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Hitler- A subida ao Poder

 A sua escalada de agitador local da Baviera, a senhor da Alemanha e manipulador do Mundo, é uma das carreiras mais espantosas da História, e o que a possibilitou, radica muito a História deste povo. A sintonia com as massas era o seu suporte e fez dele a personagem para onde confluíam a esperança de milhões de pessoas.
Em 1919, na Alemanha a paz significava humilhação e sofrimento. O estabelecimento da democracia resultou na confusão e no caos. O dinheiro não tinha valor e Berlim era um lodaçal de depravação em que tudo e todos estavam à venda. De todos os lados apareciam místicos, fanáticos, religiosos, mágicos, que  atraiam seguidores desesperados por salvação. A cada um desses salvadores era dado o nome de “heiland”.
Depois a tentativa do golpe de Munique , Hitler tornara-se do dia para a noite uma figura conhecida. Para uns era enigmático e para outros era absurdo. O seu comportamento epiléptico , os gestos enfurecido, a espuma no canto da boca ou os seus olhos ora evasivos ora fixos, causava na maioria dos alemães da classe média um sentimento de repugnância. Muitos alemães evitariam cruzar-se com ele no mesmo passeio. Mesmo dentro do Partido, Hitler era um embaraço, mas em poucos anos estaria no poder.
Entretanto a Alemanha transformara-se naquilo que mais abominava: Cosmopolita, palco para o movimento partidário e dos judeus. Quando saiu da prisão, tinha-se transformado.
Em 1929, os alemães caíram na miséria e rezavam para que surgisse um salvador e ele surgiu como uma montanha. Quem fosse alemão alemão, só tinha duas hipóteses: juntar-se aos comunistas ou aos nazis.
Em 3 anos conseguiu reformular o N.S.D.A.P, transformando-o num partido de quadros organizados e com uma forte liderança. Procurou apoiantes principalmente entre a juventude, dando-lhes aquilo que eles pretendiam: Aventura, liberdade, disciplina e o desprezo pelo mundo burguês dos seus pais.
Hitler era mais ativo e mais  moderno do que os seus adversários. Em 1932, na campanha eleitoral para as presidenciais, intitulada “Hitler sobre a Alemanha”, viajou de avião por 20 cidades em apenas 7 dias. Apesar de vir a perder as eleições para Hindenburg, Hitler criou  uma imagem de líder alternativo e credível.
Em 1932, Hitler persuadiu Hindenburg a dissolver o Reichstag e a convocar novas eleições para Julho, contudo, os nazis não conseguiram obter a maioria dos votos, conquistando apenas 288 cadeiras no Reichstag do total de 647. Em 13 de Agosto, Hitler encontra-se com Hindenburg e exigiu o cargo de Chanceler. Hindenburg recusou, pois não lhe agradava entregar o poder a um Partido que no fundo não representava a maioria dos alemães. Contudo, vários grupos de pressão, assim como os Nacionalistas aliados de Hitler que tinham obtido 52 membros eleitos, persuadiram Hindenburg a nomear Hitler para o posto de Chanceler, para “bem da Alemanha”.
Os Nacionalistas, pretendiam acabar com a democracia, acreditavam que só o líder nazi tinha possibilidade de governar o país com o apoio de uma maioria do Reichstag. Supunham-se capazes de controlá-los, visto que um deles, von Papen, seria vice-chanceler e o gabinete incluiria apenas três nazis num total de cerca de dez  ministros.

Hitler

Às 11.15 horas de 30 de Janeiro de 1933, Hitler apertou a mão do Presidente do Reich e prestou o solene juramento à Constituição de Weimar e a seguir aos novos membros do seu Gabinete.
Tinha começado o Reich dos Mil anos de Hitler.
Nenhuma hesitação, nenhum sinal de embaraço tático interrompeu o processo da tomada do poder no período de transição que vai da primeira à segunda fase da história do Nacional-Socialismo. A destruição do Estado democrático fora cumprida, dando lugar ao Estado totalitário.

Hitler
Mas ainda existiam os partidos políticos na Alemanha, ainda havia um Reichstag com deputados que tinham sido eleitos.
A 27 de Fevereiro, o Reichtag estava em chamas e os nazis declaram que se tratava de um sinal do levantamento comunista. Hidenburg queria evitar esta desgraça ao seu povo e deixou-se enganar e assinou uma lei de urgência na qual ficava fora o artigo decisivo da Constituição: a liberdade de opinião, a liberdade de imprensa, a proibição de celebrar reuniões, o segredo da correspondência e as detenções sem mandato judicial. As prisões começaram a encher-se. Foram criados os primeiros campos de concentração. Os jornais contrários a Hitler foram proibidos e os chefes da oposição presos.
Em 24 de Março de 1933 só assistiram à reunião no novo Reichstag 535 deputados de um total de 647. Como consequência da pressão exercida pelos nazis e do terror, o Reichstag aprovou finalmente a lei de plenos poderes. O resultado da votação foi: 441 votos a favor da Lei.
Mas Hitler ainda se sentia ameaçado. Temia os antigos rivais conservadores, temia o exército e alguns sectores do seu próprio partido que se mantinham revolucionários e temia principalmente o chefe das S.A: Ernst Roehm. Himmler forja provas em como Roehm e as S.A planeiam um golpe contra  si. É feita uma lista com os supostos conspiradores, inclui não apenas  o chefe das S.A, como também  todos aqueles que se opunham ao poder crescente das S.S. ( Schutzstaffel). O banho de sangue desencadeado a 30 de Julho de 1934, ficará conhecido como : “A noite das facas longas”, onde mais de 500 pessoas serão assassinadas por executores das S.S.



