Como já referi no artigo “O maldito (des)acordo ortográfico“, sou uma pessoa ligada ao mundo das informáticas, cometo os meus erros ortográficos, mas gosto muito da nossa língua, da sua história e das suas raízes latinas.
Ao que parece, entrou em vigor a “obrigatoriedade” do uso desta coisa que chamam de AO1990. E digo “desta coisa“, pois considero-a um grande disparate e uma total ofensa à nossa querida Língua Portuguesa. Não quero dizer com isto, que não concorde com a evolução da língua! Pelo contrário, senão ainda escrevia, por exemplo, “pharmácia” em vez de farmácia. A questão é quando se fazem “evoluções” que fazem perder característica fonéticas essenciais. Há constantes que, apesar de mudas, abrem a vogal que as antecede (efeito diacrítico). Há acentos que são colocados para distinguir tempos verbais ou outras palavras de acentuação esdrúxula.
Omitir certas constantes, assim como certos acentos, é uma total aberração e a criação de várias ambiguidades, algumas até engraçadas, mas que no fundo da questão, perdem essa piada por tranformarem-se numa triste realidade imposta pelos nossos governantes.
Fazendo aqui um parênteses, também acho curiosa a escolha desta data (13 de Maio) para a introdução desta coisa do AO. É que coincide com uma data importante para todos os católicos Portugueses e que, normalmente, é dada uma certa relevância pelos meios de comunicação social. Parece tipo: “Eh pá, vamos lá meter esta data pois a malta anda distraída com as celebrações em Fátima e nem dá por isto!”. Bom… apesar de ser católico, dei bem por “isto”!
Mas, e agora? Sou mesmo obrigado a escrever com este maldito AO? Poderei eu até ser multado por não o fazer?
Vejamos algumas respostas que apurei em vário artigos que li e que vou resumir:
Sou obrigado a usar ao AO1990?
NÃO! Apenas as entidades que estão sob tutela do Estado é que são obrigadas a escrever segundo o AO1990. O que é triste, especialmente para professores que amam a sua Língua e vêem-se obrigados a escrever mau Português e a ensinar às nossas crianças mau Português. Também, para os desgraçados dos estudantes, é obrigatório sob pena de verem a ser descontados pontos nos seus exames nacionais se não usarem esta coisa do AO1990… Mas ninguém poderá ser multado por não usar o acordo, já que há muita gente que comete erros ortográficos e não são punidos por isso!
Sobre a data de 13 de Maio…
O Governo impinge esta data como a data final da transição para o AO e a passagem à obrigatoriedade da sua utilização. Mas esta é a data legal? Do que tenho lido, e foco o artigo do Público O “Acordo Ortográfico” de 1990 não é obrigatório a partir de 13 de Maio de 2015, de Ivo Miguel Barroso, esta data não é válida! Resumindo, os ditos 6 anos de transição para a aplicação do AO1990, ao disposto do Decreto de ratificação do Presidente da República de 2008 (Decreto n.º 52/2008), só devem ser contados após a publicação no Diário da República, o que só aconteceu em 17 de Setembro de 2010, apesar de o Governo ter realizado o acto de depósito desta ratificação a 13 de Maio de 2009. Mas o que conta é a data de publicação no Diário da República, à qual devem ser acrescentados 5 dias de “vacatio legis”! Ou seja, o período de transição só deverá terminar a 22 de Setembro de 2016! Leia o artigo para mais informações….
O AO1990 é constitucional?
Não serei a pessoa correcta para responder a esta pergunta, apesar de acreditar que não é! Contudo, e novamente por leitura de um artigo do Público – Professor de Direito diz que novo Acordo Ortográfico é “inconstitucional”, em que Ivo Miguel Barroso, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, considera que utilizar a Língua Portuguesa, segundo as normas do novo Acordo Ortográfico, é “inconstitucional” e apresentou queixa na Provedoria de Justiça, afirmando que “Uma língua não se muda por decreto. Tem de ter em conta a vontade do povo português e os pareceres técnico-científicos, que são, na sua esmagadora maioria, contrários ao Acordo Ortográfico”.
Em suma, nada obriga, nem a mim, nem aos leitores, a usar este triste (des)acordo ortográfico. Com excepção dos professores de língua Portuguesa que, mesmo discordando da aplicação do AO, se vêem obrigados a usá-lo sob pena de processos disciplinares, e dos nossos alunos que, igualmente, se vêem perante a ameaça de perderem pontos nos exames nacionais, caso optem por usar a grafia correcta. É triste, muito triste…
É mais fácil ensinar as crianças com o AO?
Os defensores do AO dizem que sim… Os professores sensatos dizem que não… E eu pergunto: “Querem dizer que os nossos professores não sabem ensinar e que as nossas crianças são burras e ignorantes?”. Eu tive a sorte de ter tido uma excelente professora na primária, a saudosa Dona Alice que já partiu, e que me ensinou tudo sobre a Língua Portuguesa, as raízes das palavras e o efeito diacrítico de algumas consoantes “mudas”. Percebi tudo, aprendi a escrever em bom Português e nunca tive dúvidas.
Aprendi, por exemplo, que a palavra “lectivo” deve ser lida com o “e”, em “le”, aberto pois a consoante muda “c” tinha efeito diacrítico e abria a vogal que a antecedia. Sem a consoante, leia-se “letivo” com o “e” fechado. Qual a regra que me diz, com o novo AO, que devo abrir o “e”? Aprendi também, por exemplo, que do verbo “parar”, distingue-se a palavra “pára” da preposição “para”, agora sem acento, como diferenciar “para” do verbo “parar” com a preposição “para”?
Mesmo após mais de 30 anos, ainda tenho, felizmente, grandes amizades com antigos colegas meus da primária e todos concordarão com isto. Foi difícil? Não! Aprendi a escrever e a ler com todas as regras! Quer dizer que, agora, os professores não sabem ensinar? Ou que as crianças de hoje são mais idiotas que no meu tempo de criança? Não será esta afirmação, dos defensores do AO, uma ofensa a professores e alunos?
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Este artigo foi escrito com a antiga grafia.