um tempo vital a Timoshenko para que os exércitos exaustos da frente sudoeste, pudessem recuar até à linha do Don e que os primeiros elementos do exército de reserva se juntassem à luta.
No sul, os combates por Rostov e pelas travessias do Don e consciente do desastre que se abatera sobre Timoshenko e com receio que a sua própria frente fosse cercada pelo norte, o general Malinovsk havia recuado, mas lutando com uma determinação e habilidade, permitindo que o núcleo dos seus exércitos escapasse para o sul.
Irritado por todas as demoras e acreditando que o centro soviético havia colapsado, Hitler iria dar inicio às primeiras alterações do plano original, assim, o IV Exército Panzer foi destacado do VI Exército, juntamente com todas as unidades avançadas de blindados do VI Exército e enviadas para o sul a fim de ajudar o I Exército Panzer a forçar uma travessia do Don. Este desvio reduziu ainda mais a velocidade do VI Exército e ainda permitiu que os russos consolidassem as suas posições ao longo do curso e na curva do Don.
Naquela altura, os 2 lados haviam reorganizado as suas forças reordenando as suas prioridades. O extremamente controlado grupo de exércitos A, foi substituído por 2 grupos menores. O exército B, consistia no II Exército, pelo VI Exército, pelo II Exército Hungaro e o VIII Exército italiano, mas agora, sem o seu grupo Panzer, e esta divisão de tropas marcou uma mudança estratégica. Das 16 divisões blindadas e mecanizadas no campo, o Grupo de exércitos A, passou a deter 15, deixando o grupo de exércitos B, virtualmente desprovido de tropas móveis e principalmente, com uma proporção perigosamente alta de divisões notoriamente inferiores. Além, de que seria o grupo de exércitos B que deveria segurar a linha do Don, cercar Estalinegrado e suportar o ímpeto do ataque de qualquer contra-ofensiva soviética, enquanto que os 3 exércitos do grupo A atacaria ao sul do Cáucaso.
No fim de Julho, O VI Exército reiniciou finalmente a sua ofensiva na curva do Don e divisões blindadas avançadas atacaram os flancos da frente soviética, enquanto a infantaria mantinha uma pressão constante sobre o centro. No sector norte, os ataques fizeram progressos e as tropas blindadas penetraram nas defesas russas e começaram a forçar caminho pelo sudoeste em direcção ao baixo Don. O movimento do VI Exército no sul esmagou a união entre o 62.º e o 64.º Exércitos. O VI Exército alemão encontrava-se a dezenas de quilómetros de Estalinegrado. Mas os russos, comandados pelo marechal Budienny, retiravam-se para evitarem um confronto directo e serem cercados. Estaline reorganizou novamente o comando do sul e a frente de Estalinegrado foi reduzida de 6 para 4 exércitos e 2 deles foram reforçados pela reserva blindada e redefinida como exército de tanques. A recém criada frente sudoeste também contava com 4 exércitos, mas enquanto a Frente Estalinegrado corria ao longo do flanco norte da ofensiva do VI Exército, os exércitos da frente sudeste estavam directamente no caminho do II Exército e do IV Exército alemães.
Até ao dia 10 de Agosto, Paulus havia quase terminado de desimpedir a curva do Don diretamente a oeste de Estalinegrado, mas no setor norte, os russos ainda defendiam várias posições importantes na margem oeste, o que serviu para retardar ainda mais o avanço de Paulus rumo a leste. Em contraste, o avanço do grupo de exércitos A, era surpreendentemente rápido, espalhando-se numa larga frente através de terra abandonada. No dia 9 de Agosto, unidades avançadas do I Exército Panzer, alcançaram os contrafortes ao norte do Cáucaso e atravessaram o Don.
Começavam então as provações para o exército alemão. Devido à extensão das linhas de suprimento que, não acompanhando a velocidade do avanço, não chegavam à linha de frente com a rapidez necessária.
Estaline optou pela estratégia de entrar dentro da cidade e defender a mesma, casa a casa e proibiu a evacuação da cidade, obrigando os civis a participarem na defesa da sua cidade, apesar de saber que estariam condenados assim que os alemães invadissem. Era uma estratégia audaciosa, que permitiria ganhar tempo até conseguir homens suficientes para um ataque massivo contra as forças alemãs, sem que elas se desse conta até ser tarde demais. A população civil cavou trincheiras, enquanto as fábricas trabalhavam incessantemente. Forças de reserva geral engrossam os exércitos de Estalinegrado sob as ordens do general Eremenko. Estaline impôs um lema: “Nem um passo atrás!” Mas nem tudo foi coação, era real o terror inspirado pelos alemães, o patriotismo e o brio comunista.
