Estamos quase no meio da 2.ª década do século XXI que começou com esperança. No entanto, temos um estranho sentimento. Um misto de assombro perante o domínio do Homem sobre a natureza e ao mesmo tempo de surpreendente inquietude ou até temor face aos riscos e incertezas que nascem do frágil equilíbrio dessas mesmas conquistas. Vivemos uma época repentina e tragicamente inesperada. Ninguém aguenta o próximo ou si mesmo. Sobretudo, não suportamos a solidão assim que tomamos consciência dela. Não aceitamos a ausência de conforto, a derrota, a privação ou um sonho não cumprido. Procuramos maneiras para odiar e muito pouco para amar, sob o pretexto de nos defendermos. Procuramos fugir, de estarmos fora de nós mesmos. Procuramos destruir e construímos muito pouco. Mas tudo isso faz com que o nosso precioso sentir, aquilo que nos distingue e nos orgulha, se transforme em contrariedade, sem sentido, sem objectivo. Vivemos neste mundo e apesar da nossa civilização, comportamo-nos como animais, parasitas, uma epidemia inexterminável. E mesmo assim, mesmo sozinhos, mesmo sofrendo, mesmo perdidos, mesmo aguentando alheios a tudo e a nós mesmos, vazios, pobres, mesmo assim não mudamos o nosso caminho e traçamos um novo destino.
A nossa Humanidade ao fim de 1 milhão de anos de evolução é apenas um acto natural, biológico, quântico. Possui mesmo as suas leis físicas de espaço e tempo. Manipulamos as nossas emoções e as dos outros, a fim de fomentar o próprio interesse. Destruímos a cada dia a nossa essência espiritual, definida pelo cosmos e esquecemos que somos filhos das estrelas, um produto de milhares de milhões de anos de evolução e transformação, para sermos banalmente biológicos com todas as fraquezas e necessidades. Ignoramos tudo o que é nobre, procurando coisas que nos satisfaçam ou justifiquem. Perdemos a esperança e convergimos para uma Humanidade que nos é imposta, vendida como um bem, mas que nos desvia do caminho da liberdade e da felicidade. A cobiça envenenou a nossa alma, levantou barreiras e o ódio e tem-nos feito caminhar em direcção da miséria. Criámos uma época tecnológica, mas estamos cada vez mais dependentes e presos dentro dela. O conhecimento em vez de nos tornar mais sábios, torna-nos mais desconfiados, cada vez mais secos e perdidos e esquecemos que possuímos a mesma génese.
O maior castigo para o Homem é ser Homem. Em todos os cantos do planeta, as incertezas e garantias que considerávamos asseguradas surgem ameaçadas por uma crise de valores primeiro éticos, sociais e culturais e só depois económicos. A sociedade económica com toda a estrutura que a sustenta, assim como os protagonistas que diariamente opinam e os oportunistas que oculta ou ostensivamente se servem desse edifício, não passam de meros adereços decorativos, tão inertes como inúteis para ecoarem uma construção que vacila e se apoia no único elemento que a suporta: a confiança. As escolhas e as acções que não se transaccionam nas bolsas, não se trocam, não se negoceiam, com que cada um define a confiança que merece são a única forma de garantirmos a integridade e robustez desses alicerces à medida que mais peso é deposto nas organizações que neles assentam, das empresas e dos estados.
Será este o mundo irreal, imperfeito, sem rumo, sem sentido que desejamos? Pensamos demasiadamente e sentimos muito pouco. A vida torna-se violenta e tudo se perde. Nós seguimos em frente errantes, figurantes, perdidos, no entanto cada vez mais rápido, cada vez mais depressa… cada vez mais depressa. É este o legado que iremos deixar, uma realidade irreal, como um jogo virtual. Mas para quê tanta pressa?
Ao contrário, do mundo virtual que criámos e das ilusórias acções que se compram e vendem no mercado e nas más consciências, aquelas que realmente valem e contam são simples e estão ao alcance de todos, do mais humilde ao mais poderoso, mas mais facilmente ao primeiro do que ao último.
Nem todo o Homem é igual e é dentro da nossa diversidade que todas as contradições da vida se dissolvem e desaparecem e só na nossa Humanidade existe unidade e dualidade em comunhão
A Humanidade tem o poder de criar o tempo em cada instante e viver a existência em cada detalhe. Distinguimo-nos na frequência com que os observamos e no amor em que os vivemos e compartilhamos em cada momento fugaz e por toda a eternidade.