Os portugueses tem por hábito atribuir as culpas dos seus males aos outros e recusam-se a aceitar que tem alguns maus hábitos causadores de despesa. Fiquei surpreendido com a distribuição da despesa de cada família:
Nos gastos para a casa, surgem algumas coisas particularmente interessantes:
Em Portugal ninguém é responsabilizado, ninguém é julgado ou punido por crimes financeiros, ninguém é punido por negócios ruinosos do Estado. Em Portugal, quando um governo comete erros, não temos a capacidade de corrigir o erro que fizemos quando os elegemos e de agir nas próximas eleições.
Os portugueses são culpados por terem acreditado na Europa e nas promessas que foram feitas nos tratados de adesão e nos trados da União. Quando o país aderiu ao euro, foi prometida a prosperidade e os milhares de milhões de euros. Porém, a agenda imediata era a extensão sem limites da precariedade, a privatização dos serviços públicos, a desregulamentação financeira.
A Europa culpa-nos de termos falido porque contraímos dívida para viver acima das nossas possibilidades, mas no entanto foi essa Europa que nos emprestou o dinheiro, foi essa Europa que regulamentou o sistema financeiro em que permite que um Estado se endivide para lá daquilo que pode pagar.
Portugal cometeu um erro e os portugueses pagam esse erro. A Europa cometeu um erro e os portugueses pagam por esse erro.
A mesma União Europeia que nos insulta quando diz que nos sustenta e que nos resgatou do desastre, admite que a economia portuguesa possa crescer 1% ao ano, no entanto as “baixas taxas” de juros que o governo se orgulha estão em cerca de 2,8%. Com estas contas, sinceramente não entendo muito bem onde está o sucesso das políticas de austeridade. A mesma União europeia determina que os Estados não podem ser financiados pelo BCE, mas este pode financiar os bancos privados com taxas de juros baixas e estes vão emprestar aos Estados com dificuldades a uma taxa de juros muito superior.
O caso português assume contornos de drama. Portugal está mais endividado que antes por causa do programa, e a dívida privada não caiu e está mesmo em pior estado do que estava no início do programa.
A receita este ano teve uma quebra de 12% no IRC (605.5.2M€). Mas o governo teve sorte, pois houve um aumento de 4,4% no IVA (580.9M€ e no IRS com um aumento de 235.7M€ e de ISP de 23.5M€.
Como se não bastasse existir um saldo negativo a nível da Receita e da Despesa com um saldo negativo de €288,5 milhões ainda temos de adicionar às contas a famosa Dívida Publica os juros da Dívida no valor de €7040,6 milhões.
Despesa Total : – 48403.9M€
Deficit: – 7329.1M€
Vou tentar de seguida fazer uma pequena análise da questão da Dívida publica e dos sucessos do governo português e da política da troika.
Em 2014, o Estado pagou mais de 7.000€ mil milhões em juros e o mesmo havia acontecido em 2013 em que havia pago sensivelmente a mesma quantia, no que se traduziu que em 2014 foram pagos mais 130,8M€ que em 2013, ou sejam, +1.9%.
Sem entender muito de contas, depreendo que que o Estado ande a gastar cerca de 4,5% do seu PIB ou 17% da sua receita só para juros e coincidentemente o famoso deficit deverá rondar o mesmo que pagamos juros.
Hoje a Dividida Publica de Portugal situa-se nos €217.126,4 mil milhões e aumenta a um ritmo de uns € 67 000 000 ao dia e quando acabar de ler este artigo, terá aumentado uns €1 400 000 e tenha atenção caro leitor que se você for português, deverá cerca de €20 000 ao estrangeiro. A este ritmo, a dívida corre o sério risco de entrar em ruptura descontrolada” nos pagamentos do Estado.
E depois os europeus perguntam-se porque é que os portugueses não são europeus.
