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Deuses astronautas – Pumapunku

Tem circulado na internet uma teoria bastante complexa e controversa. É a chamada teoria dos Deuses Astronautas. Uma teoria baseada na ideia de que extraterrestres visitaram a Terra no passado antigo e que textos históricos, registos arqueológicos e várias lendas contêm evidências deste contacto. Esta teoria foi popularizada por autores como Erich von Däniken e Zecharia Sitchin. Muitas das provas apresentadas pelos defensores desta teoria são artefatos arqueológicos, monumentos megalipticos, lendas, mitos e histórias que são interpretados de acordo com a mesma.

Embora seja um crente na existência de extraterrestres, procuro ter uma perspectiva mais racional e objetiva sobre a matéria e procurarei tentar demonstrar que algumas dessas teorias carecem de fundamentação e em muitos dos casos são desprovidas de qualquer veracidade.

 Um dos locais descritos nessas teorias é a cidade de Pumapunku localizada em Tiwanaku na Bolivia.  Um local arqueológico composto por um grande complexo de templos e monumentos. O termo é originário da língua Aymara e significa “A Porta da Puma”. O complexo é composto por templos e monumentos, formados com pedra do estilo megalítico. O complexo principal possui 167 metros de comprimento por 116 metros de largura. A borda leste de Pumapunku é ocupada pela “Plataforma Lítica”, um terraço de pedra de 6,75 por 38,72 metros. Este terraço é pavimentado com múltiplos blocos de enormes pedras. O principal material usado nas construções é a argila, enquanto o acabamento é de areia e pedregulhos. Foram realizadas 12 escavações no local que comprovaram a existência de 3 épocas distintas de construções.

 Os defensores dos deuses astronautas, defendem que Pumapunku é singular na forma como foi construído e moldado, o que o torna o local mais intrigante do planeta, ao ponto de as pirâmides de Gizé, serem uma brincadeira de crianças, pois este local teria sido construído diretamente por extraterrestres.

 Os construtores do complexo, teriam usado pedras de granito e diorito na construção e uma vez que o diorito   é  uma pedra extramamente dura, só podia  ter sido cortada com diamante ou uma serra eléctrica.  Os defensores dos deuses astronautas, sustentam que se teriam realizados determinados testes que concluíram que pelas caraterísticas da pedra, teria sido usadas ferramenta sofisticadas, tais como diamante. No entanto, os defensores dos deuses astronautas, começam de uma forma um pouco embaraçosa, pois pretendem fazer crer às pessoas que era absolutamente impossível a construção do complexo, até mesmo ao ponto de fazerem falsas alegações. Na verdade, as pedras de Pumapunku não são de granito ou diorito, mas sim arenito vermelho e andesite. O arenito  andesite teriam sido facilmente trabalhados com as ferramentas mais básicas, pois o arenito vermelho é relativamente macio e fácil de trabalhar. Assim a ideia de que seria necessário uma ponta de diamante ou serras elétricas é ridícula. Até porque são conhecidos métodos de como pedras mesmo mais duras eram trabalhadas, consistindo na utilização  de outras pedras para bater nessa pedra até criar depressões e desgaste e depois, usava-se areia como agente abrasivo e desgastavam a pedra até se obter uma superfície polida.

 Em Pumapunku pode ver-se pedras em vários estágios de acabamento, onde se podem verificar a utilização de técnica de trabalho na pedra, moagem e polimento da mesma, no entanto os defensores da teoria nunca falam destas pedras inacabadas. Há muitas evidências inconfundíveis de martelos de pedra que foram utilizados no local, por isso não entendo a alegação que teriam sido utilizadas ferramentas com tecnologia de corte a laser.

Deuses astronautas - Pumapunku - Técnica de construção por blocos

Técnica de construção por blocos. Autor: Brattarb

  Diferentes estudos demonstraram como os cortes nas pedras foram feitos, e nada de espectacular foi necessário, excepto algumas ferramentas de metal, como cinzéis. Os argumentos contra esta afirmação, são geralmente que uma determinada cultura ainda não sabia como usar metais ou cinzéis de cobre. Esta afirmação é completamente desprovida de veracidade, pois sabemos que as culturas andinas pré-incas eram muito hábeis em moldar metais e criar ligas metálicas. Na verdade, as pessoas que construíram Pumapunku tinham o conhecimento para derramar ligas de cobre em moldes e tinham mais do que capacidade suficiente para formar todos os tipos de ferramentas de metal e usavam uma liga de níquel e arsénico, que tornavam o cobre muito forte.



 Outra informação errada, diz respeito ao peso que algumas dessas pedras terão. Os defensores da teoria, sustentam que existe um bloco com 800 toneladas, quando é sabido que a mais pesada terá 130 toneladas e a maioria das pedras são muito menores.

