Felizmente a odiada Merkel existe e foi reeleita. Teria sido catastrófico se a dissidência da direita de Merkel, que acha que os alemães não têm de continuar a pagar os desmandos do Sul tivessem entrado no Parlamento. Apesar de enormíssimos erros, Merkel tem uma estratégia e essa estratégia passa por aguentar o Euro. Felizmente para Portugal, faz parte a União Europeia e da moeda comum.
As memórias são muito curtas e os críticos da União europeia, esquecem que antes da formação da CEE, a Europa vivia em constante estado de guerra que custou milhões de vidas só nos últimos 100 anos. Uma Europa dividida, imperialista, radical e repleta de governos anti-democráticos e ditatoriais. Apesar das suas enormes falhas, a Europa é hoje um continente pacífico e um modelo de desenvolvimento, bem como o de garante das liberdades individuais e o respeito pelos direitos humanos.
A Alemanha é o país que mais se empenhou na construção da União Europeia e na Paz na Europa, mas também defende que os países que fizeram erros, onde se inclui Portugal, devem esforçar-se para pagar o que devem. Isto não nos agrada, mas é assim tão errado?
Nesta crise dos infernos, atribuíram-se culpas e deram-se indulgencias. Os países que violaram as regras mais elementares são as vítimas. Os países agressores que bombardeiam países inocentes são ilibados; os países que “gamam” recursos de países de 3.º mundo e apoiam ditadores, são elogiados por defenderem os seus interesses. Mas os alemães são criticados e é-lhes exigido que paguem a crise sem um protesto ou má cara em nome da culpa de 1939-1945.Considero uma falta de responsabilidade esta critica, este ódio imbecil.
Não entendo o que alguma imprensa e alguns intelectuais portugueses pretendem da Alemanha. Oiço falar de uma Alemanha ingrata, opressora, neo-nazi, anti-latina. As pessoas acham mesmo que os alemães têm de pagar as dívidas dos outros sem exigir nada em troca? Sendo o motor da Europa e principal credor, não terá direito de reaver o seu dinheiro e exigir mudanças nos países que abusaram e foram intervencionados?
Isto não significa obediência cega. A Alemanha esta a cometer um grave erro político, mas a Europa devia fazer uma crítica concreta e construtiva e não promover uma campanha imbecil de ódio e preconceito baseada em factos históricos. A Alemanha, tal como os outros, também tem interesses próprios. Portugal deve empenhar-se na renegociação e ajustamento da dívida e dos prazos.
Por muito que custe aos portugueses e detractores inconscientes a quem a critica fácil é apanágio das conversas de café ou que lêem o Financial Times e se julgam economistas, a critica anti-Merkel faz ainda menos sentido quando nos damos ao simples trabalho de parar para pensar. Angela Merkel á aunica amiga que a Europa tem dentro da Alemanha. Os alemães estão saturados de desviar poupanças para fundos de coesão e resgates a países governados por gente irresponsável e corrupta.
Se não tivesse gerido esta crise de forma prudente, se não tivesse escutado os pedidos de austeridade do seu eleitorado, Merkel teria aberto espaço para uma grande cisão anti-Euro dentro do espaço eleitoral da CDU. Já existe um partido de direita pró-marco liderado por um ex-CDU (Bernd Lucke), mas felizmente esta “Alternative fur Deustchland” não entrou no parlamento (4,7% dos votos). Convém porém não baixar a guarda, pois 4,7% do eleitorado alemão a votar na AfD já me arrepia e a mera presença deste partido aponta o dedo para o pior dos futuros possíveis: uma Alemanha de costas para a Europa do Sul e a sorrir para a sua área de influência clássica, a Europa central e de leste. Não é por acaso, a russofilia é o grande pecado político da Alemanha de Merkel.
Estou farto da nossa pequenez e mesquinhice política. Não quero atacar os partidos, defendo a democracia e não há democracia sem partidos. Mas, por vezes, tenho a sensação de que estes partidos, com estas direções políticas, estão a desacreditar-se não só a si próprios, como também fazem com que as pessoas não acreditem na própria democracia.
Estou farto das birras, das teimosias e à total incapacidade de dialogo do sistema político português. E isto para não falar dos que são capazes de separar o mundo em bons e maus, sendo que os bons, puros e amigos dos pobres são só eles.
Refiro-me à ideia de que a nossa salvação não depende de nós, mas dos favores ou reformas que outros façam. Refiro-me aos discursos indignados que nunca partem do princípio que estamos quase na bancarrota e que isto foi obra de muitos anos e em que eles foram decisores. Refiro-me às mentiras dos que afirmam que não haverá mais cortes. Valha-nos todos os deus! Porque se insiste em ocultar a verdade?
Refiro-me às rendas excessivas das empresas monopolistas. Da EDP, de que toda a gente fala, sem que nenhum de nós consiga compreender inteiramente o que diz cada fatura da empresa, mas sobre a qual ninguém age. Refiro-me à incapacidade total de reformar o Estado, porque o Tribunal Constitucional, vigilante, não permite que se corte na despesa, embora possamos ficar à mesma sem dinheiro via aumento da receita, ou seja dos impostos, taxas, multas e coimas que todos os dias vamos descobrindo.
É difícil escrever sem de vez em quando, pelo menos, despejar a alma. Amanhã estarei mais confiante, mas hoje estou sinceramente farto desta malta toda. Não do país, mas da gente que manda nele.