Esta conclusão traz-me algum mau estar, pois é do conhecimento geral de que se o país tem um deficit, significa que terá de contrair mais dívida para fazer face ao mesmo, ou seja, contraímos dívida para pagar dívida. A receita do governo e da União Europeia é para que se reduza mais despesa, no entanto já não existe forma de o fazer sem que se apliquem o remédio certo que seria a de atacar a máquina do estado e a revisão das rendas pagas às PPP´s. No entanto, como é um tema tabu, o governo faz frente ao deficit tentando encontrar mais receita através do aumento de impostos.
Mas não posso concordar com determinadas mentiras que têm sido repetidas: os portugueses gastaram acima das suas possibilidades e que não há alternativa à austeridade para expiarem os pecados.
Grande parte da divida pública e privada é fruto da corrupção e não dos alegados excessos dos portugueses. Cerca de 68% da dívida privada é resultante da especulação imobiliária, sendo só cerca de 15% da divida privada atribuída efectivamente aos excessos dos portugueses.
A verdadeira explicação para a crise em Portugal está nos fenómenos de corrupção na administração central e local, que têm permitido a transferência de cerca de 7% dos recursos públicos para grandes grupos económicos, tais como
o grupo Espírito Santo, o grupo Mello e o grupo Mota Engil.
Em 2011, as PPP custaram 1.700 milhões de euros, ou seja, mais do dobro dos 799 milhões de euros que estavam previstos inicialmente. O que o Estado pagou a mais às PPP só é possível porque o aparelho de Estado é flagrantemente corrupto.
Como exemplo da gestão danosa dos dinheiros públicos, tomemos o exemplo de um contrato de uma PPP, numa auto-estrada, em que o concessionário paga multas, ou recebe prémios do Estado, em função da taxa de sinistralidade. Se a esta aumentar o Estado paga ao concessionário para que e este proceda a obras na via, mas, se houver uma redução de na sinistralidade, o Estado tem de pagar à empresa um prémio.
Afinal, o que é isso de Dívida Publica?
Valor em euros das dívidas das Administrações Públicas (Estado, Administração Regional e Administração Local Autárquica) a terceiros.
Do total da dívida Publica portuguesa, cerca de 34% é divida Interna e os restantes 66%, dívida externa.
Mas as coisas não se ficam por aqui, pois aos €217.126,4 mil milhões de Dívida Publica, teremos de falar em algo que poucos se lembram que é a Dívida Externa Bruta (Total das dívidas com o exterior, contraídas pelo sector público, sistema bancário, empresas e particulares) e então as coisas complicam um pouco mais pois rondará os 230% do PIB, ou melhor dito €300 000 000 000. Como são muitos zeros, vejamos:
É sabido que só com um crescimento acima de 2% teremos condições para o peso da dívida começar a diminuir, e isso ainda é uma miragem, pois Portugal regista um crescimento de 1% ao ano de 2014.
Os iluminados governantes portugueses propõem uma receita mágica e genial: vamos aumentar as exportações!
Concordo plenamente, mas sem poder fazer manipulação monetária, creio que seja difícil que as exportações aumentem e depois, resta saber o que exportar mais? Cortiça? Sapatos?
É verdade que as exportações aumentaram e poderão ter uma tendência para aumentar, mas haverá um limite evidente a esse aumento que será limitado pelos baixos índices de produtividade e pelo valor real dessas exportações e mesmo que se tenha assistido a uma tendência para o aumento do número de empresas que exportam (15%).
Portugal terá exportado (Bens e serviços) no valor de € 70.203.370. Portugal terá importado em bens e serviços, um total de €68.221.750.
Se separamos as rubricas, ou seja os Bens e os serviços, os festejos do governo parecem ser exagerados, já que se por um lado houve um aumento das exportação de Bens face a 2013, esse volume representa somente € 47.385.920, mas importou em Bens no valor de €56.350.770, registando dessa forma um saldo negativo de €– 8.965.00
A situação económica e financeira de Portugal são um reflexo de uma grande tragédia que se abateu sobre o país: Os diversos governos.
