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O maldito (des) acordo ortográfico

Sou um indivíduo das engenharias, cometo os meus erros ortográficos e de gramática, mas sou um apaixonado pela nossa cultura e pelas nossas raízes latinas. Mesmo que, por vezes, dê algumas “calinadas”, gosto de escrever e de escrever em bom Português. Já faz tempo que desejava escrever sobre este assunto, que tanto me faz bater com a cabeça na parede. Sinceramente, para mim, esta coisa que chamam de acordo ortográfico é um pesadelo, uma adulteração da nossa querida língua e não tem cabimento nenhum.
Cada vez mais me “passo” ao ler artigos de jornais e rodapés nos noticiários televisivos. Por vezes, e dadas certas palavras escritas com este acordo ortográfico, fico mesmo na dúvida do que realmente pretendem dizer. Muitas vezes até vejo palavras, cujas consoantes até se deviam ler, com estas suprimidas. É espantoso! Realmente espantoso!
Ainda estou por descobrir que raio de regra é que irá substituir a maioria das consoantes mudas, que coitadas, talvez por serem mudas foram caladas de vez, mas que faziam abrir a vogal que as antecedia, para lermos correctamente as “novas palavras” impingidas por este acordo!
Só me resta colocar um pouco de ironia e até um pouco de humor, porque chorar não vale a pena, em algumas palavra que aqui vou colocar:

Acção ►Ação
Esta confesso que me mete mesmo cá uns nervos, ou até fome… “Assão”? “Assões”? Leia-se o primeiro “a” fechado! Do latim “actiōne-” passamos de agir, pôr em prática, para… um… “assador”? Vamos “assar” algo? Uma boa carne assada até que ía, sim senhor… Força porquinho!

acordo ortográfico

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Adopção ►Adoção

Adussão”? Que raio! Terá a ver com os “adoçantes”? Quer isto dizer que, se eu quiser adoptar algo, terei que passar a pôr adoçante no café ou noutras bebidas? Alguém me pode explicar? E “adotado“? Leia-se mais uma vez o “o” de “do” fechado… tipo “adutado“… Efectivamente, este AO traz coisas muito misteriosas…

Acto ► Ato

Hum… Eu ato, tu atas, ele ata, nós atamos, vós ateis, eles atam… Fantástico! Passámos de uma palavra, proveniente do latim “actu-”, que tem significados como a realização de algo, de uma acção, para o verbo “atar”. Eu, de facto, bem me sinto “atado” quando, profissionalmente, tenho mesmo que escrever em concordância com este maldito acordo ortográfico. E aqui, mais do que nunca, tenho mesmo que ter activo um corrector ortográfico com o acordo! Senão, lá vão palavras escritas… bom… como deveria de ser

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Detectar ► Detetar
Esta também traz algo de excelência… Do latim “detectu-“, de descobrir, desvendar, e do Inglês detect, passamos para… “de-te-tar“? Leio o “e” de “te” fechado? “De-tetar“… De tetas? Terá agora algo com o retirar as crias das tetas das mães? Ou mesmo de tirar as tetas? Bom… é melhor ficar por aqui senão ainda tenho que colocar uma bolinha vermelha no canto superior esquerdo…

Direcção ► Direção
Leio “Diressão”? Do latim “directiōne-” (orientação, rumo, …), passamos para outra palavra, de origem estranha, que se deverá ler com o “e” de “re” fechado, uma vez que falta lá a tal consoante “muda” que faria abrir a vogal “e”. Sinceramente, assim perco o “norte” e não sei que “diressão” hei-de tomar…

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Directo ►Direto

Das nossas raízes latinas, “directu-” (de colocar em linha recta), ficamos com uma espécie “di-rê-to“, tipo “direito” com sotaque alentejano (sem ofensas, que eu adoro o alentejo). Mas o mais estranho é quando passamos de “directamente” para “diretamente“! E leia-se o “e” de “re” fechado, para variar… “dire… tamente“… O que é? Que quer dizer? É que sinceramente não há mesmo regra nenhuma, no presente e vergonhoso AO, que faça abrir a dita vogal. E ainda temos “Director” para “Diretor“, que me dá vontade de ler como “dire-tor“, com o “e” igualmente fechado.

Efectuar ►Efetuar
Com o novo AO, leia-se o “e” de “fe” fechado, como no primeiro “e”… Da base latina “effectu-”, de realizar algo, passamos para… para… hum… !? “Efe-tuar”… Hum… Pois, “efetivamente” (outra vez a ler-se o “e” de “fe” fechado) não sei…

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Factura ►Fatura
Futura? Fartura? Ui, esta última até me dá fome! Passar de facturar para “faturar” – leia-se o primeiro “a” de “fa” fechado – é algo fora do comum. É que nem sei o que é uma “fa-tura” (outra vez, leia-se o “a” fechado” como em “ra”). É isso e a “fatura” da sorte… Parece algo mágico, ou até de “vidência”… Será?