Na verdade, as opções de Paulus eram bastante limitadas devido à geografia da cidade: Estalinegrado tinha o rio Volga atrás de si, o que tornava impossível a utilização da famosa táctica de “ataque de pinça” para cercar a cidade. A 23 de Agosto, decide então bombardear até obliterar todas as suas estruturas que na sua maioria era construídas em madeira. A Luftwaffe bombardeou incessantemente a cidade, deflagrando incêndios infernais, reduzindo a cidade a escombros. Só no 1.º dia de bombardeamento, teriam morrido 40 000 pessoas. Existem relatos de soldados que descrevem que o incêndio era de tal ordem, que era possível a uma distância de 60 km à noite ler-se um livro com a luz das chamas provocadas pelos incêndios. As docas, o centro administrativo e grandes áreas do coração industrial da cidade, foram destruídos. Mas a destruição total da cidade iria mais tarde ter sérias consequências para os alemães quando foram cercados, uma vez que não tiveram onde se abrigar ou combustíveis sólidos para queimar e se protegerem do frio.
A 29 de Agosto, o IX exército Panzer, lançou uma grande ofensiva pelo centro em direcção a Estalinegrado. O VI Exército recebeu ordens para enviar tropas móveis e atacar directamente a sul para se unir com a ponta de lança do IV Exército Panzer, mas o corredor mal se sustentava e estava sujeito a ataques cada vez mais furiosos do 4.º exército de tanques soviético. A pressão a norte ocupou todas a tropas móveis do VI exército durante 3 dias, permitindo às tropas soviéticas recuarem durante o combate e escapar para as linhas internas de defesa a oeste do Volga, frustrando assim a tentativa de cerco do exército alemão e atrasando ainda mais a campanha e assegurando de que a luta seria demorada e intensa. Entretanto, Zhukov assumiu o comando das tropas soviéticas no sul e com a função de comandar todas a linhas e organizar a defesa de Estalinegrado.
Em meados de Setembro, a pressão soviética a norte aliviou o suficiente para permitir a Paulus reiniciar os seus esforços e cercou finalmente a cidade. Com a cidade cercada por 3 lados e as travessias do Volga sob o fogo da artilharia alemã, Paulus sentiu-se confiante que em breve a cidade estaria subjugada, pois a moral soviética estaria de rastos, mas Hitler exigiu que tomasse a cidade e a ocupasse, expulsando o que restava do exército soviético. Esta ordem era contrária ao entendimento de qualquer oficial alemão que conheciam que a força do exército alemão residia na sua mobilidade e rapidez e que o exército não estava preparado para uma guerra urbana. No entanto, como qualquer oficial alemão, Paulus jamais seria capaz de recusar uma ordem do Alto Comando e acatou a ordem.
O campo entrincheirado foi insuficiente para resistir ao ataque da IV Divisão “Panzer”. Mas os defensores retiram-se para a cidade, evitando o cerco. A 14 de Setembro, a infantaria de Paulus entra em pleno centro da cidade e chega ao Volga, mas a batalha apenas começou. Os escombros que obstruem as ruas servem de barricadas anticarro e os russos defendem cada palmo de terreno. O general Chuikov, comandante do 62.º Exército, reorganizou e reanimou os defensores, criando uma série de mini-fortalezas e afunilando os alemães em zonas de morte. Estas zonas, estavam perfeitamente organizadas e apoiadas pelas baterias de artilharia localizadas na margem, no que se transformou num pesadelo para os invasores e iriam beneficiar os defensores. Os tanques habituados a operar em campo aberto e com grande visibilidade, viram-se frequentemente bloqueados entre os escombros e ruelas bloqueadas ou fechadas, tornaram-se alvos fáceis para os atiradores com armas anti-tanque que disparavam do topo das estruturas ainda de pé. As viaturas eram alvejadas no topo da sua estrutura e impossibilitados de disparar para cima, eram danificados ou destruídos e as suas tripulações mortas no seu interior.
