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Nascido a 4 de Julho

O império britânico envolvido em guerras dispendiosas que ameaçavam a ruína lançou sobre as colónias americanas uma série de impostos.  Em resposta, os colonos boicotaram os interesses britânicos e responderam com uma declaração de independência. O Império britânico respondeu em conformidade com a sua política colonial e enviou um exército com o objetivo de destruir a milícia local.
A 4 de julho de 1776, os americanos deram início a uma insurreição, recusando-se a viver sob as ordens de um país e um rei estrangeiros. O resultado do conflito foi uma das maiores derrotas militares do império britânico, apenas pela vontade, sacrifício e consciência nacional de um exército composto por camponeses mal equipados e descalços.
A maior potência do planeta foi derrota pela vontade de um povo escolher o seu próprio destino e com o fim último de estabelecer a justiça, promover o bem-estar geral, assegurando a liberdade, a igualdade de oportunidades para todos. A recusa de viver sob as ordens de um governante ou sob a dependência de um sistema de valores e de poder centralizado, tornou-se a base do liberalismo económico e social e em que cada individuo tem igualdade de oportunidades e o seu progresso na vida se baseia nas suas próprias capacidades e não no direito por nascimento.

O imenso território americano era à data dividido e disputado entre britânicos, franceses e espanhóis. Os franceses e britânicos envolveram-se em múltiplos conflitos por territórios, o que acabou na Guerra Franco-Indígena entre 1754-1763. Durante este conflito, formou-se uma forte identidade nacional nas 13 colónias. No final, os colonos americanos, juntamente com os britânicos triunfaram sobre os franceses, no entanto começaram a sentir-se fortes divisões. Os colonos tinham servido os interesses britânicos, não receberam nada em troca. A Inglaterra, por sua vez, adquiriu muitas dívidas por causa da guerra, o que levou a um aumento dos impostos e restringiu os direitos dos colonos, entre outros atos da mesma natureza. Esta situação foi a principal responsável pela destruição das relações entre a colónia e a metrópole.
Os colonos contavam com Benjamin Franklin a marcar presença no Parlamento Britânico defendo que as colónias pagavam impostos excessivos e como os colonos eram cidadãos britânicos, impor leis no Parlamento aos colonos sem representação, era ilegal. Os colonos americanos formaram um Congresso Continental unificado e um governo sombra em cada colónia, embora, de início, com o desejo de permanecer no Império e leais à Coroa.
O governo britânico enviou soldados a Boston, em Massachusetts, para impor a ordem. Em 5 de março de 1770, soldados britânicos dispararam tiros contra a multidão, matando vários colonos. O acontecimento ficou conhecido como Massacre de Boston.
O ponto máximo da rutura deu-se com o boicote americano à taxação britânica do chá, originando um protesto em 16 de dezembro de 1773. Nesse dia, deu-se um episódio que ficou conhecido como Boston Tea Party, quando um grupo de colonos, disfarçados de indígenas, assaltou 3 navios britânicos no porto de Boston atirando a carga ao mar, que e marcou o início da revolta.
O Parlamento aprovou, leis ainda mais duras, a que os colonos deram o nome de “Leis Intoleráveis”. A mais dura delas impunha o encerramento do porto de Boston até que os colonos pagassem pelo chá que haviam destruído. Massachusetts foi colocada sob governo militar. Os representantes das colónias pediram que a Grã-Bretanha revogasse as Leis Intoleráveis, mas o governo britânico mostrando-se inflexivel, reagiu enviando ainda mais tropas.
A revolução inicia-se em 19 de abril de 1775, quando as tropas britânicas partem para Lexington, com o objetivo de invadir o local e confiscar as armas dos rebeldes. Estes, porém, sabendo previamente do ataque, armaram-se e reagiram, derrotando as tropas britânicas. No dia 10 de maio de 1775, George Washington é escolhido para liderar as milicia em uma rebelião rumo à independência.