Oiço muitas pessoas a atribuírem a crise no país ao euro. Bem, em muitos aspectos até posso concordar com isso, mas analisando as contas a questão pode ter outra interpretação. Portugal aderiu à moeda única em 1 de janeiro de 2002, no entanto no período anterior a balança comercial do país era já fortemente deficitária.
O grande salvador deste governo e do país e o suporte da balança comercial, tem sido dado pelos serviços que, impulsionados pelo turismo, cresceram para €22.817.450, representando este sector 32,6% das exportações e terá importado de serviços cerca de €11.870.980, registando um saldo positivo de €10 946 470.
Não vejo razões para festejos e embora pese o enorme esforço dos empresários portugueses, este não é suficiente e dificilmente o será. As contas do governo salvaram-se e traduziram-se num saldo positivo de €1.981.620 e que até foi menor do que no ano anterior em cerca de 1000 milhões de euros, por 2 factores determinantes: O aumento do volume das exportações de Serviços (Turismo) e à diminuição quer do preço dos combustíveis, quer da quantidade importada.
Como todos sabem, os combustíveis são um tema nevrálgico e o aumento internacional dos combustíveis provocado por factores vários poderá deitar este castelo de vitórias feito de cartas por terra.
Este governo terá de ter atenção e contenção nos festejos de vitórias inglórias e os portugueses devem ter especial atenção na moderação das críticas aos parceiros europeus, vejamos:
O aumento das exportações do país, deveu-se a um aumento de 2,8% nas exportações para o espaço europeu (O maior parceiro de Portugal, que representa mais de 56% das nossas exportações) e um aumento de 27,9% das exportações para China e de 2,7% para Angola. No entanto, as exportações caíram 15,5% para o Brasil e uma queda de 0,2% para o resto do mundo. Estes dados, merecem consideração e os nossos governantes devem esperar mais um pouco antes de abrirem o espumante.
Os sinais de abrandamento da zona euro para 2015 deveriam ser um alerta para a economia portuguesa, que aposta nas vendas ao exterior para sustentar a recuperação económica e o governo está a depositar muitas esperanças que as exportações aumentem 0,2% quando as condições podem estar a um passo de mudar. Adicionando a esta meta, o governo traça uma outra meta que passa pelo aumento do consumo interno na ordem dos 1,3%, para assim atingir um crescimento de 1,5% em 2015.
Os técnicos do governo devem estar cientes a um tema muito sensível, que é o dos combustíveis e lubrificantes. No momento assistimos a um comportamento muito positivo, pois desceram 22%, passando de €4 015 mil milhões para €3 142 mil milhões. E, se em 2013 défice da balança comercial de bens atingiu o nível mais baixo desde 1996,ficando-se pelos 9640 milhões, em 2014 o intervalo voltou a aumentar: nos dez primeiros meses o valor foi já de 8795 milhões, e vai ultrapassar os dez mil milhões em termos anuais.
As perspectivas mais optimistas apontam para que a economia portuguesa parece ter entrado num período com um crescimento tendencial modesto, mas positivo, embora, alertando que os sinais de recuperação não sejam suficientemente robustos, nomeadamente quanto ao investimento, ao nível elevado do desemprego e ao impacto «incerto» da descida do preço do petróleo. Assim, o PIB poderá crescer 1,5% em 2015 e 1,8% em 2016. Quanto à taxa de desemprego poderá situa-se nos 14,2% e de 13,4% no ano passado e este ano.
Em 2014 o défice deve situa-se nos 4,6% e a Comissão prevê que o défice português seja de 3,2%, em 2015 e um défice de 2,8% para 2016 das contas publicas. Estes números não levam contudo em conta eventuais impactos negativos relacionados com a operação de capitalização do Novo Banco.
Em paralelo com o sucesso deste governo, apresento as previsões para o crescimento no espaço europeu:
Fim da Parte II