Com o exército alemão nas ruas da cidade, seria impossível a continuação dos bombardeamentos ou do uso de artilharia para desalojar os defensores dentro das ruínas dos edifícios, por isso eram obrigados a entrarem dentro de cada casa para as desalojar dos defensores. Zhukov chamou a esta tática de “Abraçar o inimigo“, apesar de ter custado pesadas baixas no exército soviético, pois muitas vezes os soldados não tinham qualquer experiência em combate ou sequer tinham armas ou munições. Limitavam-se a ficar perto junto dos camaradas e esperarem que este fosse abatido para depois lhes ficar com a arma.
A terrível ordem “Não há terra do outro lado do Volga” é obedecida cegamente pelas tropas, pelas milícias de trabalhadores e pela população inteira. Cada casa, só pode ser conquistada depois de longas horas de luta. Sob o ponto de vista psicológico, o combate casa a casa e corpo a corpo a que os alemães foram obrigados a travar, revelou-se extremamente esgotante e tenebroso. Inúmeros exemplos de uma luta sem quartel são relatados durante o período que durou a batalha. Ficam particularmente famosas as lutas corpo a corpo, a luta pela estação de comboios que mudou de mãos 14 vezes; a tomada da fábrica de tratores; o “Grain-Silo”; a “Casa de Pavlov” que dominava uma praça no centro da cidade em que os defensores cercaram com minas, montaram metralhadoras nas janelas e liquidavam cada onda de ataques, durante todo o segundo mês da batalha, os russos tinham que sair do prédio e empurrar as pilhas de corpos dos alemães mortos.
Zhukov lança na guerra franco atiradores que se escondiam entre as ruínas e abatiam oficiais alemães em todo o lado. Estes homens graças à propaganda, foram elevados à categoria de heróis. Este atiradores seriam responsáveis, provavelmente, por centenas de mortes de alemães, mas era no campo psicológico que a sua actividade tinha mais impacto. Para os desalojar das suas posições, os alemães utilizariam tácticas cada vez mais violentas, onde se destaca o uso de lança-chamas para incendiarem as posições dos atiradores.
No entanto, gradualmente os alemães foram abrindo caminho e pressionando agora pelo norte e pelo sul e continuaram a bombardear o que tinha sobrado dos edifícios que haviam sobrevivido. É certo que a velha cidade caíra progressivamente nas mãos dos alemães que chegaram a controlar 90% da cidade, mas as grandes fábricas da zona industrial do Norte converteram-se em fortalezas. Estas monstruosas fortalezas de betão haviam sobrevivido aos bombardeamentos e muitas das suas oficinas ainda produziam tanques, armas e munições. O assalto a estas fortalezas causou terríveis baixas e esgotou a capacidade ofensiva do VI Exército. Só tropas frescas teriam podido empreender o assalto final. Mas Hitler negava-se a enviar tropas de reserva, pois sustentava que “a invencibilidade do soldado alemão”, devia prover todas as necessidades. Mas as linhas de abastecimento alemãs eram muito frágeis e a situação alemã já era precária: perdiam-se 20 000 homens por semana. Mas o pior estava ainda para vir com a aproximação da estação fria.
No dia 3 de Outubro, os alemães atacaram com 5 divisões ao longo de uma frente de 5 km. Tanques romperam as barreiras disparando à queima-roupa. Atrás deles, a infantaria avançou cautelosamente, encurralando os russos que com o Volga nas suas costas, não tinham a possibilidade de recuar. A 14 de Outubro, numa tentativa de quebrar o impasse, Paulus envia o que lhe restava das suas reservas e chega a estar a 100 metros do Volga, mas os russos ainda defendia uma frágil cabeça-de-ponte e pareciam dispostos a sacrificarem as suas vidas.
As tropas de Paulus, estavam à beira da exaustão, mas isso seria a menor das suas preocupações, pois para obterem aquela vitória incompleta, haviam, nas semanas anteriores, retirado todas as tropas de combate possíveis dos seus flancos e agora surgiam relatórios sobre grandes concentrações de tropas soviéticas nesses flancos. Além disso, as primeiras geadas de inverno chegaram mais cedo do que o esperado. Ventos frios sopravam do leste e flocos de neve começaram a cair sobre as ruínas, na madeira queimada e nos uniformes dos homens.
