O chefe invencível dos Lusitanos
Durante a ocupação Romana na Península Ibérica, também denominada, nessa época, de Hispania Romana, haviam três províncias Romanas: Bética, Lusitânia e Tarraconense.
A famosa Lusitânia era uma província Romana, cujas fronteiras foram definidas pelo imperador Augusto César em 29AC. Ocupava uma boa parte do que é agora Portugal Continental, a sul do Rio Douro, da actual Estremadura espanhola e parte das províncias Espanholas de Salamandra, Toledo e Mérida.

Península Ibérica em 10DC (Lusitânia: região a cor laranja)
Fonte: http://www.explorethemed.com/
Esta região era ocupada por povos Lusitanos, em latim lusitani, desde os tempos do neolítico. De prováveis origens celta e indo-europeias, os Lusitanos, assim como outros povos, ter-se-ão deslocado dos Alpes Suíços e instalaram-se na Península Ibérica devido ao clima quente. Dizia-se também que este povo seria dos mais valentes, tendo mesmo havido registos de mulheres guerreiras. De facto, terão sido os Lusitanos que ofereceram mais resistência aos Romanos, aquando das invasões Romanas, tendo mesmo causado enormes baixas nas tropas de Roma.
Dos registos históricos consta que um chefe Romano, de nome Galba, e os chefes Lusitanos terão feito um tratado de paz. Galpa terá prometido entregar-lhes terras férteis nas planícies se os lusitanos largassem as armas. Assim se sucedeu, os Lusitanos largaram as armas e dedicaram-se ao cultivo, dispersando-se pelas terras cedidas por Galpa.
Porém, o chefe Romano não cumpriu a sua promessa e, vendo-os desprotegidos, atacou! Morreram milhares de Lusitanos e muitos mais foram escravizados.
Perante este feito, Galpa ficou bastante satisfeito e terá comunicado esta vitória a Roma, crendo que tal seria muito bem aceite. Porém, apesar de que as vitórias militares eram muito valorizadas, as autoridades Romanas impunham o respeito aos inimigos e a lealdade na guerra. Sabendo que Galpa, um chefe Romano, traíra os Lusitanos atacando homens desarmados, chamaram Galpa a Roma e julgaram-no em tribunal. Galpa nunca terá regressado à Península Ibérica.
Os Lusitanos, que escaparam a este ataque, ganharam uma enorme raiva aos Romanos e ansiavam por vingança. Entre eles, estava Viriato, que tendo também ele acreditado na palavra de Galpa, ter-se-à instalado na planície para viver em paz. Não existem registos sobre o nascimento de Viriato. Há lendas que dizem que ele terá sido um jovem pastor nos Montes Hermínios, hoje Serra da Estrela. Diz-se também que terá participado em assaltos relâmpago a povoações romanas desde muito novo e era apreciado pela sua agilidade força e inteligência guerreira.
Refugiados nas montanhas, estes sobreviventes terão fabricado armas e preparavam-se para um contra-ataque para vingar os que tinham morrido perante o ataque chefiado por Galpa.
Segundo a história, por volta de 147 AC, cerca de dez mil Lusitanos, liderados por Viriato, insurgiram-se furiosamente, com sede de vingança, e dirigiram-se para uma zona dominada pelos Romanos afim de saquear povoações. Porém, foram surpreendidos ao serem cercados à distância por um anel de soldados Romanos.
Com receio de uma nova carnificina, os chefes Lusitanos terão ponderado negociar a rendição. Porém, Viriato discordou e, falando em voz alta, terá dito:
«Os Romanos não respeitam promessas. Enganaram-me uma vez, não me tornam a enganar. Comigo não contem para negociações. Prefiro lutar ou morrer.»
Todos terão ficado impressionados com o discurso e firmeza de Viriato, especialmente os chefes. Viriato terá continuado:
«Se não podemos vencê-los pela força, vencê-los-emos pela astúcia. Ora oiçam o meu plano.»
Propôs-lhes então o seguinte: os homens que combatiam a pé deviam formar grupos e a um sinal combinado disparar em todas as direcções e romper a barreira que os cercava sem dar tempo aos inimigos de se organizarem.
«Enquanto vocês fogem, eu e os outros cavaleiros caímos sobre eles ora de um lado ora de outro, de forma a derrotá-los e a proteger a vossa fuga.»
Tendo sido aceite o plano, foi combinado o sinal:
«Fiquem atentos. Quando eu montar a cavalo, já sabem… é ordem para arrancar.»
Assim, passado algum tempo, ecoaram gritos de guerra pelos campos. Setas e lanças eram lançadas em todas as direcções e som das espadas fazia-se ouvir em quase toda a parte. Tal como Viriato tinha previsto, os Romanos, que não esperavam tal táctica, ficaram desnorteados e muitos dos Lusitanos que estavam a pé conseguiram escapar ao cerco e fugir, enquanto os bravos cavaleiros Lusitanos, apesar de estarem em número inferior e com armas mais fracas, lutavam sem cessar. Foram muitos os soldados Romanos que caíram mortos, incluindo o próprio general Romano.
Viriato terá conseguido, não só vencer a batalha, como salvar os Lusitanos. Tal acto, terá feito dele uma pessoa respeitada por todas as tribos e ter-se-à tornado o chefe máximo dos Lusitanos. Durante anos, muitos seguiram-no com entusiasmo em batalhas brutais contra os Romanos. Viriato parecia invencível e nunca foi derrubado em batalha.
Porém, por volta de 139 AC, tendo sido aliciados e subornados pelos Romanos, três homens da tribo de Viriato terão traído-o e assassinado-o enquanto ele dormia na sua tenda. Consta que estes homens nunca chegaram a receber nenhuma recompensa, tendo mesmo sido recebidos com desprezo pelo chefe Romano que lhe terá dito:
«Roma não paga a traidores.»
O povo Lusitano terá chorado longamente a perda deste chefe querido e amados e terão ficado enfraquecidos.
Após a morte de Viriato, perante sucessivos ataques dos Romanos, muitos Lusitanos perderam a vida. A paz neste região terá sido alcançada por volta de 19 AC.
Curiosamente, apesar de os Portugueses considerarem Viriato como o primeiro dos seus heróis, é através de escritores Romanos que, impressionados pela personalidade forte, austera e recta deste chefe lusitano, escreveram vários textos elogiosos sobre ele, dando a conhecer ao mundo esta personalidade histórica.

Monumento a Viriato. Viseu, Portugal.
Autor: Nuno Tavares
Referências:
- Wikipedia
- Portugal – História e Lendas, Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, Ed. Caminho
Este artigo foi escrito com a antiga grafia.