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Os Templários

 Antes de 1307, os templários, assim como os Cavaleiros de São João, e em parte também a Ordem Teutónica,  eram organizações empenhadas nas cruzadas contra os muçulmanos e ainda que reinasse hostilidade entre essas ordens, elas estavam unidas no combate pela cristandade.

Dois homens profundamente crentes fundaram a Ordem dos Templários: Hugues de Payns e Geoffroy de Saint-Omer. Em Jerusalém, um pequeno círculo de amigos animados com grande fervor religioso, juntou-se a  eles em  1117. Um grupo era composto por 9 cavaleiros, sem protecção ou grandes meios financeiros com o objectivo de proteger os peregrinos e estar a serviço de Jesus e da Fé. O grupo apresentou-se ao rei Bauduíno de Jerusalém e ao Patriarca que os louvaram pelas suas intenções. Em 1118, Balduíno deu-lhes uma ala do Monte do Templo, um palácio supostamente construído sobre os alicerces do Templo de Salomão. Foi a partir desta associação que os Templários se tornaram conhecidos como os Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo do Rei Salomão. Os Templários receberam a sanção oficial da Igreja no Concílio de Troyes, em 1128, e as suas regras de conduta foram estabelecidas pelo abade St. Bernard de Clairvaux.

 Legitimada pelo papa Honório II em 31 de Janeiro de 1128, a Ordem do Templo ganhou estatuto, regras e um comandante: o Grão-Mestre Hugh de Payens, que visitou Inglaterra em 1128 para angariar dinheiro e recrutas para os Templários, e assim começou a história dos Cavaleiros Templários ingleses.

 Em 1130, De Payens regressou à Palestina chefiando 300 cavaleiros, na maioria recrutados em França e em Inglaterra; nesse mesmo ano, Bernard de Clairvaux escreveu a De Payens, uma carta em que manifestava o seu apoio à ordem. Esta carta viria a ter um efeito profundo, pois rapidamente circulou pela Europa, influenciando muitos jovens a juntarem-se à ordem ou a doar terras e dinheiro à sua causa.

 Em Inglaterra, o rei Henrique II deu aos Templários terras por todo o país, entre as quais extensas propriedades nas Midlands. No final do Século XII, numa área entre Fleet Street e o rio Tamisa, em Londres, os Templários ingleses construíram o seu quartel-general, a Temple Church (ou Igreja Redonda), construída a partir de um projecto baseado na Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém.

O papa Inocêncio II, através da bula “Omne datum optimum” (1139), estabelece privilégios que tornam a instituição independente de toda interferência de autoridades políticas e religiosas. Segundo a encíclica, os templários só deviam obediência ao Papa.

 A ordem templária estava organizada da mesma maneira em todo o lado. Os pormenores de como era feita a iniciação à ordem são obscuros – com efeito, este é um factor que acabou por desfavorecer os Templários. Sabe-se que além de fazerem votos de pobreza, castidade, piedade e obediência, os candidatos tinham de ser nobres de nascença e de abdicar de todos os seus bens materiais, entregando toda a sua riqueza à ordem. Como soldados, os Cavaleiros Templários juravam nunca render-se ao inimigo. Uma morte gloriosa no campo de batalha, lutando por Deus (contra o que eles viam como as forças do Mal), assegurava que o cavaleiro ascendesse directamente ao Céu. Esta atitude de lutar até à morte, juntamente com o seu treino rigoroso e severa disciplina, fazia dos Templários um inimigo temível em combate.



 Em 1200, o papa Inocêncio III emitiu uma bula papal em que declarava que todas as pessoas e bens no interior das casas dos Cavaleiros Templários estavam imunes às leis locais. Os Templários estavam isentos de pagar impostos e dízimos; este foi um ponto de importância vital para a rápida acumulação de riqueza de que a ordem usufruiu. Através das suas enormes propriedades na Europa, os Templários reuniram riqueza suficiente para pagarem as vastas somas necessárias para equiparem os seus soldados e sustentá-los na Terra Santa. Foram construídas numerosas fortificações em pontos estratégicos, utilizando dinheiro obtido através de doações e dos seus vastos empreendimentos comerciais na Europa (que incluíam a compra e o arrendamento de terras e propriedades e o empréstimo de dinheiro). Contudo, apesar de todo este trabalho, os sangrentos combates dos Templários contra as forças numericamente superiores do islão acabaram por se revelar um fracasso. Em 1291, os Templários restantes na Terra Santa, foram aniquilados pelos mamelucos na cidade de Acre. Com esta derrota terminou o domínio cristão na Terra Santa e as pessoas começaram a duvidar se ainda seria vontade de Deus que fossem enviados mais cavaleiros para lutar contra o islão.

 Após a queda de Jerusalém que significava a vitória definitiva dos muçulmanos, os Cavaleiros de São João fugiram da Terra Santa e estabeleceram-se em diferentes ilhas do Mediterrâneo. Usaram os nomes dessas ilhas para designar a sua ordem e foi assim que se denominaram: os “Cavaleiros de Rhodes” e mais tarde os “Cavaleiros de Malta”. Cresceram até se tornarem um poder militar e marítimo espantoso no Mediterrâneo, antes de serem vencidos em 1789 por Napoleão. Em 1834, a sua sede principal foi transferida para Roma, onde eles são conhecidos, até hoje, como a “Ordem Soberana e Militar de Malta” (SMOM), de onde provém a cruz de Malta.

Com o fim das cruzadas e a perda da Terra Santa, muitos começaram também a questionar que propósitos serviam os Cavaleiros Templários, depois de terminar a razão da sua existência. A riqueza e o poder de que a ordem gozava, com a isenção de impostos e as enormes propriedades na Europa, trouxeram-lhe muitos (e muitas vezes perigosos) inimigos.

