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Grécia: A vilã, a culpada e a inocente.

Nos últimos tempos, temos assistido a muitas explicações sobre o que se passa na Grécia. A maior parte, defende que a Grécia está a à mercê de credores impiedosos e sujeita a taxas de juros demasiado elevadas. Eu pertenço a uma minoria que julga que assim não é verdade, pois penso que a Grécia chegou a esta situação simplesmente porque gastou muito mais do que aquilo que podia produzir.
Em 2012 a troika aprovou um segundo plano de resgate para a Grécia, pelo qual o governo grego obteve condições de financiamento extremamente benéficas.
Antes da crise, a relação entre dívida pública e receitas do governo, era de 250%( Fonte: Eurostat) Na Alemanha, a título de comparação, esse valor era de 150%. No entanto, após a crise, a dívida disparou até atingir 400%.

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A hipertrofia do estado grego simplesmente não possui similares na Europa, especialmente se levarmos em conta como ele se financiou: a Grécia não apenas foi um dos países que mais aumentou os gastos públicos, tendo por consequência imediata recorrer ao endividamento e este levou a que as transferências por parte do governo para pagamento da dívida tenham superado em 17% o valor das receitas, ou seja, o problema não foram as taxas de juros, mas sim o aumento ainda maior do endividamento que foi muito superiores ao das taxas de juros, o que elevou obviamente o valor absoluto das taxas de juro.
Os parceiros europeus apresentaram como solução o corte dos gastos do Estado gregos, mas este achou que a solução não podia ser assim tão radical, ou seja, o problema não estava no doente mas sim no remédio. Por isso, nos anos de agravamento da crise, o governo grego fez aumentar os gastos públicos com a educação, políticas sociais e saúde de 24,6% do PIB em 2004 para 31,1% do PIB em 2012.
Quando a Grécia foi socorrida, a sua população manifestou-se contra as medidas de austeridade e exigiu o aumento de salários e a diminuição de impostos. Esta situação torna-se ainda mais difícil de entender, se pensarmos que um país que sofre uma intervenção financeira pois está à beira da bancarrota, vê as suas receitas caírem a pique e não caíram porque o Estado sofreu uma intervenção, mas sim porque a economia estava de rastos, assim facilmente se adivinha que infelizmente para a Grécia a receita proveniente da colecta de impostos não só não se manteve, como foi reduzida fazendo disparar para cerca de 403% e mais obviamente aumentando enormemente o peso dos juros sobre uma dívida em expansão em que chegam a atingir cerca de 17,1%.

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Não creio que seja inteiramente justo que a Grécia se queira comparar a outros países e defender que estão a ser vítimas de descriminação, pois esses países além de terem diminuído os seus gastos públicos, aumentaram a sua receita, logo beneficiaram de taxas de juros mais baixas até que relativamente ao peso dessas taxas sobre o peso da dívida diminuiu.
O que assistimos nos últimos 6 anos foi algo surreal. Pois a maior parte dos países diminuíram a sua despesa, diminuíram a sua dívida, cortaram nos gastos das prestações sociais, aumentaram a sua receita.
A Grécia descriminada, aumentou os gastos com as prestações sociais, baixou a sua receita com a cobrança de impostos. Tudo isto feito à custa naturalmente através da contracção de mais dívida, levando a que neste momento a Grécia não consiga sequer cumprir com o princípio mais básico do endividamento: Cumprir com o pagamento das taxas de juro.

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Tenho de ser justo que com as desastrosas quedas do PIB grego, tem por consequência que os gastos absolutos em termos de despesa pública, tenham de facto aumentado, uma vez que existiu uma contratação do PIB, mas o governo foi incapaz de reduzir os gastos públicos levando a esta situação.
Concluo estas minhas exposições sobre a questão grega, por constar que de facto o rei vai nu e muita gente se recusa a ver que o rei está nu. Preferem acreditar que a culpa está nos outros e não na Grécia. A Grécia não se encontra nesta situação porque tem inimigos impiedosos, mas sim por sua culpa, pois gasta mais do que aquilo que recebe.
Mas não se engane o povo português, pois Portugal fez exactamente os mesmos erros que o povo grego e está na mesma situação. Simplesmente, estamos um pouco mais atrasado que a Grécia e talvez por termos procedido a algumas reformas nos possa ter dado tempo e margem para podermos negociar e não chegamos ao ponto que a Grécia se encontra.



About João Fernandes

Licenciado em Relações Internacionais; Business Manager da Webmind; Blogger e múltiplos interesses nas áreas das ciências, tecnologia, História e política. Trabalha como freelancer em websites e publicidade.

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