Os defensores da teoria dos deuses astronautas alegam que a precisão dos blocos e o seu corte em ângulos de 90 graus seria impossível de reproduzir a não ser que tivessem a ajuda de extraterrestres. Bem, para fazer com que superfícies planas tenham ângulos rectos, não é necessária qualquer tecnologia alienígena. Só é necessário um quadrado ou um equivalente simples. É importante ter em mente que Pumapunku teria sido construída 1000 anos depois da civilização egípcia, que tinham todos os tipos de prumos e níveis e assim por diante, por isso este tipo de ferramenta de trabalho de pedra, era bastante básico.

Também afirmam que todos os blocos em forma de H têm as mesmas dimensões, o que sugere que foram feitos por uma grande máquina , mas os blocos H não são todos iguais, embora tenham dimensões semelhantes, o que pode provar que não foram feitas com base nos mesmos planos .

Sustenta-se que Pumapunku foi construído pelos índios Aymara e estes não tinham nenhum método de escrita, por isso como poderiam eles construir tal complexo sem fazerem planos de construção, plantas ou como as pedras encaixavam. Os construtores de Pumapunku podem não ter tido um alfabeto, mas eles usavam a iconografia comum chamada de Yaya Mama. Todos os ícones contidos na construção são Yaya Mama, não existindo qualquer iconografia secreta ou extraterrestre. Muitas culturas, usaram imagens em vez de um alfabeto e, como a maioria dos planos de construção, usaram imagens como plantas. Assim, afirmar-se que não possuindo um alfabeto, não significa que não tivessem planos de construção.

 Os crentes na teoria dos deuses astronautas, sustentam ainda que seria impossível a utilização de madeira na construção do templo, uma vez que a uma altitude de 12 800 pés não crescem árvores, o que significa que não existindo árvores para serem cortadas e usadas como rolos de madeira, não seria possível o  transporte de pedras.  Mais uma vez, não existe qualquer fundamentação neste argumento, pois bastaria que tivessem descido a montanha e ido buscar as árvores um pouco mais em baixo.

Os crentes nos deuses astronautas, sustentam que o único processo racional para levantar os enormes pesos das pedras, seria através da levitação, a anti-gravidade ou grandes veículos de elevação, ou seja algo que apenas os deuses astronautas possuíam.  Mas através da simples observação das pedras, verifica-se que muitas delas têm ranhuras com vários centímetros de largura e profundidade em duas faces adjacentes para a utilização de cordas. Então, se eles sabiam como levitar estas pedras, então porque colocar esses entalhes? E para piorar as coisas para a teoria dos antigos astronautas, de acordo com o arqueólogo Jean -Pierre Protzen , especialista em Pumapunku , não há quase nenhuma pedra no local do Pumapunku que não tenha o que ele chama de “marcas de arrasto” numa das suas faces, o que significa que foram arrastadas para o local de construção.

Os defensores da teoria, afirmam que Pumapunku está desprovido de lógica, uma vez que parece que todo o complexo foi destruído misteriosamente como se uma enorme força se tivesse abatido sobre o local e destruído todo o complexo.

Julgo que a falta de lógica é algo que não acontece em Pumapunku. Para citar o arqueólogo Alexi Vranich : ” A alta qualidade das pedras tornou atraente material de construção para casas, igrejas, praças, pontes, e até caminhos-de-ferro. Por outras palavras, as pedras foram puxadas para baixo, arrastadas por moradores locais para servirem de material de construção.

Os crentes na teoria alegam que Pumapunku tem uma idade de 17 mil anos, no entanto, o local foi datado utilizando uma grande variedade de métodos, tais como a datação por carbono; o tipo de metais usados, os destroços encontrados em certos locais; o tipo de iconografia e todos eles chegaram à mesma conclusão: Foi construído no início da Idade Média.

Os defensores da teoria, defendem ainda que o templo está orientado para determinado local no céu, alinhado com as constelações. Mas sejamos objectivos e racionais, pois na verdade qualquer construção se pode alinhar de alguma forma com uma qualquer constelação.

Por último, defendem uma teoria bastante interessante que refere que no momento em que os espanhóis chegaram ao local e perguntaram aos incas como tinham construído o local, o rei dos incas terá respondido: “Não foram os nossos antepassados que o construíram. Isto foi feito pelos deuses numa única noite.”

 Se pararmos um pouco para pensar nesta suposta afirmação, deparamo-nos com uma aparente contradição e atrevo-me a dizer que revela algum desconhecimento da cultura local,  uma vez que estamos perante um rei que nega que o seu povo tenha realizado um feito extraordinário e o atribui à obra de deuses. Parece-me ainda mais estranho que o monarca tenha admitido que os incas tenham tido antepassados, uma vez que parte da sua religião afirmava que o império inca foi a primeira civilização criada pelo próprio deus.  Se o rei admiti-se que  existiu uma cultura pré-inca e com mais habilidade do que eles, seria no minimo bastante estranho.

 Admito que algo incomum no passado possa ter ocorrido e que há certos temas consistentes com mitologias antigas que exigem boas explicações, mas julgo que não se passa nesta situação.

About João Fernandes

Licenciado em Relações Internacionais; Business Manager da Webmind; Blogger e múltiplos interesses nas áreas das ciências, tecnologia, História e política. Trabalha como freelancer em websites e publicidade.

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