Existe uma teoria bastante caricata e controversa em torno dos “Deuses extraterrestres”, denominados por Annunaki e que considero particularmente interessante e que me deixa bastantes dúvidas e mais interrogações do que certezas.
Nos textos antigos da Suméria, temos descrições do termo Annunaki que deriva de uma série de divindades sumérias, acádias e babilónicas. O nome é escrito “a-nuna”, “a-nuna-ke-ne, ou “a-nun-na”, ou seja, algo no sentido de “aqueles de sangue real” ou “prole do príncipe”. A sua relação com o grupo de deuses conhecido como Igigi não é clara – às vezes os nomes são usados como sinónimos, mas, no mito do dilúvio de Atrahasis, têm de trabalhar para os Anunnaki, rebelando-se após 40 dias e substituídos com a criação dos seres humanos.
Outros autores, oferecem uma perspectiva ligeiramente diferente sobre os Igigi e Anunnaki, escrevendo que “lgigu ou Igigi é um termo introduzido no período antigo como um nome para os “grandes deuses”. Embora, por vezes, mantivesse esse sentido em períodos posteriores, desde o período Médio é geralmente usado para se referir aos deuses do céu coletivamente, assim como o termo Anunnakku (Anúna) foi posteriormente usado para se referir aos deuses do submundo.
De acordo com o posterior mito, os Anunnaki eram filhos dos deuses irmãos Anu e Ki, filhos de Anshar e Kishar (Eixo-do-Céu e Eixo-da-Terra, os pólos Celestiais), que por sua vez, foram os filhos de Lahamu e Lahmu (“os enlameados”), nomes dados aos guardiões do templo de Eridu Abzu, o local em que a criação ocorreu. Finalmente, Lahamu e Lahmu foram os filhos de Tiamat(Deusa do Oceano) e Abzu (apsû) (Deus das águas).
A ideia central é a de que os Annunaki e os sumérios foram criações diretas de Anu, considerado como o pai e rei dos deuses, por isso mesmo o nome Annunaki reflecte a ideia de que eles eram filhos do príncipe.
Porque dão então os defensores da teoria extraterrestre, uma explicação diferente? Esta tradução foi feita nos anos 70 por Zecharia Sitchin que alega que os Annunaki eram alienígenas. No entanto, este autor sem quaisquer credenciais académicas no campo da tradução suméria, traduziu de forma muito errada os textos. Sitchin afirma que os escritos referem claramente que esses seres desceram em veículos voadores do céu. Esta é uma afirmação que não corrobora com qualquer outro autor. A ideia de que o texto diz que ” desceu de veículos voadores” é pura ficção.
A teoria sustenta que existem diversas imagens na iconografia suméria que representam imagens do disco solar alado como naves espaciais nas histórias sumérias, mas na verdade a imagem do disco solar está associado com o sol ou o deus sol, nada tendo a ver como se afirma com naves extraterrestres.
Os defensores socorrem-se de imagens da iconografia suméria no épico de Gilgamesh em que se podem observar seres parecidos com viajantes espaciais modernos; alguns deles usavam o que parecem ser relógios de pulso; botas e capacetes e, acima de tudo, asas. Mas, curiosamente, essas imagens não são sumérias, são acadianas.
Para compreender estas estranhas imagens e antes de partirmos para crenças mais atraentes como a de deuses extraterrestres, temos de ter em consideração o conjunto de crenças e superstições dos povos que as usavam. A crença era de que certos aspectos da natureza eram controladas por esses “seres” alados. Eles eram responsáveis pela fertilização das culturas e por isso, muitas vezes associados a elementos da natureza, tais como água, flores, pinhas. Os “relógios de pulso” usados por essas figuras, revestem-se de uma particularidade interessante e que os crentes não referem: Os ditos seres, usam frequentemente 2 desses relógios. Qual a necessidade de se usarem 2 relógios? Nenhuma, se partirmos do principio de que não se tratavam de relógios. Este ” relógio ” é na verdade um símbolo acadiano para Ishtar a deusa da fertilidade. Podemos verificar o mesmo símbolo no famoso portão de Ishtar na Babilónia. Era muito frequente na cultura acadiana a preocupação com a polinização das flores, por isso não é estranho que os tais “seres”agiam em nome de Ishtar para fertilizar as plantas e tivessem asas tais como as abelhas ou aves.
Zecharia Sitchin sugere que a razão para a qual sermos visitados no passado remoto por deuses extraterrestres é porque planeta natal dos antigos astronautas precisavam de ouro, visto que o seu planeta tinha sofrido uma catástrofe atmosférica e que o ouro terrestre seria a única solução para a solucionar e dada a escassez de ouro no seu planeta natal, tinham vindo à Terra para extrair ouro.
