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A Crise de Portugal – A Ilusão

Ao longo dos últimos 20 anos tenho tido alguns problemas com aquilo que digo. Alertei que a entrada na União Europeia traria problemas insolúveis e que a adesão à moeda única seria um desastre para as economias mais frágeis. Mas nem será necessário ser profeta da desgraça para ter adivinhado tais desastres. Era fácil de ver que após a assinatura dos tratados europeus, todas as actividades básicas e estratégicas, quer do sector primário, quer do secundário foram transferidos para os países com uma capacidade de produção muito superior à nossa. Em troca de subsídios, fecharam-se empresas, desmantelou-se a produção agrícola, abateram-se embarcações.
Portugal havia percorrido um caminho muito considerável após a adesão às Comunidades Europeias para se desenvolver. Desde os finais da década de 80 e na década de 90 a produtividade cresceu, a despesa social aumentou drasticamente e houve um aumento muito significativo quer de investimento estrangeiro, quer do investimento estatal. Portugal crescia acima da média europeia e tinha uma das taxas de desemprego mais baixas da Europa. A sua dívida pública estava nos últimos anos ao nível da média europeia e o deficit até era mais baixo do que a média europeia antes da entrada na moeda única. Em 1999 a Dívida Publica portuguesa correspondia a cerca de 62.956,1 mil milhões de euros.
Em 2011, cada português ganhava em média mais de 50 vezes do que em 1974 (o ano da Revolução) e o PIB per-capita era 63 vezes maior e mais do que duplicou o seu PIB.
O principal problema de Portugal, era a dívida privada, até porque antes da crise, a dívida pública era sensivelmente a mesma que na Alemanha (68% do PIB), no entanto, o grande problema era a dívida privada que estava acima de 200% do PIB. No essencial, os bancos nacionais recorreram a bancos estrangeiros para lhes emprestarem o dinheiro que por sua vez emprestariam aos consumidores portugueses. Mas a subida da dívida pública era lenta e as taxas de juro eram muito baixas mesmo com a entrada no euro. No entanto, o “iceberg” estava já à vista e já não havia tempo para voltar. A divida privada estava a ficar incontrolada, mas os portugueses não quiseram ver, a UE e o FMI não ligaram, só se concentraram na redução da dívida pública. Por isso, como não resolveram os problemas reais do sector bancário, não resolveram o problema da dívida privada.
O crescimento económico do final do século deu lugar ao desastre e nos últimos 8 anos deu-se o colapso das contas públicas com o gasto excessivo e a problemas desastrosos de corrupção, branqueamento de capitais, fugas aos impostos, desregulamentação, falhas do sistema de justiça, financiamento de fundações, multiplicação de institutos, falha total da política energética, etc, etc.
Não entendo nada de economia e tão pouco entendo como se pode acreditar nestas teorias neoliberais que afundaram o mundo num sistema oportunista e sem qualquer regulamentação.
No caso de Portugal, as explicações nem precisam encontrar fundamentação em grandes teorias económicas, pois a nossa natureza corrupta e tendência para o aproveitamento de recursos que não são nossos somados a uma flagrante falta de estratégia nacional que culmina com um sistema legislativo, executivo e judicial pavorosos levam mais uma vez ao estado em que nos encontramos.
Portugal e os portugueses desde o 25 de Abril de 1974, foi, foram e são governados por pessoas medíocres que se serviram do poder para enriquecerem, hipotecaram o futuro do país e tomaram decisões que pior do que que desfraldar expectativas, comprometeram o futuro.
Estes governantes situados quer à esquerda, centro ou direita arruinaram o país não porque contraírem empréstimos para superar os verdadeiros atrasos estruturais, combater a desertificação, a crise demográfica, ambiental ou preparar as novas gerações para os desafios que o país irá enfrentar, mas para o seu próprio benefício.

Crise de Portugal



Toda esta confusão começou com a presidência de sua excelência o Sr. Presidente da Republica o professor, Dr. Aníbal António Cavaco Silva, que herdou uma dívida de cerca de 11 000 milhões de euros e quando saiu a dívida ascendia a cerca de 48 000 milhões, ou seja, um aumento em mais de 400%.
Confesso que me falta a imaginação e o estômago para descrever o 2 últimos governos. A coligação PSD-PP impuseram reformas estruturais, declaram a intenção de arrumar a casa e honrar os compromissos, mostrando à Europa que somos bons alunos e cumpridores. No entanto, a única coisa que estas reformas irão trazer é a desvalorização dos meios de produção, a baixa generalizada dos rendimentos, a extorsão fiscal, a venda de bens públicos que poderiam gerar dividendos e o fim do Estado Social. Estamos exauridos, pobres e em piores condições de enfrentar o futuro.
 Nos casos dos bancos falidos, os seus depositantes acreditavam nessas instituições, acreditavam no Banco de Portugal que garantia a integridade do sistema e acreditavam nos mercados. Mas o sistema económico e financeiro assenta em relações e influências com o sistema político.

