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A Estrela de Belém

Na temática relativa aos mistérios do nascimento de Jesus, Belém e a manjedoura não estão livres de contradições. Marcos e João, escrevem que Jesus era natural da Nazaré(MC 6:1), enquanto Mateus e Lucas preferiram demonstrar que o nascimento de Jesus constituiu a plena realização de antigas profecias e designaram Belém como o local da natividade. A “gruta da natividade” foi invenção posterior, assim como o Boi e o jumento, que  apareceram tardiamente na tradição, inspirados em versículo do profeta Isaías e  retirados do presépio pelo Papa Bento XVI.

Os reis magos também são objeto de controvérsia. Mateus descreve-os por magos, mas eram provavelmente sábios vindos do Oriente, atraídos por uma estrela brilhante. Ninguém disse quantos eram. Só no século VI, um livro arménio dizia que eram 3 reis e 3 presentes oferecidos ao recém-nascido: ouro, incenso e mirra.

De acordo com a Bíblia, chegaram do Oriente a Jerusalém 3 magos que perguntaram sobre o nascimento do rei dos judeus. Merece a pena referir que no original grego, “mago” está “mägoi”, que ficaria mais bem traduzido como “sacerdote astrólogo”. E no sânscrito “mahat” que no idioma pérsico – “ pehlvi” – era “mogh” = sacerdote), estudiosos dos astros. Esses magos teriam visto uma estrela desconhecida, seguindo um percurso estranho do Oriente para o Ocidente.

 Reconheço ser uma afirmação ousada dizer que eram astrólogos e mais atrevido afirmar que a sua religião era possivelmente persa zoroástrica (porque vinham do oriente) e seguiam a estrela, pois sabiam que era o sinal de um rei. Mas tais afirmações baseiam-se no seguinte:

 – Desde o início, a Humanidade usou as estrelas como um mapa. A disposição das constelações no céu mostrava as estações do ano, eclipses, caminhos para navegação e, também, presságios de mortes, guerras, pestes e nascimentos. Na época que Jesus nasceu, não foi diferente. Esses magos observaram nos céus um sinal e deviam conhecer perfeitamente.

 Mateus descreveu deste modo a situação:

 “ Jesus nasceu na cidade de Belém, na região da Judeia, quando Herodes era rei da terra de Israel. Nesse tempo alguns homens que estudavam as estrelas vieram do Oriente e chegaram a Jerusalém (Mateus 2:1)

E  acrescenta:

 “Então Herodes chamou os magos secretamente e informou-se com eles a respeito do tempo exato em que a estrela tinha aparecido.” – Mateus (2: 7) –

Mais interessante ainda é o fato que segundo Mateus, os magos foram atrás da estrela porque ela era NOVA. De acordo com o versículo 16, sabemos que tal estrela havia aparecido num período máximo de 2 anos. Outro detalhe interessante sob o ponto de vista astronómico, é que tal estrela não seguia uma sequência rotacional como qualquer outra estrela. Os homens seguiram a estrela durante 2 anos, até chegar a Jesus. Se tal estrela não seguia o padrão rotacional do planeta ou se comportava de uma forma normal e se a própria bíblia diz que ela era NOVA, então que estrela seria aquela?

Muitos sustentam que esse fenómeno era a estrela de Sirius, pois do ponto de vista histórico, sempre foi o centro das atenções, fruto de um significado muito especial dado pelas mais diversas culturas.

A Estrela De Belém - Conjunção tri-planetária de 25 de Fevereiro do ano 6 AC, vista de Jerusalém

Conjunção tri-planetária de 25 de Fevereiro do ano 6 AC, vista de Jerusalém



Existe ainda quem insista em defender a comparação do relato bíblico dos homens do oriente com a mitologia acerca da estrela Sirius com a constelação de três reis, mas essa conjetura é infundada, pois as semelhanças são muito superficiais comparadas com as diferenças. Mas como poderiam 3 homens estudados em astronomia e astrologia confundirem-se, seguindo uma estrela julgando ser Sirius ou uma qualquer outra estrela conhecida?