No extremo sul, o avanço do grupo de exércitos A havia igualmente emperrado, obtendo pouco do que fora prometido no início. Quando o I Exército Panzer de Kleist chegou a Maykop, os campos de petróleo estavam em chamas e a escala de destruição era tão extensa que seria necessário 1 ano de trabalho para os colocar novamente em bom funcionamento. As outras áreas de produção de petróleo ficavam ao sul do Cáucaso, uma cadeia de 1000 km de extensão de montanhas selvagens, coroadas por um pico de 5 642 metros e um destacamento içou a bandeira com a suástica no cume do monte Elbrus, mas esta façanha desportiva encerrava a era das vitórias na Rússia Meridional. A Wehrmacht não pôde dar o salto definitivo e Estaline, ao salvar a Geórgia, conservou o petróleo de Baku.
No Outono, os generais soviéticos Aleksandr Vasilievsky e Georgy Jukov, concentraram as forças nas estepes ao norte e ao sul de Estalinegrado. Para proteger a frente do Don, alinharam-se soldados da “cruzada antibolchevique”: Húngaros, Italianos e Romenos, mas o seu equipamento insuficiente, treino e moral muito inferior às tropas da Wehrmacht e a falta de unidade de comando tornaram particularmente vulnerável o flanco norte do dispositivo alemão que eles estavam encarregados de proteger. Esta fraqueza era conhecida e explorada pelos soviéticos, que preferiam enfrentar tropas não alemãs sempre que possível, assim como os ingleses preferiam atacar as tropas italianas em vez dos alemães do Afrika Korps, no norte da África.
Durante o mês de Outubro e o começo de Novembro, enquanto terminavam os últimos preparativos terrestres, a Força Aérea soviética estava aos poucos a sair vitoriosa na luta pela supremacia dos céus, factor que seria determinate, uma vez que 1 milhão de soldados russos seria em breve lançados contra as linhas do eixo e no desenrolar dos acontecimentos, as tropas iriam necessitar do apoio da aviação.
Na madrugada de 19 de Novembro, o Exército Vermelho lançou a “Operação Uranus”. As forças soviéticas atacantes, eram composta por 3 exércitos completos, compostos por 18 divisões de infantaria, 8 brigadas de tanques, duas brigadas motorizadas, 6 divisões de cavalaria e uma brigada anti-tanques. Os preparativos do ataque puderam ser ouvidos pelos romenos, que pediam reforços a seu comando insistentemente, sempre recusados. Milhares de canhões, morteiros e lançadores de foguetes katyusha dispararam um fogo devastador sobre as linhas romenas que rapidamente foram dilaceradas. Ao mesmo tempo, os carros de combate romperem as posições e realizaram uma profunda penetração. Mal equipado, em número insuficiente, disperso em linhas frágeis e finas de defesa, o III Exército romeno, que guardava o flanco norte do VI Exército, foi esmagado. Até ao meio-dia, os romenos haviam sido empurrados e a infantaria soviética avançou sobre as planícies. No dia seguinte, a 2.ª fase da ofensiva foi lançada contra o IV Exército romeno no istmo entre o Don e o Volga e de novo, por uma envolvente massa de blindados e infantaria, destruindo-o completamente.
O grupo de exércitos B, estava um caos e em todos os sectores, a pressão era intensa. Foram lançados ataques contra as posições do VI Exército na curva do Don e contra o IX Exército Panzer a sul de Estalinegrado. O VI Exército corria o risco de ser cercado. Paulus, não tem ainda a absoluta certeza de como reagir e envia um pedido de instruções para Berlim e fica a aguardar a decisão, no entanto durante essa espera, a “pinça” soviética fecha-se e o exército alemão é cercado. O Estado-Maior rogou a Hitler que permitisse fazer um movimento de retirada, para reconstituir solidamente uma linha de defesa. Mas a mera palavra “retirada”, deixou-o furioso e recusou.
Esta decisão, tomada por um homem já doente e insensível ao menor raciocínio prudente, conduziria ao desastre todo o Exército.
Atacados por todos os lados e acossados pelo ar, as tropas alemãs não foram capazes de reagir a tempo. Três dias depois do inicio da operação, o avanço intenso soviético através da curva do Don, as tropas soviéticas da frente sudoeste uniram-se com as forças da Frente Estalinegrado e encontraram-se em Kalach, a cerca de 50 km de Estalinegrado, completando o cerco do VI Exército e a maioria do IV Exército Panzer.
