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Aquecimento global II: As calotes polares e os oceanos

No artigo anterior, “Aquecimento Global I: É verdade ou é um embuste?”, falei sobre os factores que poderão estar a provocar o aumento das temperaturas médias no planeta e, consequentemente, uma provável causa para as alterações climáticas que temos vindo a assistir. Neste artigo vou abordar algumas evidências da existência de aquecimento, causas e possíveis consequências.

As calotes polares, “Polar Ice Caps” em Inglês, são regiões cobertas por gelo, de elevada latitude, que existem no nosso planeta e em outros, como por exemplo, em Marte.

Aquecimento global -  Calotes polares: (1) Árctico; (2) Antárctico; (3) Em Marte

Calotes polares: (1) Árctico; (2) Antárctico; (3) Em Marte

No nosso planeta, temos estas regiões no Árctico (Pólo Norte) e no Antárctico (Pólo Sul). Além das grandes quantidades de glaciares e gelo de água do mar, existe também o pergelissolo ou permafrost, em especial no Árctico, e que consiste em camadas de terra, rochas e gelo constantemente congeladas. Pergelissolo vem de “Per” (permanente) + “ge-lis” (do latim de gelo, “gelus” –us) + “solo”. Para facilitar a escrita e a leitura, vou usar a expressão Inglesa, “permafrost”.

Vimos no artigo anterior que os níveis de CO2 têm crescido rapidamente nestas últimas décadas, tendo mesmo ultrapassado recordes dos últimos 650 mil anos! Uma questão preocupante é verificar que grande parte da concentração dos gases de efeito de estufa, nomeadamente o CO2, encontra-se precisamente no Árctico. Podemos então concluir que o efeito de estufa será mais intenso nesta zona do globo terrestre.

E juntamente com estes dados, vem outra informação: A da subida da temperatura média. Se é um dado adquirido que a temperatura média global subiu cerca de 0,8ºC desde os inícios do século passado, outra informação inquietante é o facto de que grande parte desse aumento dá-se precisamente nos pólos. Apesar de se ter verificado um certo abrandamento da subida de temperatura média do planeta nos últimos dez anos, constata-se que, em igual período, a temperatura nos pólos tem vindo a ter um brusco aumento, nomeadamente no Árctico onde se registou uma subida de temperatura na ordem dos 2,5ºC, de acordo com o seguinte gráfico:

Aquecimento global - Anomalia média da temperatura num período de 10 anos

Anomalia média da temperatura num período de 10 anos (2000-2009) em comparação com o de 1951-1980. Fonte: NASA

Descongelamento das calotes polares:

Uma das consequências directas destas subidas de temperatura é a de estar a provocar a descongelação das calotes polares, nomeadamente no Árctico. O recuo da camada de gelo é preocupante e tem vindo a aumentar drasticamente nas últimas décadas. Crê-se que o recuo tenha começado mesmo a partir de 1850, mas de forma lenta. Porém, nas últimas décadas este recuo tem vindo a ser cada vez mais acelerado, o que tem deixado muitos cientistas preocupados. Alguns afirmam que a área perdida, nos últimos 20 anos, corresponde a duas vezes a área do Texas. No antárctico, apesar de não se verificar um recuo tão acentuado, também se tem assistido a percas preocupantes de gelo. E não é só nos pólos! Em lugares montanhosos, de alta altitude, também existem algumas calotes e mantos de gelo que estão a desaparecer. Um exemplo é a região da Patagónia, na América do Sul, na zona sul das cordilheiras dos Andes. Nas zonas mais altas, existem glaciares que também estão a diminuir de tamanho. Lagos, que outrora eram de gelo, estão agora em estado líquido.

De volta às calotes polares, cujo descongelamento tem um impacto mais relevante por causa dos oceanos, a seguinte animação dá-nos uma ideia da intensidade do recuo dos glaciares no Árctico nas últimas décadas:

Aquecimento global

Fonte: NASA

Os oceanos – Subida do nível do mar:

A consequência imediata do descongelamento das calotes polares é a subida do nível do mar nos oceanos. Embora a primeira causa desta subida esteja relacionada com o aumento da temperatura do mar, causando uma expansão térmica, o descongelamento das calotes aparece logo como a segunda causa. Entre 1870 e 2004, a média geral do nível do mar subiu 195mm, numa ritmo de 1,46mm por ano. Mas entre 1950 e 2009 a subida média foi de 1,7mm por ano e medições de satélite observaram um aumento médio de 3,3mm por ano entre 1993 e 2009, ultrapassado um ritmo previamente estimado. O seguinte gráfico mostra esta evolução:

Aquecimento global - Evolução do nível médio do mar

Evolução do nível médio do mar

Não se sabe ao certo se este ritmo aumentará nos próximos anos. Se o próprio permafrost começar a derreter, as consequências serão catastróficas. Existem projecções preocupantes para as próximas décadas, mas irei abordá-las no terceiro e último artigo sobre este tema. Para já, é possível falar de consequências actuais. Apesar de podermos pensar tratarem-se de meros milímetros, mas a verdade é que este aumento já tem causado problemas em alguns locais.

