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Alemanha deve sair do Euro

Devo dizer que gosto muito da Grécia. Agradeço a Odisseia e a Ilíada, os filósofos, a democracia, os jogos olímpicos, Esparta e o Iogurte grego. Só não gostei muito de nos terem levado a nossa taça.
O que se vive na Grécia por estes dias, assume contornos de uma quase “tragédia”. A possibilidade de incumprimento e da saída do euro são quase uma realidade. No entanto, a maioria do povo grego deseja a permanência no euro, o que não é para admirar, pois o euro para o bem e para o mal trouxe a estabilidade de preços, o controlo da inflação e o crescimento económico. Mas a permanência na moeda única significa que o povo grego se tenha de curvar à vontade de uma Europa e claro que isso os gregos não querem. Não querem os gregos e não quer muita gente.
Para muitos é completamente inaceitável que a Grécia se passe a comportar como “adulto” e passe a viver exclusivamente dos seus meios — algo que não faz à décadas. Portanto, a solução é sair corajosamente do euro desafiando os dragões da Europa dos credores.
Culpar a União Económica e Monetária é uma constante defendida por radicais. No entanto, o problema da Europa não é ter uma moeda comum, mas sim estar submetida a excessivas regulamentações governamentais e altas taxas de tributação; à falta de integração económica; a gritantes diferenças no apoio dos Estados Membros a sectores agrícolas e industrias; à falta de proteccionismo estatal de sectores chave e mesmo a privatizações desses sectores. A crise do Euro, deve-se sobretudo a gastos descontrolados por parte dos governos que levaram ao endividamento.

euro

Muitos defendem que a saída do euro é a solução até para travar o aquecimento global e a cura para a gripe. Esta solução genial defende que a saída do euro é mesmo uma atitude patriótica e que irá permitir aos estados o regresso ao controlo das suas políticas monetárias.

Calculo que o que se pretende é a diminuição do valor da moeda para tornar as exportações mais baratas e assim aumentar as exportações, mas falta-me saber até que ponto esse aumento de exportações pode aumentar e sobretudo, ainda não percebi que soluções apresentam para o facto destes países em dificuldade serem fortemente deficitários na balança de pagamentos, o que significa que terão de pagar mais por aquilo que importam, como por exemplo as matérias primas e os combustíveis. Só que uma desvalorização da moeda cria, na melhor das hipóteses, apenas um benefício temporário para os exportadores (e só para eles). Todo o restante sector da actividade económica perde com uma desvalorização monetária. Os defensores desta solução, não esclarecem sobre os custos do trabalho dos países do sul da Europa, e nunca comparam esses custos aos da China e da Índia, por exemplo.
Por outro lado, existe quem defenda que se deva inflacionar a moeda para destruir o poder de compra e reduzir as exportações, mas então teremos o inverso da situação anterior, ou seja iremos aumentar os preços daquilo que exportamos e assim reduzir aquilo que recebemos com a consequente vaga de despedimentos.

alemanha - euro



Resta saber quem vai pagar esse custo e quem vai garantir a paridade dessas novas moedas ou a sua credibilidade. Será que esperam que sejam os mauzões da Europa? Pois será o mesmo que num jogo de bola entre miúdos em que alguns deles não sabem jogar e resolvem sair do jogo, e dizem que querem jogar sozinhos, mas com a bola dos outros.
A defesa da solução da saída da moeda única só serve para empurrar o problema com a barriga, pois a manipulação monetária serve na perfeição os propósitos de adiar as reformas económicas necessárias. A manipulação monetária é aparentemente mais indolor do que austeridade, e promete o milagre de colocar uma economia em crescimento permanente sem jamais ter de fazer correcções.
Os anti-euro, viram as baterias para o desprezível e arrogante ataque à Alemanha cuja mão-de-obra é mais produtiva e mais eficaz em termos de custos. Eu até de germanófilo fui chamado e já ouvi dizer que os defensores da Alemanha cometiam um erro crasso de lesa pátria. Mas os meus atacantes persistem no erro banal e comum. A Alemanha e o povo alemão só defendem uma moeda forte, porque a sua população e o seu governo responsável estão à décadas dispostos a submeterem-se à disciplina que essa política exige e depois colhem os frutos desses sacrifícios.
A malvada Alemanha não tem petróleo gamado ou sequer ex-colónias para servirem de mercados. Ao invés disso, a Alemanha deposita o seu peso unicamente na produção e na racionalidade económica. Na verdade, e os detractores da Alemanha devem ter em consideração que é a Alemanha quem mais perde com esta situação. O euro existe unicamente porque a Alemanha protege o euro através da utilização dos seus impostos para socorrer — por meio de empréstimos — os países endividados do sul da Europa. Mas obviamente tenho de admitir que esse socorro é um remédio envenenado, pois esse socorro tem por consequência um ainda maior endividamento desses países.
Os anti-Alemanha defendem então que seja a Alemanha a pagar pelos erros dos outros e que deva perdoar as dívidas e continuar a emprestar dinheiro aos países que erraram.
Nesta crise demoníaca nunca oiço ninguém a protestar contra o seu governo por gastar demais. Pelo contrário, as pessoas exigem maior proteccionismo, fim das reformas e mesmo o fim dos processos de privatização, mesmo que isso só possa ser conseguido através de mais gastos e obviamente mais dívida.
Eu não entendo esta gente e os alemães, os holandeses, os austríacos, os nórdicos também não entendem o sul da Europa. Mas esta falta de entendimento é interpretada pelos países do sul como traição, racismo, xenofobia e imperialismo.
Se eu fosse alemão ou cidadão de um estado que cumpre e que até não é corrupto, pediria ao meu governo para sair imediatamente do euro e deixar quem não cumpre entregues à sua tão almejada soberania económica, mas claro que fecharia as torneiras do financiamento de governos despesistas e corruptos.



About João Fernandes

Licenciado em Relações Internacionais; Business Manager da Webmind; Blogger e múltiplos interesses nas áreas das ciências, tecnologia, História e política. Trabalha como freelancer em websites e publicidade.

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