Nos últimos artigos sobre este tema tenho exposto dados e factos que me levam a crer que o aquecimento global é uma verdade, apesar de haverem grupos que defendem tratar-se de um embuste – “Aquecimento global I: É verdade ou é um embuste?”. No segundo artigo, “Aquecimento global II: As calotes polares e os oceanos”, apresentei mais dados concretos sobre o descongelamento das calotes polares, a subida do nível do mar e a sua acidificação.
Neste artigo vou apresentar a controvérsia deste tema, com os opositores a defenderem que o aquecimento global é uma mentira e um embuste.
É dito que cerca de 97% dos investigadores climáticos, espalhados por todo o mundo, são a favor de que nós, humanos, estamos a causar o aquecimento global. Apenas 3% afirmam o contrário mas é com esta aparente minoria que as grandes controvérsias surgem!
Alguns dos cientistas, de cada parte, alegam que a outra parte está a ser patrocinada com fundos, sendo que os defensores do aquecimento global alegam ainda estarem a sofrer pressões dos políticos para abafarem informação que sugere que o aquecimento global é derivado da actividade humana.
As acusações mais ousadas surgem do lado dos defensores em que apontam que a Exxon Mobil (EUA) está a financiar instituições de onde surgem as vozes cépticas sobre o aquecimento global. De acordo com alguns documentos obtidos, a Exxon Mobil terá financiado o “The Independent Institute” com vinte mil dólares entre 2002 e 2003. Em 2003 esta organização lança um estudo em que afirma que os dados sobre a evidencia da iminência de aquecimento global, durante a administração do presidente Clinton, foram fruto de “má ciência”.
E este não será o único consórcio de cépticos que terá sido financiado pela Exxon Mobil. O “The George C. Marshall Institute” terá recebido cerca de 630 mil dólares para a investigação sobre alterações climáticas entre 1998 e 2005 e 472 mil dólares terão sido entregues para financiar o “The Board of Academic and Scientific Advisors for the Committee for a Constructive Tomorrow”, igualmente entre 1998 e 2005. Curiosamente, ou não, o conhecido como o “padrinho” do cepticismo do aquecimento global, Dr. Frederick Seitz, terá servido como Presidente Emérito do “The George C. Marshall Institute” e membro do Conselho do Comité do “a Constructive Tomorrow” entre 1998 e 2005…
Mas quais são os fundamentos usados pelos cépticos do aquecimento global para se oporem à maioria dos defensores?
A percentagem de CO2 na atmosfera da Terra é insignificante:
Os cépticos afirmam que a percentagem de CO2, face ao total de gases de efeito de estufa, é insignificante. De facto, quando falamos em “ppm”, falamos em “partes por milhão”. Na composição da atmosfera, temos apenas cerca de 0,04% de CO2 que, em comparação com os cerca de 78% de nitrogénio e 20% de oxigénio, é um valor extremamente baixo.
Mas também será interessante notar que, relativamente aos gases de efeito de estufa em si, o dióxido de carbono tem um peso de cerca de 9 a 26%, o vapor de água de 36 a 70%, o metano de 4 a 9% e ozono de 3 a 7%. Entre estes valores, os cépticos afirmam que a contribuição humana para o efeito de estufa causado pelo CO2 será de apenas cerca de 1%.
É dito ainda que no passado o nosso planeta teve concentrações bem mais elevadas de dióxido de carbono e mesmo assim terão ocorrido algumas glaciações. Estudos apontam para que, durante o período Ordoviciano da Era do Paleozoico (488 a 443 milhões de anos atrás), a concentração de CO2 seria de 4400 ppm, ou seja 0,44% da composição atmosférica, e que se encontraram sinais de ter havido alguma glaciação.
Observações recentes mostram haver um atraso de cerca de 5 meses entre um registo de subida de temperatura e um registo de aumento da concentração de CO2. Este tempo de atraso tem sido usado pelos cépticos como argumento de que o aumento do CO2 é causado pela subida da temperatura e não o contrário!
Por outro lado, análises aos isótopos de carbono do CO2 atmosférico indicam que o seu recente aumento não pode ter vindo dos oceanos, vulcões ou da biosfera, o que pode provar que o aumento da concentração de CO2 não está relacionado com o aumento da temperatura mas sim pela actividade humana, como dizem os defensores do aquecimento global.
O aquecimento global é causado por causas naturais:
Maioria dos cépticos apontam o aquecimento global como consequência de factores naturais como correntes marítimas, aumentos na actividade solar, ventos solares e radiação cósmica.
O nosso Sol tem oscilações periódicas com picos de actividade. Alguns estudos indicam que a actividade solar actual tem estado historicamente elevada dada a observação da actividade de manchas solares e outros factores. Há quem alegue que a actividade solar nos últimos 60 a 70 anos terá sido mesmo a mais elevada dos últimos 8 mil anos.