Paulus sabe que a situação é difícil, mas sabe igualmente que nem tudo está perdido, pois as forças soviéticas ainda não consolidaram as suas posições, sendo ainda possível romper o cerco e mais uma vez pede instruções a Berlim, Hitler aconselhado por Göering, comprometeu-se a fazer chegar ao exército cercado 750 toneladas diárias de víveres e material; mas a Luftwaffe foi incapaz de cumprir esta promessa, tanto por causa do clima como pela actividade da aviação de caças soviética. Mais tarde, o exército reduzira as suas pretensões para um mínimo de 500 toneladas. No entanto, o que era enviado para a bolsa de resistência estava muito longe do prometido. Até 10 de Janeiro a quantidade média diária atingiu as 102 toneladas. Mal se satisfaziam as necessidades essenciais e dias houve em que faltou por completo o abastecimento. Depois de 10 de Janeiro reduziram-se ainda a 42 toneladas por dia; a 16 de Janeiro, essas quantidades reduziram-se consideravelmente, chegando só a 20 toneladas, para descer mais tarde a 6. A ponte aérea, conseguia apenas prover 1/10 das necessidades do VI Exército. A ração diária englobava apenas 50 gramas de pão, um litro de sopa pouco substancial — feita ao meio dia com legumes — e à noite, algumas conservas de carne ou outra sopa. Isto trouxe como resultado o enfraquecimento do poder físico das tropas.
Por vezes eram lançados carregamentos inúteis: caramelos, material de engenharia que não era necessário, panfletos, pimenta em grão e, inclusivamente, preservativos
As tripulações da Luftwaffe, tinham de vencer dificuldades inauditas. A neve e o frio, a ausência de sistema de aquecimento, a formação de gelo, o nevoeiro e os bombardeamentos dificultavam constantemente a descolagem dos aviões. As aterragens deviam efectuar-se nas condições mais desfavoráveis em pistas sem mínimas condições, submetidas ao fogo inimigo, cobertas de neve e semeadas de crateras de bombas. Acrescia a tudo isto, as avarias nos motores, o encravamento das armas a bordo e o defeituoso funcionamento dos aparelhos de rádio
Os russos julgaram que tinham encurralado 75 000 alemães, mas na realidade, estes eram cerca de 275 000: todo o VI Exército e alguns elementos da IV Divisão “Panzer”, romenos, húngaros, italianos, croatas e até voluntários russos, ou seja, um total de 22 divisões, homens, que estavam providos de uma enorme quantidade de material, encontravam-se colhidos na ratoeira. Os russos podiam apenas ter esperado que os sitiados morressem de fome, mas em vez disso, reuniram 7 exércitos em redor da cidade.
Von Paulus, pediu autorização para romper o cerco. Mas Hitler proibiu-o terminantemente:
“Eu conheço o corajoso VI Exército e o seu comandante, e sei que todos cumprirão o seu dever”.
Os alemães já sabiam o que os esperava. Brevemente a temperatura desceria aos 30, 40º e 50º graus negativos. Equipamento e homens congelariam, enquanto que os russos excelentemente bem equipados continuariam a chegar aos milhares.
Equipados para a guerra de Verão, os soldados sofreram na carne todo o rigor do frio soviético. Careciam do mais elementar equipamento. O calçado era uma obsessão, já que os riscos de os pés ficarem congelados era iminente. Os italianos, por exemplo, só dispunham de um par de botas que, muitas vezes, eram feitas de cartão. Não havia combustível para derreter a neve a fim dos homens se poderem lavar ou barbear. De faces encovadas e pálidas tinham as barbas por fazer, barbas que eram pateticamente ralas por causa das deficiências em cálcio. Os pescoços eram magros como a dos velhos e tinham os corpos cobertos de piolhos. A ração de pão estava agora reduzida a 200 gramas por dia, e às vezes a pouco mais de 100 gramas. A carne de cavalo acrescentada à “wassersuppe” provinha dos fornecimentos locais. As carcaças mantinham-se em bom estado por causa do frio, mas a temperatura era tão baixa que a carne nem sequer podia ser cortada com facas e só as serras dos sapadores era suficientemente fortes para o fazer.
A combinação de frio e fome significava que os soldados quando não se encontravam de sentinela, limitavam-se a permanecer nos abrigos para conservarem as energias. Um bunker era um refúgio do qual nem sequer imaginavam sair.
