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O Santo Sudário

 O Santo Sudário ou Sudário de Turim é um grande lençol de linho com 4,3 m de comprimento por 1 metro de largura.  Em ambos os lados do pano, está a  imagem de um homem nu com as mãos cruzadas  sobre o corpo. O pano tem manchas vermelho-escuras, semelhantes a sangue, e num pulso (o outro não está visível) vê-se uma ferida circular. Aparecem mais feridas na testa e nas pernas. Apesar da Igreja Católica não afirmar categoricamente, milhões de fieis estão convencidos de que se trata da imagem de Jesus Cristo. O tecido está envolvido num controverso debate entre aqueles que acreditam que é verdadeiro e aqueles que estão convencidos de que se trata mais de um embuste entre inúmeros saídos da idade medieval. Nem mesmo o  teste de datação por radiocarbono, feito em 1988, revelou de forma conclusivo todas as dúvidas, lançando pelo contrário dúvidas ainda maiores.

O Santo Sudário - Sudário de Turim

O Sudário de Turim: foto da face, à esquerda o positivo, à direita o negativo.

 A maior parte da história deste artefato é obscura. Existem referências ao sudário desde o século IV, através do bispo Eusébio da Cesareia, em  que descreve uma imagem de Jesus, pintada em vida, supostamente presevada em Edessa. Uma lenda registada por João de Damasco descreve como o rei Abgar de Edessa, estava doente e enviou uma carta a Jesus pedindo-lhe que fosse a Edessa e o curasse. Jesus não  pôde ir mas ao limpar o seu rosto com um pano, a sua imagem ficou pintada e enviou este pano ao rei. Quando Abgar viu a imagem ficou imediatamente curado. Esta relíquia sagrada tornou-se conhecida como a Imagem de Edessa, ou Mandylion, para os cristãos ortodoxos.

 Apesar da historia referir um rosto impresso num pano quadrado ou rectangular, uma vez que se tratava apenas da imagem do rosto, muitos acreditam que a imagem foi dobrada de maneira a mostrar apenas o rosto. Em 944, quando a Imagem chegou a Constantinopla, Gregório, arcediácono de Hagia Sophia, fez um sermão em que descrevia o artefato e era claro que a Imagem de Edessa era um sudário fúnebre, com a imagem de um corpo inteiro. O artefato foi colocado na Capela Palatina, onde permaneceu até a cidade ser pilhada e queimada pelos cruzados em 1204. Os cruzados trouxeram muitos tesouros de Constantinopla, apesar de não sabermos se entre eles se encontrava ou não a Imagem de Edessa. Contudo, muitos investigadores acreditam que o pano foi trazido para a Europa e tornou-se conhecido como o Sudário de Turim.

Em 1357 o sudário foi exibido numa igreja na aldeia de Lirey, no Nordeste de França. Em 1453 o pano tornou-se propriedade do duque Louis de Savoy, que o manteve na sua capela em Chambéry. Em 1532 o sudário, danificado por um incêndio na capela onde estava guardado, foi sujeito a uma reparação. Em 1578 o sudário chegou a Turim, e em 1983, Umberto II, o último da dinasta da casa de Sabóia,  deixou-o em testamento ao Papa.  O sudário permanece hoje em Turim, na capela redonda da Catedral de S. João Baptista.

O Santo Sudário - Umberto II

Umberto II em 1944



Em 1988, e com muita publicidade, o vaticano autorizou que a relíquia fosse datada através do método de datação com radiocarbono por 3 instituições independentes: a Universidade de Oxford, a Universidade do Arizona e o Instituto Federal Suíço de Tecnologia. Todos os laboratórios utilizaram pedaços da mesma amostra, uma porção de pano com um centímetro por 5,7 cm, tirado do canto do pano. A conclusão foi de que o objeto era datado entre 1260 e 1390 d. C., e como tal não era a mortalha de Jesus, sendo assim uma falsificação.

 Outro indício que parece suportar a teoria de que o sudário é uma falsificação medieval apareceu sob a forma de uma carta do bispo Pierre D’Areis de Troyes,  em 1389 e que afirma que uma investigação sobre a natureza do pano feita pelo  bispo Henri de Poitiers, tinha revelado o artista responsável pela sua pintura e pediu que a relíquia fosse retirada de exibição. Na carta diz-se ainda que o pano não poderia ser o sudário fúnebre de Jesus, até porque as sagradas escrituras não fazem qualquer referência a ele e se fosse verdadeiro, é improvável que os evangelistas tivesse deixado de o registar, ou que esse facto tivesse permanecido desconhecido até ao presente. No entanto, este documento parece ser um rascunho de uma carta que nunca chegou a ser enviada e alguns investigadores questionaram os motivos do bispo D’Areis, sugerindo que ele cobiçava o sudário para proveito pessoal.

