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Os Deuses Míticos

Neste artigo tentarei desmistificar e dar uma perspetiva tão isenta quanto possível, a algumas das “verdades” anunciadas em vários fóruns e mais concretamente pelo movimento Nova Era que  defendem que Jesus foi uma figura fictícia ou mitológica criada pela comunidade cristã primitiva.

Um documentário que se tornou viral no youtube de nome Zeitgeist, sustenta essas mesmas conjeturas. Muitos acreditam na total autenticidade do vídeo, outros criticaram com o objetivo de fatos que descredibilizem uma teoria que está em desacordo com aquilo que é contado desde a infância e daquilo que entendemos como a “Verdade”. Em rigor, os críticos encontraram algumas, porque também, na minha opinião, o vídeo elabora uma teoria muito discutível sob o ponto de vista histórico, astrológico e teológico.

 De acordo com o Zeitgeist, a história de Jesus foi baseada em histórias de deuses antigos, principalmente Hórus, o deus solar, filho de Osíris e Ísis, considerado como a manifestação do poder do Sol, o princípio do fogo,  a “encarnação do dia”. Hórus terá nascido a 25 de Dezembro da virgem Ísis. O seu nascimento foi acompanhado por uma estrela do leste, seguida por 3 reis em busca do salvador. Aos 12 anos era uma criança prodígio e aos 30 foi baptizado por Anup, começando assim o seu reinado. Viajou com 12 discípulos e fez milagres. Conhecido por vários nomes tais como a verdade, luz, bom pastor, cordeiro de Deus. Foi traído por Tifão, crucificado, enterrado e ressuscitou 3 dias depois.

Os Deuses Míticos - Taharqa oferecendo jarros de vinho a Horus

Taharqa oferecendo jarros de vinho a Horus.
Autor: Guillaume Blanchard

 Em rigor,  a própria bíblia ou qualquer outro escrito, refere que Jesus nasceu no dia 25 de Dezembro. A tese da semelhança da data de nascimentos, no mínimo não é rigorosa, mas desenvolverei mais à frente este raciocínio. Hórus nasceu no mês do Khoiak que corresponde a Outubro-Novembro do calendário ocidental. Ísis e Osíris eram irmãos gémeos, que mantinham relações sexuais ainda no ventre da mãe e desta união nasceu Hórus, não existindo assim qualquer semelhança com o Jesus. Hórus não era chamado de verdade, luz, filho adorado de deus. Simplesmente, era apelidado de criança, filho de Isis e Osíris, pilar da sua mãe, salvador do seu pai e deus Sol, senhor dos céus. Nunca foi denominado por “Cordeiro”, pois esta expressão remete ao ato de sacrifício e pelo que se conhece, os egípcios não sacrificavam cordeiros. Não teve missão, não nasceu servo, pois era rei, nasceu deus e adorado como tal, enquanto que para as comunidades pré-cristãs, Jesus era um homem (mesmo sendo na essência Deus) cuja uma missão era ensinar e pregar a boa nova.

 Mais uma vez existiu pouco rigor relativamente à afirmação de que Hórus terá sido baptizado. A data do seu nascimento é tão antiga que impossibilita o “baptismo”, pois tal pratica não existia na época. Da mesma forma que não existe qualquer registo de que Hórus tenha tido 12 discípulos, traído por Tifão, crucificado, enterrado e ressuscitado após 3 dias. O que se encontra registado é que foi Osiris, o seu pai que foi morto por Seth. O seu corpo teria sido cortado em pedaços e lançado ao Nilo e os restos foram retirados da água pelo deus crocodilo. Hórus vingou a morte do pai e na luta contra o tio, perdeu um olho que foi substituído por um amuleto de serpente. Depois da recuperação, Hórus saiu vitorioso da luta contra Seth.



 O filme afirma que Hórus foi crucificado assim como Jesus, o que não corresponde à verdade, pois no antigo Egipto não se praticava a crucificação, visto que esta era uma pratica romano-cartaginense de execução-tortura. A crucificação só chegou ao Egipto depois da conquista por Alexandre, sendo o culto de Hórus muito mais antigo. Arqueologicamente, o primeiro relato documentado de um deus a ser morto por crucificação foi Jesus.

Os Deuses Míticos - Crucificação de Jesus de Nazaré

 Mas temos de ser objetivos na análise e na crítica. Os atributos de Hórus, originais ou não, influenciaram várias culturas e existem muitos outros deuses com a mesma estrutura mitológica. Tomemos como exemplo, o erro de considerar Isis virgem, visto que terá sido fecundada ainda no ventre materno. Na sua vida fora do ventre materno ela não conheceu (no sentido bíblico do termo) outro homem, tendo vindo a dar à luz, anos depois. Existem diferenças entre ambas as situações, mas parece-nos que as semelhanças não tornam assim tão disparatado pensar que uma história inspirou a outra. O que verdadeiramente interessa é que ambas são simbólicas, pois quem acreditaria ser possível que Isis pudesse ser fecundada pelo seu próprio irmão no ventre materno? Do outro lado, os cristãos  acreditam que uma mulher casada continuasse virgem e tivesse concebido por obra e graça do Espírito Santo.

 Duvido de igual modo de ambas as histórias, ambas são mitologias,  parábolas. Qual delas é verdade? Para o crente, é a que lhe ensinaram e que tanto se esforçam para tentar preservar procurando contradições que a coloquem em causa. Mas se formos procurar contradições na Bíblia quantas não encontramos? Para mim, nenhuma das teorias contem toda a verdade, embora quem sabe se todas elas não contêm alguma razão?

O que é evidente após uma análise isenta, é que tudo o que se sabe sobre os “deuses míticos” é através de desenhos e não existe nada que prove a existência de desenhos que representem a ideia de virgindade das mães destes deuses. Então de onde foi retirada a informação de que as mães desses deuses eram virgens? Os mesmos autores e os demais estudiosos biblicos crentes ou não crentes, frequentemente esquecem algo bastante importante. No contexto de algumas culturas “virgem” era apenas uma jovem mulher e não o conceito propriamente dito de virgindade.

A crença cristã, sustenta que Jesus foi concebido em forma espiritual, sem relação, dentro de uma humana. Com honestidade, não encontro outro exemplo de espíritos a terem relações sexuais com pessoas vivas.  As escrituras contam que Deus se fez carne na pessoa de Jesus. Deus renasce como homem através de Jesus e morreu como homem. Com os deuses míticos, nada disso acontece,sendo o cristianismo é singular nesta crença.

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Fontes:

Eram os deuses astronautas?- Erich Von Daniken

Havia Gigantes na Terra- Zacharia Sitchin

A Odisseia dos Deuses- Erich von Daniken

A Escada para o céu- Zacharia Sitchin

Walter Burkert, Ancient Mystery Cults (Cambridge, Massachusetts, and London: Harvard University Press, 1987), 75.

Everett Ferguson, Backgrounds of Early Christianity, 2nd Edition (Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdman’s Publishing Company, 1993), 248.

Gary R. Habermas and Michael Licona, The Case for the Resurrection of Jesus (Grand Rapids MI : Kregel Publications, 2004), 90.

About João Fernandes

Licenciado em Relações Internacionais; Business Manager da Webmind; Blogger e múltiplos interesses nas áreas das ciências, tecnologia, História e política. Trabalha como freelancer em websites e publicidade.

One comment

  1. Excelente artigo! Gostei muito!

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