Interceptados ► Intercetados
Do verbo interceptar, com o AO “intercetar”, “intercetados” (lendo-se o “e” no “ce” fechado) distorce completamente a fonética da palavra. É mais uma daquelas palavras, que quando lidas, me obrigam a fazer um certo exercício fonético para a compreender… E temos mais magia! Agora, as intercepções passam a ser “intercessões“… Vamos lá interceder para aparecer alguém que nos livre de alguma magia negra que ainda possa surgir por aí.

Recepção ►Receção
Esta tem nota 20! Pois… eu cá leio isto como “recessão”… De facto, a crise que atravessamos tem nos trazido muitos problemas! Imaginem só que até os recepcionistas passaram a ser “recessionistas”. Mas… E o que quererá isto dizer? Alguém que recebe a “recessão”? Ou que sofre com a “recessão”? Bom, neste último caso eu sou um “recessionista”, como, provavelmente, muitos dos leitores que poderão estar a ler este artigo. Enfim…

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Recta ►Reta

Coitadas das rectas, acho mesmo uma autêntica falta de respeito a estas senhoras. Uma grave ofensa mesmo. É isso e passar de “Recto” para “Reto“. É que faz lembrar algo… enfim… do tipo “retal“, que vem do “reto“, ou que vai… Bom, é melhor ficarmos por aqui…

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Sector ► Setor
Apesar do AO até querer ser simpático, ao ponto de dar a opção de se escrever “Sector” (uma vez que há que leia o “c”), “setor” fica mesmo muito estranho… Quase faz lembrar os tempos do liceu, o “ó setor” (“setor” de “senhor doutor”). Quer dizer que, dos vários significados desta palavra, quer em geometria, economia e afins, passamos a ter “senhores doutores”? Sem querer entrar em intrigas, mas será que a palavra “Sector” acabou por ir tirar um doutoramento na UI e ter recebido o canudo num Domingo? Hum…

Sectorial ►Setorial

De “Sector”, voltamos a uma nova aberração! Vejamos “se-to-rial” (“e” de “se” fechado). Terá a ver com um seccionar o “senhor doutor”? É que realmente, quando me aparece esta estranha palavra à frente, fico sem saber o que tal coisa quer dizer. “Se-to-ri-al“… “Se-to-res“… Hum…

Bom, e existem ainda mais palavras e ainda hei-de falar delas num vídeo que irei criar em breve. Contudo, convido o caro(a) leitor(a) a participar com mais alguns exemplos maravilhosos, deixando uma resposta a este artigo

O mais “interessante” é também ver palavras, que não mudaram com o AO, uma vez que as tais consoantes até são lidas, a serem maltratadas… Aliás, maltratadas são as consoantes”c” e “p” que desaparecem inadvertidamente! Vejamos uns poucos exemplos…

Contacto►Contato
Sim! Lê-se o “c”! O tipo aqui não é mudo, coitadinho. O engraçado é ver como querem passar de uma palavra com a origem latina “contactu-” (toque, pessoa conhecida, etc…) para… Gaguejar? Temos mais magia no ar! Com “tato” a significar também “gago” (de acordo com o Infopédia). Sem querer ofender ninguém (o objectivo é ridicularizar o AO), mas será que o problema dos gagos é falta de “contato“?

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Facto►Fato
Aos fanáticos do AO…”Facto” é uma palavra cuja consoante “c” é lida!! Tem a raíz latina de “factu-” e tem significados como real, que existe, etc… Já “fato“, em Portugal, é algo que se veste… “De facto” para “De fato” até apetece perguntar “… e de gravata?”. Assim como “factual“! Também se lê o “c”! Por respeito à língua, que já tanto tem sido desrespeitada, não comam o “c” e não escrevam “fatual“…

Pacto►Pato
Este merece um pedestal! Mais uma vez, temos uma palavra que se e bem a consoante “c”… E mais uma vez já tenho visto a ser escrito sem “c”, o que me faz pensar o que é que um desgraçado de um pato (animal) tem a ver com contextos de “pactos”… Se alguém quer fazer um “pato” com o diabo, que deixe lá o desgraçado do bicho em paz e que faça antes um “pacto”, sem incomodar o pobre animal.

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E já agora, Pactuar ►Patuar

Mais uma fantástica alegoria ao “pato“. Parece que a partir de agora, devemos envolver a família toda do pato Donald, tio Patinhas, e demais familiares, nesta questão dos “patuais“. É que isto só mesmo uma banda desenhada com elevado sentido de humor e os disparates do costume do Donald. Ah! E não esquecendo o Peninha! Pois… e assim anda o nosso país, à “patada” com os princípios da nossa escrita, das nossas origens e da nossa língua.