O Santo Sudário - Jacques de Molay

Jacques de Molay

Mas, se o sudário é uma falsificação, quem foi o responsável e como foi feito? No seu livro «O Segundo Messias», Christopher Knight e Robert Lomas afirmam que o rosto do sudário pertence a Jacques de Molay, o último grão-mestre da Ordem dos Templários. De Molay foi preso por ordem de Filipe IV por heresia e queimado em 1314.  De Molay foi torturado e pregaram-lhe os braços e as pernas a uma porta de madeira. Foi deitado sobre um pano numa cama e parte do pano foi desdobrado sobre a cabeça e cobriu a frente do seu corpo. Aparentemente foi então assim deixado durante cerca de trinta horas, tempo suficiente para o suor e o sangue do corpo formarem uma imagem no lençol.

O grão–mestre foi executado juntamente com Geoffroy de Charney, o templário preceptor da Normandia, cujo neto foi Geoffroi de Charney. Depois da morte de Geoffroi  na batalha de Poitiers, a sua viúva, Jeanne de Vergy, alegadamente descobriu o sudário entre as suas posses e pô-lo em exibição na igreja de Lirey. A imagem tem mesmo algumas semelhanças com pinturas medievais de De Molay e com uma sua litografia a cores, feita por Chevauchet no Século XIX.

Outra teoria bastante original, defende que o rosto do sudário é  Leonardo da Vinci, sendo possivelmente o primeiro exemplo de fotografia da História.  A imagem no pano foi obtida com a ajuda de uma caixa escura com um buraco num dos lados, por onde entrava uma imagem invertida do exterior que era projectada na parede, tela ou espelho opostos, e então traçada por artistas para fazerem a imagem). As principais objeções a esta teoria é que Da Vinci nasceu quase um século depois do aparecimento do sudário e igualmente após a data entre 1260 e 1390 d. C. indicado pela datação por radiocarbono. No entanto, investigações recentes lançaram dúvidas sobre as datas obtidas em 1988. Um artigo do químico Raymond N. Rogers  diz que a amostra original do sudário utilizada para teste era inválida, pois tinha propriedades químicas completamente diferentes do resto do sudário, levando muitos investigadores a acreditarem que a amostra utilizada na datação por radiocarbono deve ter sido cortada de um dos remendos feitos para reparar o sudário depois do incêndio de 1532.



Em Junho de 2002 foi levado a cabo um grande restauro do sudário, que envolveu a remoção de todos os remendos medievais. Durante esse processo, descobriu-se que o tecido usado na reliquia havia sido trabalhado num padrão muito utilizado em tecidos de grande qualidade na época de Jesus. Supostamente, existem semelhanças entre um padrão de costura pouco comum na bainha de um dos lados do sudário e o que foi encontrado na bainha de um pano descoberto em túmulos da fortaleza judia de Massada, um imponente planalto escarpado, situado no litoral sudoeste do Mar Morto.

Foi também durante esse restauro, que foi fotografada e digitalizada a parte de trás do pano e em 2004, o Instituto de Física de Londres publicou um artigo no Journal of Optics A, em que revelava os resultados da análise das fotografias. Utilizando técnicas de processamento de imagem, identificaram uma ténue e fantasmagórica imagem no verso do pano, em que se vê principalmente o rosto e as mãos. Esta segunda imagem corresponde à da frente do pano e é inteiramente superficial, pondo assim de parte a possibilidade de tinta que tivesse passado de um lado para o outro. Também parece de pôr de lado a teoria de que a imagem no sudário fosse criada utilizando métodos fotográficos arcaicos.

Então a recente reviravolta na sorte do Sudário de Turim significa que ele é de verdade a mortalha de Jesus? Apesar de muitos estarem convencidos da veracidade da reliquia, os cépticos recusam–se a admitir a possibilidade de que o artefacto seja genuíno, até porque a figura impressa no sudário é um homem com cerca de 1,82 m, o que faz dele muito alto quer para o século I d.c, quer para a época medieval.

Muitos investigadores esperam agora que o Vaticano autorize a remoção de mais amostras do sudário para a realização de testes, apesar deste parecer estar relutante. Talvez nunca venha a haver provas científicas de que o  Santo Sudário é, a mortalha de Jesus. Acreditar nisso poderá ser sempre uma questão de fé.

Obrigado pela mente aberta

About João Fernandes

Licenciado em Relações Internacionais; Business Manager da Webmind; Blogger e múltiplos interesses nas áreas das ciências, tecnologia, História e política. Trabalha como freelancer em websites e publicidade.

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