Donald Trump pode ganhar hoje. Um ignorante, narcisista e sociopata poderá ser o próximo presidente dos Estados Unidos. Os europeus e algumas pessoas racionais nos Estados Unidos estão convencidos de que o povo americano não vai eleger um idiota para presidente e que o bom senso vai imperar.
Pessoalmente, sou dos poucos que não tem opinião formada sobre as coisas, pois existem muitas coisas que é difícil ter opinião que se possa fundamentar, mas entendo a tentação das pessoas racionais em tentarem interpretar as tendências dos americanos nas eleições.
O sistema eleitoral americano é peculiar. A questão nem passa por compreender o sistema de representação através de grandes eleitores e o peso de cada Estado e as suas tradicionais tendências de voto. A compreensão do fenómeno americano, passa fatalmente por compreender o próprio eleitorado e aqui entramos em terreno pantanoso. Pantanoso, porque nunca se esqueçam o peso das grandes corporações tem no sistema eleitoral e dessas corporações dependem os empregos dos eleitores e aqui meus caros, Trump fez bem o trabalho e quem sabe se na última hora, os trabalhadores americanos vão defender os seus empregos ou as suas convicções ou mesmo pensar no muro mexicano.
Nunca esqueçam que o Presidente americano não é aquele que obtém mais votos, mas sim aquele que obtém mais delegados que o irão nomear e é daqui que sai o futuro presidente dos Estados Unidos. Tradicionalmente, a maior parte dos Estados vota ou Partido Democrata ou Republicano e aqui não existe muito a fazer, portanto a decisão concentra-se nos Estados ditos oscilantes. Não se esqueçam ainda de que dos 50 Estados americanos que nomeiam os delegados, apenas 12 deles são suficientes para garantir uma vitória, visto serem os mais populosos. Nestas eleições, serão necessários 270 delegados para garantirem a eleição, portanto as decisões estão sempre nesses 12 Estados. Por exemplo, só a Califórnia, Texas, Florida e Nova York contribuem com 151 desses 270 delegados.
Confusos?
Eu também fico confuso.
Factualmente, 77% do eleitorado são mulheres, pessoas de cor, jovens com menos de 35 anos. Teoricamente Trump não poderia racionalmente ganhar, pois ninguém votaria em ninguém que os despreza e afirma que os vai atacar. Mas os americanos não pensam da forma mais “normal” e tendem a ter comportamentos “diferentes”.
Quase sempre em qualquer situação, quando se está perante uma situação de perigo, ao invés de se optar pela segurança, acabamos por optar por seguir esse perigo. O mesmo aconteceu com todos os líderes autoritários que foram mais ou menos conduzidos ao poder democraticamente.
Sim, é verdade que isto não é racional, mas somos mesmo racionais? O povo americano é mesmo racional?
Não ganhou Trump as eleições dentro do partido republicano para a nomeação para as presidenciais? Já na altura, Trump não era o mesmo louco, arrogante e radical?
Se assim foi, então não pode Trump ganhar hoje?
Não tenho qualquer dúvida de que racionalmente Hillary deveria ganhar estas eleições por uma margem de 50%, mas a verdade é que as sondagens não dizem isso. A verdade é que as mesmas sondagens dão uma margem bastante curta. A verdade é que devido às peculiaridades do sistema americano, hoje pode acontecer um cataclismo nos Estados Unidos com repercussões para todo o mundo.
Trump é um radical que ataca negros, hispânicos, mulheres, pobres, desempregados e analfabetos. Seria então de prever que esses que devem representar uns 50% da população americana, votassem em massa em Hillary, certo?
Errado!
Esse sector da população, ou seja aqueles que vivem à margem dos sistema, acabam por ser as vítimas desse mesmo sistema à décadas. Esses na verdade, não viram a sua situação alterada pelas duas últimas presidências de Obama. Então, não serão esses que querem uma alteração maior? Será que Hillary lhes trará essa mudança?
Eu não acredito nisso e julgo que na última hora, esses americanos também podem não acreditar.
Hoje, os americanos e principalmente aqueles que tem condições de vida deploráveis vão ter de deixar o conforto do seu sofá para irem para filas votar e aqui temos de entender pegando em exemplos do passado, que a máquina de um sistema estranho entra em ação. Mesas que não funcionam, sistema com problemas e “irregularidades” com identificação são bastante comuns. E depois, temos o eterno problema da abstenção que muitas vezes chega aos 50%.
Falando de coisas mais polémicas, será que no último momento aquele eleitorado do Sul, aqueles mais conservadores, aquela direita, vai querer uma mulher no poder? Uma mulher polémica envolvida em escândalos e suspeitas de fraudes e influências?
Não se enganem. Esta mulher não é igual ao simpático Obama. Ela trará certamente uma alteração da política externa americana e não estou certo de que continue a política de contenção de Obama.
Depois, temos o eterna questão de quem paga impostos é quem sustenta as minorias de negros, emigrantes, gays, e pessoas vestidas ridiculamente no super-mercado. Até podem discordar com este disparate, mas a vossa discordância não me faz confusão, pois as coisas existem, são reais concordando ou não com elas. São esses que pagam os impostos, são esses e que sustentam o liberalismo, as políticas sociais e possibilitam que essas minorias existam e que atacam e defendem a destruição de quem as suporta. Portanto, estamos aqui perante de algo perigoso e se a bomba não rebentar agora, certamente irá rebentar no futuro.
Todas as contas que se possam fazer, nenhuma estará perto da realidade, pois na verdade as eleições são decididas por aqueles que se levantam do sofá e vão votar. As eleições são decididas por quem tiver mais vontade de ganhar. Estas eleições serão decididas por quem estiver mais motivado e cuja consciência política for mais desenvolvida.