  Foi assim que Hitler chegou realmente ao poder.

 A 26 de Julho de 1934 piorou o estado de saúde do presidente do Reich que já fizera 87 anos. Todas aquelas emoções eram demasiado intensas para o velho marechal. As convulsões políticas tinham destruído o seu equilíbrio interno. Hitler apressou-se a submeter ao gabinete ministerial uma lei que devia vigorar após a morte de Hindenburg, pela qual se acrescentava as funções de presidente do Reich àquelas de Fuhrer e chanceler do Reich.
Para Hitler tinha chegado o momento de atuar e dar o último golpe. Tinha necessidade do comando sobre as Forças Armadas, necessitava da Reichwehr e da futura Wehrmacht para os planos que muito cedo descobrira publicamente e fez com que a Reichwehr prestasse, sem perda de tempo, juramento de fidelidade ao novo chefe de Estado. Para os soldados, este juramento de fidelidade era uma questão de honra. Para eles, desobedecer ao seu nove comandante, seria trair a sua própria pátria. Agora, estavam obrigados a unirem-se a Hitler para a vida e para a morte.
Às 9 horas de 2 de Agosto de 1934 os médicos certificaram o óbito de Hidenburg. Por fim, Hitler podia governar de um modo absoluto.

 Hitler escreve:

 — “Estou a restituir a pompa e o misticismo ás vidas monótonas do séc. XX”.

 “Nos próximos mil anos não haverá na Alemanha outra revolução“.

 Hitler foi o catalisador da grande mistura de nostalgias, de complexos, de razões, de frustrações, de sonhos, de miragens e de reivindicações de um povo poderoso e orgulhoso, a quem fora imposto um Diktat humilhante. As suas qualidades de chefia e de oratória, a sua palavra e a sua ritualidade agressivas e galvinizadoras, que se podem ver nos filmes de actualidades da época ou nessa obra prima que é o Triunfo da Vontade, contaram certamente para o seu triunfo; como contaram também muito os erros dos seus adversários, comunistas, sociais-democratas e conservadores, quase todos menosprezando-o e à capacidade do Partido Nacional-Socialista de mobilizar uma parte significativa da população, de todos os grupos sociais, e particularmente, os veteranos de guerra e os jovens.
 A reacção inicial das democracias ocidentais da chegada ao poder de Hitler foi a de acelerarem o seu empenho no desarmamento. O governo alemão era agora encabeçado por um chanceler que tinha proclamado a sua intenção de derrubar o acordo de Versalhes, de se rearmar e de assumir então uma política de expansão. Ainda assim, as democracias não viam necessidade de tomarem precauções especiais. A chegada de Hitler ao poder fortaleceu a determinação da Grã-Bretanha em prosseguir o desarmamento. Alguns diplomatas britânicos pensavam mesmo que Hitler representava uma esperança para a paz do que os governos menos estáveis que o precederam. A Inglaterra na altura a maior potência da Europa nem sequer tentou travar Hitler e foi mesmo a grande responsável pela sua ascensão através de máximas como “A Inglaterra não tem amigos permanentes, mas interesses permanentes” e “Se deve haver um enterro (de Versalhes), vamos celebrá-lo, contanto que Hitler esteja disposto a pagar o serviço fúnebre”. Pior do que tudo, a Inglaterra ao não apoiar firmemente a França, deixou a sua aliada sozinha e à beira de um ataque de nervos.
Hitler era essencialmente um orador. Nos seus discursos, as primeiras palavras tremiam, amortecidas no silêncio denso. Ás vezes esperava vários minutos, num silêncio quase insuportável. O começo era monótono e banal, limitava-se em geral à lenda da sua ascensão, com esse início formal, prolongava a tensão até ao discurso propriamente dito, mas servia-se dele principalmente, para sentir o seu público, colocar-se na mesma frequência. Depois, com ferozes movimentos explosivos, forçando imprudentemente a voz agora metálica, projectava as palavras para fora de si. Focava sempre os mesmos temas: A luta contra o Marxismo, o lamento contra a perda da honra e a consciência nacional. Por vezes levado pelo furor da exortação, cerrava os punhos diante do rosto crispado e fechava os olhos abandonando-se os transportes da sua sexualidade deslocada. Nada era deixado ao acaso, desde o número de participantes à hora do discurso ao ritual de entrada.
Chegava a fazer 10 discursos por dia, mas contra todas as aparências, as suas apresentações eram puras encenações e eram friamente estudadas, para superar a sua timidez. Mas quando aparecia em público, fazia despertar sentimentos não explicáveis racionalmente ou por razões puramente políticas. Ocultavam-se nos seus discursos, impulsos religiosos, quando não eróticos. Sobre ele concentravam-se anseios desmedidos e a satisfação de impulsos secretos. No fim dos discursos, a união que procurava realizar com as massas, como se fosse com uma mulher,  estava consumada. Nelas, este homem com dificuldades de contacto, encontrava a satisfação das suas carências. Ele apresentava-se à multidão ansiosa, como um deus, que estendia a sua mão para o seu povo. Mas a sua concepção de um Führer, era mais a daquele que enfrenta a multidão rígido como um monumento.