Técnico ►Ténico

E continuamos com a diversão! Esta então foi das palavras maltratadas mas “fabulástica” (de fabulosa com fantástica) que já vi até agora. Fantástico! Uma enorme falta de respeito ao pessoal técnico que são despromovidos de “técnicos” a “ténicos“. Terá algo a ver com “ténia“? Se sim, cuidado, pois vamos ter por aí muitas “bichas solitárias” (sem ofensa ao pessoal técnico, ok?)

Enfim, parece que temos artes mágicas que transformam umas coisas em outras. Sinto que cada vez mais há magia no ar!

Nunca vi a nossa língua a ser tão mal tratada como nestes últimos anos. Até já vi notícias escritas, do tipo “ministério de economia” em vez de “ministério da economia”, jornalistas a pronunciar a primeira pessoa do plural, do passado dos verbos terminados em “ar“, como se fosse o presente. (Por exemplo, “a narração que escutamos” em vez de “a narração que escumos”). Esta então, confesso que me mete cá uns nervos… Mas além de um bárbaro acordo ortográfico, temos agora um bárbaro acordo fonético? Alguém pode explicar-me?

Não tenho nada contra o povo Brasileiro, até pelo contrário. Mas acho que tentar uniformizar uma escrita que, sem querer ofender os Brasileiros, mas foi tão adulterada face às nossas raízes latinas e europeias, torna-se completamente ridículo. Afastamo-nos das raízes europeias e dificultamos até a aprendizagem do Inglês e de outras línguas que usam as mesmas consoantes, ou equivalentes. Já agora, era engraçado se os Ingleses fossem pela mesma via e passassem a retirar o “k” de “know” de forma a escrever-se “now“… de “saber” para “agora“, vai uma valente diferença, sem falar também da alteração fonética e da importância da consoante muda “k”!

E se acham que isso é positivo para relações comerciais, já sabemos que o Brasil tem a Europa na cauda dos seus interesses, estando os EUA, países latinos e até a China à frente. Eu espero, sinceramente, que ainda haja um dia que alguém no poder se lembre de olhar para esta triste cena com olhos de ver.

Pela minha parte, já participei em petições. Eu não vou voltar as costas às minhas origens! Não é estar a contrariar a evolução da língua, senão ainda escrevia “farmácia” com “ph” (o que foneticamente não choca). Mas agora quando estamos diante de de casos tão absurdos como estes, faz-me pensar que afinal, deve haver mais pessoas a obterem um canudo a um Domingo…

Se também não gosta desta coisa que chamam AO, convido-o(a) a assinar a ILC contra este desacordo ortográfico, clicando na imagem ao lado!

Apoie esta iniciativa! Diga não ao Acordo Ortográfico!

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue!

Referências:

Imganes: www.clipart.com

Este artigo foi escrito com a antiga grafia.

About Carlos Santos

Frequência em mestrado de Engenharia Electrotécnica e de Computadores. Programador freelancer: Websites, Aplicações Web (JAVA e PHP), J2SE/J2EE, C/C++ e Android. Explicador e formador em informática, matemática e electrotecnia. Formação presencial ou remota através de Skype e Team Viewer. Interesses: Música, áudio, vídeo, ciência, astronomia e mitologia.

5 comments

  1. Gustavo Fernandes

    Confesso que também padeço das mesmas “comichões” desde o inicio deste (des)acordo. E de facto, é um desacordo porque até os PALOP não aderiram ao dito cujo (Brasil, Angola) o que só por si revela bem a braveza inútil desta mexida na nossa língua escrita.
    E tenho cá para mim que isto veio servir dois públicos: os lobbys livreiros que assim tinham mais uns contratos para substituir uma imensidão de manuais escolares , e em segundo serve precisamente para as gerações mais novas , cuja escrita já por si se assemelha ao prescrito neste (des)acordo.
    Quanto aos roadpés da televisão não vale a pena a irritação. cheguei rapidamente á conclusão que aquilo é escrito por brasileiros. É que só pode.
    Eu falo por mim, mas continuarei a escrever como sei e como faz mais sentido para mim, salvo quando seja obrigado em contrário. E sim, também me custa quando por obrigação profissional tenho de escrever algum documento aderente a este (des)acordo.
    Abençoados correctores ortográficos.
    Ou não…

  2. Já para não falar dos espetadores. Sim, dos que vêem televisão e preparam espetadas.

  3. Pois… 🙂
    E também já me lembrei que agora as crianças na Igreja são batizadas e não baptizadas. Leia-se o “a” em “ba” fechado e… ba-tizar… Hum… Algum sacramento novo? 🙂

  4. Eu explico o que é um “adotado“:
    É alguém que perdeu ou já não tem dote algum… (A-dotado).
    Tal como em A-normal = que não é normal…

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