Em 23 de agosto de 1775, o Rei Jorge declarou ilegal a rebelião das 13 colónias e ordenou que parassem imediatamente ou preparassem para ser esmagados pelas forças britânicas que contariam com cerca de 56 000 soldados, adicionando 50 000 colonos leais à coroa e 35 000  mercenários.
Os representantes das colónias reuniram-se no segundo Congresso da Filadélfia (1775) e Thomas Jefferson,democrata de ideias avançadas, redigiu a Declaração da Independência dos Estados Unidos, promulgada em 4 de julho de 1776, dando um passo irreversível.
Um texto sublime e carregado de simbolismo. Encerrando em si, o melhor que saiu do século XVIII, do pensamento iluminista e a base de uma Constituição (a primeira da História mundial) onde se consignavam os direitos individuais dos cidadãos, se definiam os limites dos poderes do Estado e se estabelecia um sistema de equilíbrio entre os poderes legislativo, judiciário e executivo de modo a impedir a supremacia de qualquer deles.

“Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário a um povo dissolver os laços políticos que o ligavam a outro, e assumir, entre os poderes da Terra, posição igual e separada, a que lhe dão direito as leis da natureza e as do Deus da natureza, o respeito digno para com as opiniões dos homens exige que se declarem as causas que os levam a essa separação.
Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade. Que a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade.”

 Os ingleses, seriam obrigados a travar uma luta longe de casa com carência de provisões, comando desunido, falta de comunicação, população hostil e falta de experiência em combater táticas de guerrilha inovadoras. Por exemplo, os rebeldes usavam a tatica de colocarem atiradores furtivos cujo objetivo era “abater” os oficiais ingleses, levando os soldados a ficarem desnorteados e sem capacidade de reação. Os ingleses, consideravam estas táticas como bárbaras e imprópias do código de guerra e para agravar ainda mais a posição inglesa, a França, Espanha e a Holanda forneceram secretamente, munições, armas e mantimentos aos revolucionários desde o início de 1776.
Os rebeldes apesar da determinação também enfrentavam dificuldades, pois possuíam interesses divergentes e falta de organização e os colonos do Canadá permaneceram fiéis ao império. Os voluntários do exército, alistavam-se por 1 ano, mas abandonavam a luta para cuidar de seus afazeres. Para resolver este problema, foram recrutados oficiais estrangeiros que apesar das dificuldades de se envolverem no conflito, iniciaram uma verdadeira revolução do exército americano, onde se destaca o oficial do exército prussiano Friedrich Wilhelm von Steuben que serviu como general-inspetor e major-general do Exército Continental. Steuben irá ensinar ao Exército Continental as essências do exercício e disciplina militares, ajudando-o e conduzindo-o à vitória. Escreveu o Manual de Exercício da Guerra Revolucionária, um livro que se tornou na base para os exercícios manuais dos Estados Unidos até a Guerra de 1812, e serviu como chefe do Estado-Maior de George Washington nos últimos anos da guerra.
Quando Steuben chegou, encontrou um exército à beira do caos. As milícias eram extremamente desorganizadas, onde imperava a falta de disciplina, a ausência de tática. A vida no acampamento era extremamente desorganizada, onde imperava a ausência das mais básicas condições de higiene, acomodação dos soldados que viviam basicamente no meio da lama e amontoados uns em cima dos outros.
Apesar de não falar inglês, com a sua forte liderança e disciplina, começou por treinar uma companhia de 100 homens, dando-lhes toda a instrução, para que no final do treino, cada um desses homens dessem treinam a mais uma companhia e assim sucessivamente, até que todo o exército estivesse treinado.
Com base na mesma filosofia do rigor prussiano, Steuben introduziu no exército uma filosofia de extrema disciplina, ensinando-lhes técnicas de sobrevivência e como viver em acampamento; introduziu no acampamento regras de higiene, tais como separar as cozinhas das latrinas, vestindo-lhes fardas e elevados padrões de recuperação dos feridos e controlo de epidemias.
Apesar da conquista de Nova Iorque pelos ingleses em 1776 e de outras cidades costeiras, os rebeldes controlavam o interior, onde vivia a maior parte da população. O plano britânico tinha por base a mobilização de milícias leais à Coroa que, no entanto, nunca se verificou. Em 1777, uma invasão a partir do Canadá, acabou com a captura do exército britânico na 2.ª batalha de Saratoga.