 Em Outubro de 1307, o rei Filipe IV, o Belo de França mandou prender simultaneamente todos os Templários que conseguiu encontrar no país. Filipe confiscou todas as propriedades e bens, acusando a ordem de crimes de heresia, homossexualidade e adoração de ídolos. Alguns dos Templários foram posteriormente torturados por inquisidores até conseguirem extrair as confissões necessárias, sendo depois executados. É muito improvável que confissões obtidas em tais condições tivessem alguma base de verdade.

 Os templários que conseguiram escapar, procuraram protecção em regiões mais seguras como Portugal (onde mais tarde formam a Ordem dos Cavaleiros de Cristo), Inglaterra (apesar de muitos cavaleiros terem sido presos e julgados, a maior parte foi dada como inocente) e Escócia (sob o domínio do excomungado Robert the Bruce, e não foram assim afectados pela bula papal) acabando por se unirem a lojas de franco-maçons já existentes e, sob essa nova entidade, participaram na reforma protestante, para se vingarem das perseguições.

 O seu grão-mestre, Jacques de Molay, foi queimado na fogueira, em 11 de Março de 1314, diante da catedral de Notre-Dame. Diz-se que, antes de ser engolido pelas chamas, De Molay fez uma profecia em que Filipe IV e o papa Clemente V morreriam no período de um ano. Quer De Molay tenha ou não feito esta profecia, a verdade é que ambos os homens morreram antes de ter passado um ano desde a execução do grão-mestre. Com a sua morte, terminaram os 200 anos de existência dos Cavaleiros Templários.

 Foram avançadas muitas teorias para explicar porque instigou Filipe IV, a atacar aos Templários. A maioria dos concorda que o rei procurava privar os Templários da sua riqueza e poder, apropriando-se deles, através de todos os meios necessários. No entanto, não é ainda clara a informação sobre quanta da riqueza dos Templários é que Filipe conseguiu deitar a mão.



 Esta é, para todos os efeitos, a história convencional. Não se esclareceu o que aconteceu às cerca de quinze mil casas templárias, à sua frota de navios, ao seu vasto arquivo, com pormenores dos seus negócios e transacções financeiras, e aos próprios Templários.

 A história dos templários teria, sem nenhuma dúvida, passado desapercebida, se não tivessem surgido um conjunto de histórias que se tornaram lendárias. Supostamente, durante as escavações que os templários levaram a cabo no monte do templo, teriam descoberto o Santo Graal e o trouxeram para a Escócia para a capela de Rosslyn, uma igreja do Século XV na aldeia de Roslin, em Midlothian; a Arca da Aliança e até fragmentos da cruz verdadeira.

 Existe a teoria de que os templários teriam pretendido derrubar a religião judaico-cristã; a economia monetária e comercial baseada na autoridade de receber juros, que existia desde o Antigo Testamento e o princípio do poder absolutista. Os templários tiveram a ideia de derrubar essas três pedras angulares, desde que tivessem bastante poder para isso. Tratava-se, pois, de eliminar a Igreja judaico-cristã e de colocar no seu lugar uma comunidade de fé digna daquela dos primeiros cristãos,  excluindo tudo o que se ligasse ao Antigo Testamento. Resultaria disso uma reviravolta do sistema económico e monetário, que incluiria a proibição de receber os juros de um empréstimo, a destituição das monarquias absolutas e a edificação de uma ordem aristocrático-republicana. Tudo isso permite-nos compreender por que as forças reinantes iriam proceder no sentido da aniquilação dos templários

 A vila de Baldock, em Hertfordshire, foi fundada pelos Templários e entre 1199 e 1254 fora a sede inglesa da ordem. É certamente plausível que depois da censura oficial da ordem os Templários continuassem como sempre, mas encontrando-se secretamente em cavernas, adegas e salas secretas. A caverna de Royston, em Hertfordshire, situada no cruzamento de duas estradas romanas (a Icknield Way e a Ermine Street) pode ter sido um desses locais de encontro dos Templários. A caverna tem uma quantidade de gravações medievais nas paredes, muitas pagãs, mas também figuras que se pensam ser de Santa Catarina, São Lourenço e São Cristóvão. Esta teoria de que a caverna de Royston foi usada pelos Templários é apoiada pela presença de gravações semelhantes em França, na Torre de Coudray, em Chinon, onde em 1307 muitos Templários foram aprisionados antes da sua execução.

Alguns grupos esotéricos dos dias de hoje, tais como a Ordem do Templo Solar, reclamam ser descendentes da Ordem Templária inicial e existem muitas outras organizações que tentaram ressuscitar o espírito do Templários originais. No mundo moderno, com o seu fascínio por teorias da conspiração, conhecimentos secretos, grupos ocultistas obscuros e relíquias há muito perdidas, os Cavaleiros Templários representam o arquétipo da Sociedade Secreta. Contudo, a maioria dos historiadores crê que o legado real dos Templários é mais mundano e prende-se sobretudo com a banca e o código da cavalaria. Independentemente de todas as conjecturas ou da verdade, os Templários exercem um fascínio tão poderoso sobre a imaginação popular que haverá sempre quem questione se isto foi tudo o que sobrou dos Cavaleiros de Cristo e do Templo do Rei Salomão.

About João Fernandes

Licenciado em Relações Internacionais; Business Manager da Webmind; Blogger e múltiplos interesses nas áreas das ciências, tecnologia, História e política. Trabalha como freelancer em websites e publicidade.

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