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Germanexit

Estamos cansados de saber que o euro é uma moeda alemã, mas de certa forma constituiu uma cedência dos restantes membros das Comunidades Europeias , mais concretamente da França para satisfazer a Alemanha.
Em 1997 escrevi um trabalho para a faculdade onde tentei prever o que seria Europa, o seu futuro e mais concretamente o papel da Alemanha na construção europeia.
Coloquei as a seguinte questão: Haverá uma Alemanha europeia ou uma Europa alemã?
Na altura, conclui que embora a Alemanha procurasse aumentar o seu poder e influência, jamais regressaria ao período 1941-1945, em busca de uma chamada via alemã ou uma Europa alemã e que pelo contrário, continuaria empenhada na construção de uma via europeia de desenvolvimento.
Ao longo da sua história, a Alemanha foi um caso especial. Parece que nenhum dos princípios da política internacional lhe é aplicável. Dividida entre a insegurança obsessiva e as tentações a Leste, a Alemanha desde a sua unificação viria a desempenhar um papel desintegrador em todo o continente.
O grande, aliás o enorme Bismarck após ter conseguido a Unificação alemã tinha uma grande máxima: “A Alemanha é forte o suficiente para derrotar qualquer potência, mas não forte o suficiente para derrotar uma coligação de países”. Com base nessa máxima, escudou a Alemanha numa série de alianças e políticas que levaram a sua ascensão à maior potência da Europa, no entanto quando se sentiu na encruzilhada na crise de 1914, tomou o caminho que se conhece.
A Alemanha é hoje, tal como no período 1871-1945, suficientemente forte para tentar impor a sua vontade através de regras mas, ao mesmo tempo, não é suficientemente forte para o fazer.

 

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Nos dias de hoje e mais concretamente pela recente crise grega existe uma convicção cada vez maior por parte dos europeus de que a política económica alemã, ao invés de criar a estabilidade que seria normal como potência hegemónica, criou instabilidade e provavelmente clivagens muito difíceis de ultrapassar.
Todos sabemos que este euro beneficia essencialmente a Alemanha enquanto economia predominantemente exportadora e beneficia de um relativamente baixo custo para o financiamento quer da sua economia, quer para o controlo da sua dívida pública.
Vejo com muita consternação um agravar de uma hostilização em relação à Alemanha e o regressar dos antigos receios e apelos à História.

Julgo que a esmagadora maioria dos alemães se sente ofendida por essas acusações, pois para quem não sabe, a maioria dos alemães e especialmente as gerações mais jovens, não dão qualquer importância à História recente e mais especificamente ao período 1933-1945.



Pessoalmente acho ridículas estas comparações, pois a Alemanha de hoje nada tem a ver com a Alemanha nazi . Os alemães aprenderam na pele as consequências de políticas e filosofias extremistas e não é na Alemanha que existe um crescimento muito significativo de partidos de extrema direita.
A ideia de uma hegemonia alemã é um conceito anacrónico, mas isso não quer dizer que não possamos questionar as atuais políticas alemãs para a Europa e mais concretamente para esta verdadeira vergonha que se passou relativamente ao 3.º resgate à Grécia.
O euro foi sonhado para ser a concretização da construção europeia e o pilar da União monetária e financeira, no entanto transformou-se no veículo pelo qual a Alemanha aumentou o seu poder e a sua influência na Europa.

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A História alemã sempre esteve ligada a instabilidades e a guerras. No entanto, não partilho de algumas opiniões populistas que gritam para o imperialismo alemão. No entanto, o perigo que hoje vemos surgir não é o de conflito militar mas sim uma versão de uma “mitteleuropa” de hegemonia económica alemã.
Uma vez mais na sua História, os alemães comentem um trágico erro, pois ao insistirem o nível de quase obsessão e imposição da sua vontade aos restantes parceiros europeus, está a colocar a União Europeia numa posição impossível de sustentar e de consequências ainda não totalmente claras. O que é certo é que a onda de contestação à Alemanha estão a aumentar e isso pode levar a um aumento de hostilização e quem sabe de um isolamento crescente.
A crise das dívidas soberanas vem criar um clima de desconfiança e descrédito na Europa. Essencialmente, esta crise veio acentuar a diferença entre a Europa do norte e a do sul e essencialmente no aumento do preconceito.
Como em tantas vezes na sua História a Alemanha chegou a uma encruzilhada da qual não sabe sair. Uma vez mais, parece que após tantos êxitos estéreis e tentativas inúteis para se posicionar no centro da política europeia, parece que os alemães empregaram apenas aquela força limitada pelo destino que só lhes permitia alcançar triunfos ilusórios. E como tivesse antes enunciado a alternativa extrema: vitória ou derrota, e como o triunfo não ocorre, o governo alemão terá de reconhecer o impasse da situação.
A Alemanha arrisca o equilíbrio europeu que tanto custou a construir e resta saber até onde esta crise pode chegar. A União Europeia com a Alemanha à cabeça são directamente responsáveis pela actual situação e pelo mais que evidente inicio do fim do sonho europeu.
A União Europeia precisa de repensar não as suas políticas, mas sim a sua natureza e terá de fazer a escolha única de ser uma comunidade de nações com base na cooperação ou se pretende ser um espaço e desconfiança de de domínio dos mais fortes.
Na ausência de um poder que contrabalance o poder alemão, obrigando a que a Alemanha regresse à sua tendência europeia com base na cooperação e na solidariedade. Em contrário e sinceramente eu não vejo que país o possa fazer, a União Europeia arrisca-se a perder a sua identidade e a sua utilidade, o que me faz pensar que em vez de um grexit, devíamos falar de um germanexit.



About João Fernandes

Licenciado em Relações Internacionais; Business Manager da Webmind; Blogger e múltiplos interesses nas áreas das ciências, tecnologia, História e política. Trabalha como freelancer em websites e publicidade.

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