Introdução
Na área da electrotecnia, uma das matérias básicas que aprendemos são circuitos de corrente contínua com resistências em série e em paralelo. Para começar, recordemos que num circuito básico temos uma fonte de tensão contínua, uma resistência total e uma corrente eléctrica.
Recordemos ainda a Lei de Ohm: U = R.I
E ainda, as grandezas:
- U = Tensão eléctrica medida em volts (V)
- R = Resistência eléctrica medida em ohms (Ω)
- I = Intensidade de corrente eléctrica medida em amperes (A)
Quando temos circuitos com várias resistências em série, em paralelo, ou série e paralelo, é importante sabermos como obter uma resistência equivalente, de forma podermos calcular outras grandezas como a tensão ou a corrente.
Resistências em série
Vamos então começar com um circuito de resistências em série. Na figura temos “n” resistências com os valores R1, R2, R3, … e Rn.
Para determinar a resistência equivalente, fazemos o somatório dos valores de todas as resistências:
$$R_{eq} = ∑↙{i=1}↖n R_i = R_1 + R_2 + … + R_{n-1} + R_n (Ω)$$
Isto é, se tivermos, por exemplo, um circuito série com 3 resistências: R1 = 8Ω ; R2 = 4Ω e R3 = 10Ω
Teremos que, a resistência equivalente será dada por:
$$R_{eq} = R_1 + R_2 + R_3 = 8 + 4 + 10 = 22Ω$$
Ou seja, poderíamos ter um circuito com apenas uma resistência (Req) no valor de 22Ω, como mostra a figura ao lado.
Agora, será mais fácil determinar uma das outras grandezas. Imagine-se que o circuito é alimentado por uma tensão de 44V e queríamos determinar o valor da corrente. Bastaria então, aplicar a lei de Ohm:
$$U=R.I⇔I = U/R = 44/22 = 2A$$
Num circuito série, temos ainda que:
– A corrente I que atravessa cada resistência é sempre igual. Se tivermos “n” resistências, temos que:
$$I = I_1 = I_2 = I_3 = … = I_{n-1} = I_n$$
– A tensão aplicada ao circuito é igual à soma das quedas de tensão em cada resistência.
$$U = ∑↙{i=1}↖n U_i = U_1 + U_2 + … + U_{n-1} + U_n (V)$$
Isto quer dizer que, em cada resistência vamos ter uma queda de tensão que será igual ao valor dessa resistência vezes a corrente que a atravessa, a qual sabemos que é sempre igual e de valor I.
Se considerarmos o exemplo atrás, teremos as seguintes quedas de tensão:
- U1 = R1 × I = 8 × 2 = 16V
- U2 = R2 × I = 4 × 2 = 8V
- U3 = R3 × I = 10 × 2 = 20V
Se somarmos as quedas de tensão, temos que: 16 + 8 + 20 = 44V!
(Note que também é muito comum representar uma queda de tensão por ΔU, pelo que neste caso teríamos ΔU1, ΔU2 e ΔU3)
Resistências em paralelo
No caso de um circuito com resistências em paralelo, as contas são bem diferentes e a resistência equivalente é dada por:
$$1 / R_{eq} = ∑↙{i=1}↖n 1/ R_i =1/ R_1 +1/ R_2 + … + 1/R_{n-1} + 1/R_n (Ω)$$
Isto é, o inverso da resistência equivalente é igual à soma dos inversos das resistências.
Consideremos agora que temos um circuito com três resistências em paralelo de valores iguais às que usámos em série, isto é: R1 = 8Ω ; R2 = 4Ω e R3 = 10Ω
A resistência equivalente será dada por:
$$1/R_{eq}=1/8 + 1/4 + 1/10 ⇔ 1/R_{eq}=19/40 ⇔ R_{eq} = 40/19 ≈2,1Ω$$
Repare que a resistência equivalente é menor que o valor da resistência mais baixa no circuito!
Se mantivéssemos a mesma tensão de entrada do exemplo série, 44V, repare no valor da corrente agora para o caso do paralelo:
$$U=R.I⇔I = U/R = 44/2,1 ≈ 20,9A$$
Comparando com a corrente do circuito série, esta é mais de 10X maior! O facto explica-se bem se verificarmos que, quando temos um circuito série, temos a resistência equivalente igual à soma das resistências e, no circuito paralelo, temos o inverso da resistência equivalente igual à soma dos inversos das resistências, o que conduz a um valor muito mais baixo.
Como a corrente é inversamente proporcional à resistência, menos resistência implica mais corrente! Vejamos também como se comportam as correntes e as tensões num circuito paralelo.