Hitler



Quando marchava por entre as exaltadas colunas humanas, numa semi-obscuridade estimulante, parecia transformar-se. Mas no fundo do seu ser, permaneceu sempre um “pobre diabo” de uma província austríaca: Era vulgar e possuía traços ordinários, mas naqueles momentos adquiria a genialidade de um grande demagogo. Era apaixonado, ardente e colérico, e isto atraía as multidões. Com uma habilidade demagógica, com instintos de um proscrito e um faro apurado para as fraquezas psicológicas, manobrava os adversários até ficarem prontos a aceitarem o seu domínio. Ele provocava o temor e satisfazia as tendências sentimentais. Considerava-se o salvador de um mundo ameaçado, era assim que se apresentava diante do povo. O seu triunfo repousava essencialmente, no facto de levar as coisas ao limite extremo. Era radical não só nas suas paixões como também nos seus cálculos racionais. As suas ideias e máximas demagógicas, onde se vangloriava de traduzir “a avaliação exacta de todas as fraquezas humanas”, pareciam-lhe garantias de um sucesso quase matemático.
A habilidade demagógica e egomania eram duas faces da mesmas moeda. Hitler era incapaz de manter uma conversa normal, ocupado em longos monólogos ou caído em enfastiado silêncio quando algum interlocutor conseguia tomar a palavra – e, por vezes, até dormitava, alheado.
A egomania de Hitler teve igualmente consequências mortíferas; convencera-se a si próprio e aos seus seguidores, de que, sendo as suas faculdades tão invulgares, todos os seus objectivos tinham de ser alcançados durante a sua existência. Uma vez que, com base na história da sua família, calculou que a sua vida seria relativamente curta. Como chefe de Governo, funcionava mais por instinto do que por análise. Fantasiando-se a si próprio de artista, resistia aos hábitos sedentários e mudava constantemente e sem descanso.
Não gostava de Berlim e encontrou repouso no seu retiro bávaro, onde se recolhia meses a fio, ainda que, mesmo ali, depressa se aborrecesse. Desdenhando dos procedimentos do trabalho ordenado, e tendo os seus ministros dificuldades em acercar-se dele, a orientação política era feita de solavancos. Tudo o que fosse consistente com os seus lampejos de actividade frenética prosperava; tudo o que requeresse um esforço sustentado tendia a definhar.
Ninguém parecia compreender o homem que realmente ele era. No estrangeiro, preparavam-se como na Alemanha, num mesmo movimento de cegueira, de esperanças, de neutralizações e de pusilanimidade para os pactos e acordos do futuro. A Alemanha era de novo uma grande vedeta internacional que, em cada jornal, em cada cinema, fascinava as massas com o misto de terror, incompreensão, de admiração, a que se misturava um pouco de sadismo, a grande figura aventureira, trágica, inquietante e perigosa.
Hitler não nascera para se tornar um simples tirano. Ele era obcecado pela ideia da sua missão, de se opor às ameaças lançadas contra a Europa e a raça ariana, e queria por isso mesmo “erigir um império mundial duradouro”. Uma das façanhas mais notáveis de Hitler, foi sem dúvida a de ter sabido canalizar numa energia dirigida para um objectivo social, os impulsos difusos que brotaram no povo alemão. A sua exigência de sacrifício inflamou a povo esgotado pelo desemprego, a miséria e a fome, suscitando um anseio de devotamento. Mais importante ainda, ao menos para a rápida  reviravolta da situação  na Alemanha, terá sido o facto de ter percebido que a depressão, o sentimento de uma atmosfera pesada e a apatia geral, tinham como causa, um profundo pessimismo, uma dúvida fundamental quanto à ordenação do mundo, e que as massas aguardavam novos impulsos. Entre as ideias que presidiram a aventura do país, quase nenhuma era dele, mas a gravidade desumana com a qual ele passava da sua existência ao imaginário era no entanto alemão.
Antes da guerra, Hitler contou com o apoio de milhões de alemães, hipnotizados pela sua filosofia revolucionária, mas em 7 anos Hitler iria trair, empobrecer e destruir milhares de famílias e toda a Alemanha.

About João Fernandes

Licenciado em Relações Internacionais; Business Manager da Webmind; Blogger e múltiplos interesses nas áreas das ciências, tecnologia, História e política. Trabalha como freelancer em websites e publicidade.

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