É impossível avaliar o número de suicídios ou mortos provocados pelo stress de combate. Os homens deliravam nos seus catres, enquanto outros se limitavam a ficar deitados. Muitos, durante as maníacas explosões de atividade, tinham de ser agarrados ou lançados na inconsciência pelos seus camaradas. O medo do tifo parecia ter algo de curiosamente atávico, quase como se tratasse de uma peste medieval.
Apenas os mais duros sonhavam com imagens das suas casas e choravam silenciosamente ante a ideia de que nunca mais voltariam a ver as mulheres e filhos. Alguns, desesperados por se escaparem, chegaram a pensar nos ferimentos auto-infligidos. Os que foram avante com essa ideia não se arriscaram apenas à execução, ficavam em perigo de morte por causa da sua própria acção. Um ferimento ligeiro não era suficiente para conseguir lugar num voo para fora da bolsa e se esse ferimento dificultasse os movimentos significava a morte
A falta de gesso obrigava os médicos a ligarem membros partidos com papel. As condições nos hospitais improvisados eram horríveis. Na mesa de operações tinha de se retirar os piolhos dos uniformes e da pele com uma espátula, atirando-os de seguida para o fogo. Milhares de homens gravemente feridos enchiam as caves, sem luz e sem sistema sanitário. Os gemidos, os pedidos de ajuda e as orações, misturavam-se com o troar dos bombardeamentos.
Não havia ligaduras, nem remédios, nem água limpa. Era frequentes os dedos dos pés e das mãos ficarem agarrados às ligaduras velhas e sujas. A desparasitação era impossível e os enfermeiros que mudavam as ligaduras, descobriam uma massa cinzenta a arrastar-se nos seus pulsos e braços, vinda dos pacientes. Quando um homem morria, os piolhos podiam ser vistos a abandonarem-no em massa, para irem à procura de carne ainda com vida.
A retirada da estepe, à medida que bolsa era esmagada pelos russos, fez com que o número de alemães amontoados na cidade arruinada subisse para mais de 100 000, muitos, se não a maioria, sofria de disenteria, icterícia e outras doenças.
O marechal von Manstein, vindo da frente de Leninegrado, restabeleceu por algum tempo a situação e procurou desesperadamente arrancar de Hitler a ordem de atacar em massa, mas este recusou-se. Sugeriu então a Paulus que tentasse, ao menos, uma saída limitada. Mas Paulus não se atreveu a transgredir a ordem, categórica e insensata, de permanecer em Estalinegrado
No dia de Natal a Rádio de Moscovo enviou uma mensagem aos soldados alemães sitiados em Estalinegrado:
“Tic…tac….tic…tac…de 7 em 7 segundos morre um alemão na Rússia. Estalinegrado é uma vala comum….tic…tac…tic…tac”.
O Tic-Tac e a mensagem duraram todo o dia. A 10 de Janeiro, iniciou-se o ataque final dos russos. Julgaram que iria durar 4 dias, mas 15 dias depois, os combates ainda prosseguiam.
A 24 de Janeiro, von Paulus pediu autorização para se render. Os seus homens tinham combatido até ao extremo das suas forças. Em consciência, nada mais podia pedir e tinha o dever de evitar aos seus homens uma matança inútil, e enviou uma mensagem a Hitler:
“Tropas sem munições e alimentos.. .Impossível comando eficaz… derrota iminente. Exército requer autorização para se render, para salvar vidas humanas!”
Mas Hitler proibiu terminantemente a rendição:
“ O VI Exército cumprirá o seu dever histórico até ao fim, lutando até ao último homem.”
A 31 de Janeiro, Hitler promoveu-o a marechal, ciente como estava, de que nunca um marechal alemão tinha sido feito prisioneiro. Mas nesse mesmo dia, von Paulus rendeu-se. Cerca de 11 000 soldados alemães e do eixo, recusaram-se a render-se e preferiram morrer a terem uma morte cruel no cativeiro. Estas forças iriam resistir até aos inícios de Março de 1943, mas acabariam por se render, tendo morrido cerca de 2418 e tendo sido feitos 8646 prisioneiros.