– A corrente total do circuito é igual à soma das correntes que atravessam cada ramo das resistências. No esquema acima, é possível ver I1, I2, I3, … In… De facto, temos:
$$I= ∑↙{i=1}↖n I_i = I_1 + I_2 + … + I_{n-1} + I_n (A)$$
– A tensão aplicada é sempre igual às quedas de tensão em cada ramo do paralelo. Isto é:
$$U=U_1 = U_2 = … = U_{n-1} = U_n$$
Quer dizer que, no exemplo em paralelo, a queda de tensão em todas as resistências é igual e vale 44V.
Quanto às correntes, teremos:
$$I_1 = U / R_1 = 44 / 8 = 5,5A$$
$$I_2 = U / R_2 = 44 / 4 = 11A$$
$$I_3 = U / R_3 = 44 / 10 = 4,4A$$
Se somarmos os valores destas correntes, teremos então o valor de 20,9A.
Juntando as coisas com um exercício resolvido
Consideremos o circuito usado na apresentação deste artigo, mas agora com valores:
- R1 = 10Ω; R2 = 20Ω; R3 = 30Ω; R4 = 10Ω e R5 = 25Ω
- I = 5A
Pretendemos saber:
- O valor da tensão U
- O valor das correntes I3 (que atravessa R3) e I24 (que atravessa R2 e R4)
- A queda de tensão U4 na resistência R4
Vamos redesenhar o esquema de forma a evitar erros e a ajudar nos cálculos:
Temos então a resistência R1 em série com um paralelo e em série com R5. Vamos começar pelo paralelo, onde temos dois ramos. Um com a resistência R3 e outro com as resistências R2 e R4 em série.
– Série de R2 e R4:
$$R_{24} = R_2 + R_4 = 20Ω + 10Ω = 30Ω$$
– Paralelo R3 e R24:
$$1/R_{324} = 1/R_3 + 1/R_24 = 1/30 + 1/30 ⇔ 1/R_{324} = 2/30 ⇔ R_{324} = 30/2 = 15Ω$$
Repare que, como os valores das resistências no paralelo são iguais, o valor da resistência é metade1.
– Finalmente, podemos determinar a resistência equivalente total:
$$R_{eq} = R_1 + R_{324} + R_5 = 10Ω + 15Ω + 25Ω = 50Ω$$
– A tensão U será então dada por:
$$U = R×I = 50 × 5 = 250V$$
– Sabemos que a queda de tensão em cada ramo de circuitos em paralelo é igual à tensão de entrada. Mas não podemos assumir que, neste caso, a queda de tensão nos ramos paralelos vai ser 250V! Repare que temos à mistura duas resistências em série com o paralelo, R1 e R5! Logo, teremos que determinar as quedas de tensão em R1 e R5! Para ajudar a compreender, imagine o esquema desenhado da seguinte forma:
Repare que o esquema é o mesmo, mas disposto de outra forma. Ignorando agora a questão da queda de tensão U4, verificamos que temos aqui 3 quedas de tensão a ter em conta: U1, U324 (do paralelo) e U5.
$$U_1 = R_1 × 5 = 10 × 5 = 50V$$
$$U_{324} = R_{324} × 5 = 15 × 5 = 75V$$
$$U_5 = R_5 × 5 = 25 × 5 = 125V$$
Verificando a soma das quedas de tensão:
$$U=U_1 + U_{324} + U_5 = 50V + 75V + 125V = 250V$$
Assim, já sabemos que a queda de tensão no paralelo é 75V e não 250V! Logo, podemos agora determinar as correntes:
$$I_3 = U_{324} / R_3 = 75/30 = 2,5A$$
$$I_{24} = U_{324} / R_{24} = 75/30 = 2,5A$$
Se reparar, temos que os valores das correntes são iguais em cada ramo! É estranho? Não, pois repare que como os dois ramos têm os valores das resistências iguais, a corrente vai-se dividir em partes iguais2.
Finalmente, e como agora já sabemos que a corrente que atravessa as resistências R2 e R4 é de 2,5A, podemos determinar a queda de tensão em R4:
$$U_4 = R_4 × I_{24} = 10 × 2,5 = 25V$$
Este artigo foi escrito de acordo com a antiga grafia.
Notas:
- Quando temos um circuito estritamente paralelo em que todas as resistências dos ramos são de valor igual a R, e considerando que temos “n” ramos paralelos, podemos simplificar o cálculo da resistência equivalente com a expressão:
$$ R_{eq} = R / n$$ - No mesmo caso, verifica-se que as correntes vão-se distribuir de forma igual por cada um dos “n” ramos, pelo que também podemos deduzir que, para cada ramo “i”, a corrente será sempre dada por:
$$ I_i = I /n$$