Estas batalhas, consideradas as mais importantes, incluídas na Guerra da Revolução americana, foram travadas a norte de Nova Iorque, a 19 de Setembro e 17 de outubro de 1777, acabando com os planos ingleses de dividir e controlar as colónias que se situavam ao longo do rio Hudson. A vitória e captura de cerca de 6 000 soldados ingleses e alemães potenciaram um claro apoio da parte de França e entrar na guerra no início de 1778, com o envio de cerca de 15 000 soldados liderados pelo Marquês de La Fayette, equilibrando as forças. A Espanha com o envio de 8 000 homens e Holanda também entraram em guerra aberta com os britânicos, obrigando-os a travar uma guerra aberta na Europa, Ásia e Caraíbas. O envolvimento espanhol resultou na derrota dos britânicos na Florida. A vitória naval britânica na Batalha de Saintes frustrou um plano francês e espanhol de expulsar os britânicos das Caraíbas, e os preparativos para uma segunda tentativa foram bloqueadas pela declaração de paz. O bloqueio franco-espanhol dos britânicos em Gibraltar, também resultou em derrota.
O inverno de 1777-1778 foi duro para os americanos. George Washington e suas tropas montaram acampamento em Valley Forge, nas proximidades de Filadélfia, e sofreram terrivelmente com a fome e com doenças. No entanto, com a chegada da primavera, surgiram como uma força combatente mais forte, derrotando os britânicos em Monmouth, em Nova Jersey, a 28 de junho de 1778.
O último ano da guerra, a maior parte dos combates deu-se no sul dos Estados Unidos. Em 1780, os britânicos, sob o comando do general Charles Cornwallis, venceram algumas batalhas na Carolina do Sul. Uma vitória naval fora da Baía de Chesapeake deu origem a um cerco, composto por forças combinadas de franceses e exércitos continentais, que forçaram um exército britânico a render-se em Yorktown, Virginia, a 19 de Outubro de 1781. A luta continuou durante 1782, enquanto tinham início as negociações de paz.
A paz e a independência do novo país (constituído pelas 13 colónias da costa atlântica) foram reconhecidas pelo Tratado de Paris (também referido como Tratado de Versalhes) a 3 de setembro de 1783.
Pela primeira vez, uma colónia tornava-se independente por meio de um ato revolucionário e fazia-o após infligir uma pesada derrota militar à maior potência do mundo.
Era o nascimento de uma jovem nação que em pouco mais de 150 anos se iria tornar a maior potência da Terra e jamais na História existiu nação ou império com tal abrangência cultural, política, económica e poder militar. Certamente que pelo caminho cometeu vários erros e no presente ainda os comete, mas são os mesmos erros cometidos por outras nações.
Os Estados Unidos da América não são meramente uma nação composta por retalhos e pelo espólio de renegados de outras nações. Os Estados Unidos distinguem-se das restantes nações da Terra pelo seu espírito eterno não-conformista, pela sua diversidade social, o desejo de vencer sempre, do insistente sonhar em voz alta e sem limitações.

Fontes

Johnson, Paul M. A History of the American People. [S.l.]: Harper Perennial,

1776 – A História dos Homens que Lutaram Pela Independência dos Estados Unidos.  Mccullough, David

Black Jeremy. War for America: The Fight for Independence, 1775–1783. 2001. Analysis from a noted British military historian.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_da_Independ%C3%AAncia_dos_Estados_Unidos

Savas, Theodore P. and Dameron, J. David. A Guide to the Battles of the American Revolution.New York: Savas Beatie LLC, 2006. ISBN 1-932714-12-X.

About João Fernandes

Licenciado em Relações Internacionais; Business Manager da Webmind; Blogger e múltiplos interesses nas áreas das ciências, tecnologia, História e política. Trabalha como freelancer em websites e publicidade.

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