Os derrotados preparavam-se para o cativeiro envolvendo as botas em tiras de uniforme rasgados. Todos os que estavam capazes foram encaminhados para serem levados para um campo de prisioneiros. Os prisioneiros cambaleavam para fora das caves e bunkers com as mãos levantadas num gesto de rendição, os seus olhos procuravam imediatamente um bocado de madeira que pudesse servir como muleta. Os homens sofriam de queimaduras do frio tão graves que mal conseguiam andar, e quase todos haviam perdido as unhas dos pés, quando não os dedos inteiros
Mas os que não estavam foram vítimas do princípio do Exército Vermelho de que os prisioneiros que não podiam andar deviam ser fuzilados no próprio local onde se encontrassem e pegaram fogo ao hospital improvisado, cheio de feridos.
Os derrotados restos do VI Exército, sem armas nem capacetes, com barretes de lã puxados até baixo das orelhas ou apenas trapos enrolados à volta da cabeça como protecção contra o frio terrível, tremiam nos seus capotes pouco apropriados, amarrados com fios de telefone e foram amontoados em longas colunas de marcha. Mantinham os olhos baixos, sem se atreverem a olhar para os seus guardas.
Para a Wehrmacht chegara o momento de fazer o cálculo da tragédia que se abatera. Estalinegrado não foi uma derrota, foi uma verdadeira catástrofe! Foram aprisionados 2 exércitos alemães; 24 generais; 2 000 oficiais, 91 000 soldados e morreram 150 000 homens. Os exércitos húngaro, romeno e italianos, foram aniquilados. Perderam-se 4888 aviões de transporte e 1000 membros das respectivas tripulações. A 9.ª Divisão de Artilharia antiaérea estava destruída, bem como o pessoal de terra, isto para não falar nas perdas de bombardeiros, caças Stuka. No total, as forças do Eixo devem ter perdido mais 500 000 homens. O material abandonado no campo de batalha, servia para equipar 1\4 do total das forças alemãs. Tratava-se do mesmo VI Exército que dois anos antes não admitia qualquer possibilidade de derrota. Os prisioneiros foram obrigados a marchar a pé, até aos campos de concentração, e em poucas semanas morreram 50 000 de frio, de má nutrição e de tifo. Dos 90 000 prisioneiros, só 6 000 voltariam um dia a ver a Alemanha.
Muitos historiadores calculam um total perdas de 850 0000 homens (mortos, feridos, capturados) para as forças do eixo: 400 000 alemães; 200 000 romenos; 130 000 italianos e 120 000 húngaros. A estes números, devem ser juntados 50 000 dissidentes soviéticos que lutaram ao lado das forças do eixo.
De acordo com os arquivos soviéticos, o exército russo sofreu cerca de 1 129 619 baixas, das quais 478 741 mortos e capturados e 650 878 feridos. Só dentro das cidade, teriam ocorrido 750 000 baixas.
Num total de muito difícil verificação, calcula-se que a Batalha de Estalinegrado terá tido um custo de 1.7 a 2 milhões de baixa para os 2 lados.
Mas, como dar a notícia ao Povo Alemão que só ouvira falar na invencibilidade dos seus exércitos? Ainda na véspera Goebbels proclamara:
—“A palavra capitulação, não existe no nosso idioma. Superamos assim todos os perigos e todas as crises.”
Um breve comunicado foi difundido pela rádio. Não falava em rendição, anunciava apenas o termo da batalha. A leitura do boletim, antecedida por um toque de tambor, foi seguida pela execução da Segunda parte da Quinta Sinfonia de Beethoven; e decretou-se luto nacional por quatro dias.
Apesar dos números extraordinários da batalha, Estalinegrado ficou marcada pela extrema crueldade dos combates e da extraordinária disciplina e determinação dos soldados de ambos os lados. No princípio, os soviéticos defenderam a cidade de todas as maneiras contra uma força arrasadora alemã. As perdas eram tão grandes que a expectativa de vida de um novo soldado em combate na frente era de um dia, muitas vezes a lutar sem armas ou munições. Estalinegrado e muito provavelmente a União Soviética foram salvas graças à determinação do alto comando soviético e da coragem heróica dos seus soldados
Do lado oposto, o exército alemão demonstrou uma espantosa disciplina até ao momento da rendição, mesmo lutando debaixo de condições extremas de fome, frio, falta de equipamento e de erros terríveis do seu alto comando. No final, foram vítimas de circunstâncias que escapavam largamente ao seu controlo e capacidades.