Um dos casos mais dramáticos vive-se em Tuvalu, um estado da Polinésia formado por um grupo de nove atóis. O ponto mais alto de Tuvalu é de apenas 4,6m. O governo Australiano, num relatório sobre as alterações climáticas no Pacífico, concluiu que o nível do mar na zona de Tuvalu, medido por satélites, tem subido cerca de 5mm por ano desde 1993. Nos últimos anos, têm-se verificado cheias cada vez mais graves, atingindo localidades onde o mar já tem entrado em algumas casas. Se o nível do mar continuar a subir nesta zona do Pacífico, Tuvalu estará condenada a desaparecer. Mas há mais ilhas em risco!

Aquecimento global - Inundações em Tuvalu

Inundações em Tuvalu

Ainda este ano de 2014, observaram-se condições marítimas anormais em vários países da Europa, nomeadamente Portugal, Espanha, França e Inglaterra. Em Portugal foram inúmeros os casos de localidades afectadas por ondas enormes, acima da média, que causaram enormes estragos desde a Costa da Caparica aos concelhos de Espinho e de Ovar, onde o mar chegou mesmo a entrar por ruas a dentro. Em Espanha, na Galiza, ondas gigantes destruíram muitas infraestruturas à beira-mar e causaram vítimas que foram arrastadas pelas ondas. Em França, ondas gigantes invadiram a zona se Senes, onde os habitantes referem nunca terem visto algo assim, e outras localidades. A costa Inglesa também sofreu estragos significativos. Poderão estes cenários repetirem-se com consequências mais graves?



Os oceanos – Acidificação das águas:

Os oceanos absorvem o CO2 que existe na atmosfera. Com o aumento da concentração deste gás na atmosfera, os oceanos têm vindo a absorver cada vez mais dióxido de carbono. Estima-se que 30 a 40% do CO2 emitido pelos humanos seja absorvido pelo mar. Alguns poderão pensar que tal efeito seja positivo, aliviando a concentração de CO2 na atmosfera, mas a verdade é que esta situação provoca uma série de reacções químicas no mar, como por exemplo o aumento da concentração de iões de hidrogénio (H+) e a diminuição do pH, isto é, aumentando a acidificação das águas.

Estudos apontam que, antes da era industrial (século XVIII) o pH à superfície do mar rondaria os 8,179. Na década de 90 o valor terá descido para 8,104 e presentemente este valor rondará os 8,069, o que indica um ritmo acelerado na acidificação do mar.

Este efeito poderá até beneficiar algumas espécies, nomeadamente as estrelas do mar, mas as espécies que ficarão em perigo são muitas! O primeiro impacto será nos organismos que dependem de carbonato de cálcio como os corais, moluscos com concha, crustáceos, entre outros que estão na base da cadeia alimentar de muitos outros animais marinhos, uma vez que a acidificação do mar provocará uma dissolução deste composto. Como consequência, podemos ter uma redução das espécies marinhas consumidas pelos humanos.

Um estudo indica mesmo que os recifes de corais estão a morrer mais depressa do que o expectado no Pacífico!

Aquecimento global - Recife de coral a morrer

Recife de coral a morrer.
Fonte: Australian Institute of Marine Science / AP File

Todas estas variáveis, como vimos, estão já a afectar o nosso planeta. No presente, já se têm verificado fenómenos climáticos extremos como tempestades, inundações, secas e ondas de calor, as quais têm contribuído para um aumento dos incêndios florestais.

Existe quem critique e se oponha a esta questão. Conheça as controvérsias e as oposições ao aquecimento global no próximo artigo: Aquecimento global III: Os opositores e as controvérsias.

Referências:

Este artigo foi escrito com a antiga grafia.

About Carlos Santos

Frequência em mestrado de Engenharia Electrotécnica e de Computadores. Programador freelancer: Websites, Aplicações Web (JAVA e PHP), J2SE/J2EE, C/C++ e Android. Explicador e formador em informática, matemática e electrotecnia. Formação presencial ou remota através de Skype e Team Viewer. Interesses: Música, áudio, vídeo, ciência, astronomia e mitologia.

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