Esta teoria de “aliens mineiros” tornou-se fundamental para o movimento. Mas trata-se de uma ilusão e não tem absolutamente nada a ver com textos sumérios. É interessante notar que Sitchin nem sequer referir em que lugar dos textos sumérios consta essa noção de que eles precisavam de ouro. Mais interessante ainda e uma vez que os textos sumérios são amplamente divulgados e conhecidos, é que nem sequer encontramos qualquer referência suméria à simples palavra ouro nos seus textos. Continua ainda por explicar porque motivos Zecharia Sitchin, traduziu “deus da sabedoria” para “mestre de mineração”, dando origem à teoria dos deuses mineiros.
Os crentes desta teoria, sustentam ainda que os annunaki são originários de um planeta chamado de Nibiru que estará para lá de Plutão. Apesar de todos os nossos avanços, até à data ainda não se detetou qualquer planeta que se possa enquadrar nas descrições desta teoria (A este respeito consultar o texto sobre o Planeta Nibiru, Planeta X).
Vamos passar para outra afirmação sobre os Annunaki: “Praticamente todas as histórias contidas no Génesis – a história do dilúvio, a história de Adão e Eva – todas têm precedentes com os antigos sumérios. Os Annunaki vieram à Terra em busca de ouro, mas os seus trabalhadores fartos do trabalho árduo, recusaram-se a continuar. Assim, decidiram criar um trabalhador primitivo chamado de Adamou . Os Annunaki criaram os seres humanos como uma espécie de escravos.”
A primeira coisa a ter em conta é que no épico da criação suméria, os deus não trabalhavam na mineração, mas sim na criação do mundo, o que seria de se esperar num épico de criação. O que o épico afirma é que os deuses trabalhavam na criação de montanhas e rios, como o Tigre e o Eufrates, relatando igualmente algumas histórias contidas na Bíblia, ao descrever os seguintes eventos:
• Os deuses decidem misturar -se com argila e fazer o homem.
• Como a versão dos homens que fizeram aumentou e o seu número e barulho que faziam irritou os deuses e estes decidem matá-los com um dilúvio.
• Um homem é instruído a construir um barco, colocando os animais nele.
• Chove durante sete dias e sete noites e o homem e sua família são salvos.
Há muitas semelhanças entre os escritos sumérios e aos relatos bíblicos da criação do homem e o dilúvio de Noé. Algumas pessoas pensam que isto se deve aos escritores da Bíblia copiarem os escritos sumérios anteriores. Isso é problemático, pois a dependência literária não pode ser demonstrada. Aqui, como na maioria dos paralelos na história primitiva, considera-se mais provável que as tradições da Mesopotâmia e bíblicas são baseadas numa fonte comum. Alguns entendem esta fonte comum de ser uma peça de literatura mais antiga. Acrescente-se que não são apenas os textos sumérios e a Bíblia que descrevem a mesma história, mas os elementos óbvios dessa história podem ser encontrados em diversas culturas, independentemente do seu espaço geográfico. Estão na China, Europa, médio oriente, em tradições nativas americanas e na América do Sul. A explicação para esta aparente inesplicável coincidência, poderá estar no simples facto de todas essas culturas desenharam a partir da mesma história original, uma história própria e que depois seguindo caminhos separados em consequência das migrações dos povos, as levaram para outros locais e começaram as adições de detalhes até em razão da própria geografia do local.
A pergunta que se coloca é simples. Qual das história está mais próximo da verdade?
Os defensores dos deuses astronautas, dizem que a versão suméria está mais próximo da verdade, visto ser a mais antiga. Isso faz muito sentido, mas temos de obrigatoriamente que concordar que os eventos descritos nos textos sumérios, relatavam uma história ainda mais antiga para eles, portanto, a questão não é tanto sobre a data da escrita, mas sim a sua capacidade de preservar a história. Uma excelente razão para não se dar demasiada credibilidade aos textos sumérios está na sua natureza. As histórias sumérias não são logicamente consistentes, sendo que os textos diferem uns dos outros. Os sumérios mudam constantemente os detalhes das suas histórias de acordo com as diferentes situações.
Comparemos isto com os antigos escribas hebreus, que eram notórios pelo ter seu trabalho cheios de regras. Por exemplo, diz-se que eles teriam que proferir cada letra em voz alta antes de a escrever. Assim, ao decidir que os textos são mais precisos no que se refere às suas contas de eventos antigos, é lógico colocar certas situações em questão, nomeadamente a tradição de preservação e transmissão de textos e aqui, os textos sumérios carecem de algum rigor, pelo que a teoria dos deuses astronautas baseada nestes textos, apresenta algumas lacunas.
Natal dos deuses
http://adventmedidas.blogspot.com.br/2014/12/a-volta-de-um-deus-e-volta-de-um-povo.html