 O governo, o Estado e sem ninguém que assegurasse a segurança do sistema, falharam no cumprimento das regras por si criadas e financiaram toda esta máquina através de financiamentos ruinosos que fizeram disparar a Dívida Soberana do Estado.
Em Portugal, falhou o mercado, falhou o Presidente da República, falhou o governo, falhou o Banco de Portugal e falharam os portugueses.
A crise, mergulhou o país numa agonia sem fim e está preso no círculo vicioso. As poucas empresas ainda com vontade para investir não conseguem crédito, visto que os bancos têm dificuldade em avaliar rigorosamente o risco envolvido e poucos tem dinheiro.
Os bancos temem emprestar uns aos outros porque desconhecem a situação real dos candidatos a devedores. Para evitar o colapso do crédito, foi injectado dinheiro no sistema, mas o doente está ligado à máquina em estado terminal.
Em 2005 Portugal sofreu uma das maiores catástrofes da sua História: A subida ao poder do Partido Socialista e do seu secretário-geral, o Eng. José Sócrates Pinto de Sousa. Não abordarei muito este tema, mas apresento unicamente o legado. Analisando unicamente a partir de 2006, a Divida Publica Portuguesa andaria na ordem dos 108 mil milhões de euros ou 70% do PIB e quando Sócrates se demitiu em 2011,o país herdou uma herança que ultrapassava os 174 000 milhões ou cerca de 115% do PIB. Pese embora tenha existido um aumento do PIB, este não era suficiente para acompanhar a despesa e o resultado foi o acumular do deficit.

 Crise de Portugal - gráfico 1

No início da crise, o BCE ao invés de ter comprado as obrigações da dívida portuguesa para evitar o colapso da economia, deixou que o país fosse alvo de avaliações devastadoras e a uma injusta e arbitrária pressão dos especuladores e analistas de rating de crédito. Ao aumentarem os custos da dívida portuguesa para níveis insustentáveis, as agências de rating forçaram Portugal a procurar o resgate. Com o resgate vieram medidas punitivas de austeridade que afectaram os créditos, as pensões de sobrevivência, subsídios sociais e salários públicos de todos os tipos.

 

Crise de Portugal - garfico 2



As políticas europeias impostas a Portugal vão falhar desgraçadamente como previsível. Vamos ficar com mais dívida, mais desemprego, mais falências, mais recessão, mais exploração interna e externa.  E depois, o país vê-se a braços com um problema visceral que a democracia não é capaz de resolver: A Corrupção.
As consequências sociais para Portugal desta profunda, longa e desnecessária recessão económica são trágicas.
Vivemos em mundo em que se atribuem indulgências e culpas como coisas banais, mas afinal do que Portugal tem culpa?
Foi da troika e da Comissão, a responsabilidade das reformas em Portugal e é igualmente da sua responsabilidade o seu falhanço. As projecções iniciais eram completamente erradas. Isto resultou em parte da incompetência das pessoas responsáveis, mas há outro problema que é o da responsabilidade do governo português.
O que os portugueses tem de entender de uma vez por todas é que Portugal faliu por culpa sua. Portugal é culpado por ser corrupto e culpado de um excessivo endividamento. O povo português é mais do que culpado por ter acreditado e votado nos partidos que governam o país e que eleitos democraticamente contraíram dívida com o acordo popular. São os portugueses os culpados da justiça não funcionar e são igualmente culpados de que a economia paralela represente 25% do PIB, o que representa a mais elevada taxa da União europeia. Calcula-se que existem 30 mil milhões de euros de depósitos  portugueses na Suíça e que 80% seja de evasão fiscal.
Os portugueses são culpados pelo mau funcionamento das suas instituições, são culpados por beberem demais e são duplamente culpados por não existir credibilidade no ensino e em qualquer coisa que tenha o dedo do Estado. Os portugueses não podem jamais esquecer que são os agentes do Estado, são a composição do país e aquilo que define. Para o bem ou para o mal somos nós que definimos aquilo que Portugal foi, aquilo que Portugal é e aquilo que Portugal será. Os nossos governantes são apenas os maus instrumentos das nossas escolhas nas urnas. Os portugueses não podem ser ilibados das suas responsabilidades enquanto cidadãos e da ausência de capacidade de exigir as transformações do Estado e isso porque não temos a vontade, a força, a determinação, o conhecimento e o desejo para o fazer.

About João Fernandes

Licenciado em Relações Internacionais; Business Manager da Webmind; Blogger e múltiplos interesses nas áreas das ciências, tecnologia, História e política. Trabalha como freelancer em websites e publicidade.

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