Então, temos uma situação de difícil explicação. Os homens que se apresentaram diante de Jesus não eram reis, não eram 3, pois na bíblia não encontramos nenhuma informação que eram efetivamente 3. O que se sabe é que eram 3 presentes.

– A segunda questão muito pertinente no meu entender, é que a segundo a Bíblia, Herodes tinha forte intenção de assassinar Jesus. Portanto, a julgar pelo fato de que a estrela ao princípio ter conduzido os magos a Herodes e só depois a Jesus, faz crer que a estrela dificilmente ter uma origem divina.

– Mais uma vez a bíblia dá-nos uma pista, ao referir ainda que um anjo anunciou o nascimento de Jesus e não uma estrela – que só os referidos Reis Magos conseguiam ver. Então, porque só eles conseguiam ver a estrela? Provavelmente porque só eles a poderiam identificar, visto serem astrónomos.

Uma das primeiras teorias levantadas era que esse astro teria sido o planeta Vénus. Pois a cada 19 meses, pouco antes do nascer do Sol, aparece mais claro e brilhante do que a estrela Sírius. Mas esse era um fenómeno   conhecido pelos povos do Oriente e, portanto, para os Reis Magos nada teria de extraordinário.

Parece que voltamos ao princípio e continuamos sem saber de que estrela se tratava.
Astrónomos do século XVI propuseram o famoso cometa Halley, mas sabemos que o Halley apareceu no ano 12 a.C., muito cedo para estar associado ao nascimento de Jesus. E nenhum dos cometas conhecidos, segundo os dados catalogados, passou na Judeia capaz de ser visto a olho nu, entre 7 a.C. e 1 d.C. Embora pareça improvável que outro grande cometa tenha aparecido mais próximo do espaço de tempo aceite e nunca tenha sido registado. Além disso, os cometas eram vistos na altura como presságios do mal, tal como cheias, fome ou morte e não o nascimento de reis.

  Existe ainda o fantástico relato de que astrónomos chineses, registaram uma “nova estrela” na constelação de Capricórnio no ano 5 a. C. Essa “nova estrela” é conhecida nos nossos dias por super-nova.
Na nossa Via Láctea, ao longo do último milhar de anos, registaram-se 5 brilhantes super-novas (1006, 1054, 1181, 1572 e 1604). Claramente, há muito que esperamos outra, embora as estrelas não sigam necessariamente um calendário. Embora uma nova ou supernova seja uma explicação muito convincente para a Estrela de Belém, existe aqui um problema, pois parece não haver nenhum registo definitivo de uma brilhante nova no céu na altura em que os estudiosos da Bíblia acreditam que os Reis Magos fizeram a sua viagem. Uma nova aparentemente iluminou-se, entre as constelações de Capricórnio e Aquário, durante a Primavera do ano 5 a. C., mas os registos chineses, que descrevem este objecto, implicam que não era nada de notável.

A Estrela de Belém

 

 Mas talvez nenhuma outra reunião planetária possa igualar a dos dois planetas mais brilhantes, Vénus e Júpiter, para a explicação que procuramos. E se tomarmos em conta o único registo literal do aparecimento da Estrela, escrito em S. Mateus, então o que realmente precisamos é o aparecimento de não apenas uma, mas de duas “estrelas.” O primeiro aparecimento teria sido observado com bastante antecedência da chegada dos Reis Magos a Belém, e o outro no final da sua longa viagem.

A possibilidade dos Reis Magos terem confundido um ou mais planetas, que lhes eram tão familiares, com uma estrela, parece remota, no entanto no ano 7 a.C., houve um alinhamento planetário entre Júpiter e Saturno nos meses de Maio, Setembro e Dezembro. Aqueles que acreditam ser essa conjunção, argumentam que os magos viram a primeira conjunção em Maio, e iniciaram a jornada. Durante a segunda conjunção, em Setembro, chegaram a Jerusalém e durante a terceira conjunção, em Dezembro, chegaram a Belém.