Um grande ponto de controvérsia entre as partes – defensores e opositores – é a correlação entre a temperatura e a actividade solar. Mas na verdade, o comportamento do Sol tem influências directas e indirectas no nosso planeta, em especial na atmosfera desde a quantidade da formação de nuvens até às trovoadas. Por exemplo, um estudo recente sugere que ao sermos atingidos por ventos solares, há um aumento na ocorrência de trovoadas.
Há quem também defenda que o aumento de concentração de CO2 nos oceanos, e consequente acidificação, está relacionada com uma maior actividade vulcânica submarina e não por causa da actividade humana.
Quanto ao aumento das temperaturas no mar, um estudo indica que cerca de 70% do aumento da temperatura no oceano Atlântico estará relacionado com a diminuição de tempestades de areia no deserto do Sara e de uma diminuição da actividade vulcânica nos trópicos. Neste caso, apenas 30% estará relacionado com alterações climáticas. Porém, um dos investigadores e principal autor do estudo, Amato Evan, um climatologista da Universidade do Wisconsin, não desvaloriza a importância das alterações climáticas e que este facto particular explica por que razão o oceano Atlântico está a aquecer mais depressa do que o Pacífico.
As temperaturas no Antárctico:
O registo das temperaturas no Antárctico é outro tema que tem trazido enormes debates e controvérsias entre as duas partes. Enquanto o IPCC aponta para um aquecimento geral neste região do planeta, os cépticos afirmam que têm havido zonas onde se observa mesmo o inverso, uma descida de temperatura.
Um estudo de 2011 vai ao encontro do IPCC ao indicar que a temperatura global da região tem subido nos últimos 30 anos. Por outro lado, um artigo escrito em 2002 refere que existem zonas no Antárctico onde a temperatura terá mesmo baixado entre 1966 e 2000, especialmente durante as estações Verão e Outono.
Estes dados terão sido aproveitados pelos cépticos para criar mais argumentos contra o aquecimento global mas o autor deste artigo defende haver uma interpretação errada dos dados. Doran, o autor, explica que cerca de 58% da Antárctica arrefeceu entre 1966 e 2000 mas que o resto deste continente aqueceu no mesmo período. Dados da NASA confirmam esta tendência.
A maior controvérsia surge com uma novela escrita em 2004 pelo céptico Michael Crichton, “State of Fear”, quando uma das personagens diz que apenas uma pequena área da Antárctica, chamada de Península da Antárctica, estaria a derreter e que o resto do continente estaria a arrefecer e o gelo a ficar mais espesso.
Interpretação dos dados o (des)consenso científico:
Para ajudar à confusão, encontram-se interpretações diferentes dos dados e até das consequências. Desde os que afirmam que não há indícios nenhuns de aquecimento global aos que afirmam que o aumento do CO2 até é benéfico, com consequências positivas, encontramos, também, diferentes opiniões até nos cépticos. Neste último caso, há quem afirme mesmo que o aumento de dióxido de carbono será bom para a natureza em geral, que precisa deste gás no processo de fotossíntese.
Muitos dos cépticos criticam os cenários pessimistas do IPCC, e de outras organizações, alegando que os dados recolhidos não têm relevância suficiente para provar a teoria do aquecimento global. Outros afirmam também que os modelos climáticos criados pelas organizações que defendem o aquecimento global, não têm bases científicas que sustentem projecções tão “alarmistas” quanto ao clima futuro, criticando os processos usados nos cálculos dos modelos.
Por outro lado, dos defensores activistas, há que defenda até que o IPCC não estará a revelar a verdadeira extensão do problema, relativizando os cenários das projecções por questões políticas, afim de assegurar a manutenção dum consenso entre representantes governamentais, e desprezando o ritmo acelerado das alterações climáticas e respectivos efeitos na população.
A controvérsia aumenta com o público em geral a ser bombardeado por centenas de vídeos no Youtube, uns a defender o aquecimento global, outros a defender que se trata tudo de um embuste. A opinião está a ficar cada vez mais dividida entre crentes e não crentes e a nível geográfico. O gráfico seguinte mostra as respostas dadas, geograficamente, à questão:
“O aumento da temperatura faz parte do aquecimento global ou das alterações do clima. Pensa que o aumento das temperaturas são um resultado da actividade humana?”
Mas, e o que nos poderá esperar mesmo no futuro? No próximo artigo irei apresentar as projecções e os modelos climáticos, que são bastante preocupantes, Aquecimento global IV: Os modelos climáticos e o nosso futuro.
Referências:
- Wikipedia: Global warming, Global warming controversy, entre outros artigos diversos
- BBC The truth about climate change Part I e BBC The trush about climate change Part II
Este artigo foi escrito com a antiga grafia.