 Em 25 de Fevereiro de 6 a.C., houve uma grande aproximação entre Júpiter, Saturno e Marte na constelação de Peixes.
Outras conjugações planetárias muito interessantes e espectaculares, ocorreriam igualmente entre 3 a.C. e 2.a.C, no entanto não me irei debruçar sobre elas, uma vez que o espaço temporal não é repartido com o período 6.a.C e 4 a.C abordado no tópico o Nascimento de Cristo, período esse em que creio ter ocorrido o nascimento de Jesus.

A teoria final é que a Estrela de Belém seria um ou mais brilhantes planetas observados à vista desarmada. Talvez um agrupamento planetário de beleza particular; uma excepcionalmente próxima conjunção de dois planetas ou agrupamentos de três ou mais, criando uma notável figura geométrica no céu, que pode ter tido lugar entre os anos 7 e 2 a.C. Todavia, uma reunião deste género seria algo bastante raro e inesperado e não creio que esses “magos” se pudessem ter deixado enganar por um fenómeno que muito provavelmente seria do seu conhecimento e temos de considerar que essas conjugações duram apenas algumas horas, e a estrela que apareceu foi visível durante semanas. Os planetas nunca se fundem completamente numa única estrela. Mesmo a olho nu e por mais espectacular que fosse a conjugação, seriam sempre visíveis dois corpos.

A Estrela de Belém



A Astronomia pode dizer-nos que todas estas conjunções planetárias realmente ocorreram. De facto, quem quiser pode utilizar programas informáticos que simulam o céu para viajar no tempo e observar todas estas configurações planetárias no seu computador, e julgar quais teriam sido as mais impressionantes para os Reis Magos.

Mas deixando essas hipóteses de lado, retorçamos as nossas mentes para o aspeto que considero o mais provável, no qual se considera que essa estrela era a realização da profecia do Antigo Testamento: “Uma estrela avança de Jacob, um ceptro se levanta de Israel” (Num 24,17).

 Segundo os teólogos, Mateus fez uma interpretação de tradições e, por isso, não se refere a uma estrela literal, apenas no significado do nascimento de uma personagem importante. De acordo com tradições antigas, pode tratar-se de um anjo, ou ainda de um conglomerado de anjos que teriam recebido a missão de anunciar o nascimento de Jesus. As evidências bíblicas que relacionam estrelas a anjos são frequentes (Isaías 14:12-14, Ap 1:20, 12:4), o que explicaria a razão pela qual a estrela se movia, detinha, aparecia e desaparecia de forma inusitada (Mateus 2:9-11). Ela aparecia não só de noite, mas também durante o dia. Esta estrela seguiu um caminho de norte ao sul, o que não é comum ao geral das estrelas. Não tinha um movimento contínuo: andava quando era preciso que os magos caminhassem, e se detinha quando eles deviam se deter, como a coluna de nuvens no deserto. A estrela mostrou o parto da Virgem não só permanecendo no alto, mas também desceu, pois não podia indicar claramente a casa se não estivesse próxima da terra. Mas se esse astro não foi propriamente uma estrela do céu, o que era?

Uma das explicações mais estranhas vem dos adeptos da teoria dos deuses astronautas. Segundo eles, a Estrela de Belém poderia ser um Ovni que teria guiado os Reis Magos. Para eles, é muito suspeito o movimento errático e “inteligente” da estrela. Mas este tema muito controverso, será abordado em outro fórum.

Talvez este seja um mistério que a Ciência moderna nunca consiga realmente desvendar. A Astronomia já nos levou onde podia.

A decisão final é só sua.

Referências:

Raymond Edward Brown, An Adult Christ at Christmas: Essays on the Three Biblical Christmas Stories, Liturgical Press (1988), p. 11.

Jenkins, R.M, “The Star of Bethlehem and the Comet of AD 66”, Journal of the British Astronomy Association, June 2004, pp. 336–43

Referências Biblicas, Mateus 2:4;Mateus 2:8;  Mateus 2:13-14, Isaías 14:12-14, Ap 1:20, 12:4

About João Fernandes

Licenciado em Relações Internacionais; Business Manager da Webmind; Blogger e múltiplos interesses nas áreas das ciências, tecnologia, História e política. Trabalha como freelancer em websites e publicidade.

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